Antônio Gois
PUBLICIDADE
Antônio Gois

Um espaço para debater educação

Informações da coluna

Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.


O governo paulista publicou, há duas semanas, uma resolução instituindo a avaliação de desempenho de diretores. Os indicadores seriam a frequência escolar, participação de alunos em avaliações bimestrais, uso de plataformas digitais e o índice de vulnerabilidade da escola. Notas insatisfatórias poderão levar à remoção do cargo, transferência ou recapacitação.

É normal que qualquer proposta nessa linha gere resistência. Uma questão fundamental, porém, é perguntar se isso beneficiará os estudantes. Para quem busca julgamentos simples e certeiros, será frustrante constatar que a resposta mais precisa - como em quase todos os temas de alta complexidade na educação – é... depende.

Antes de tratar da avaliação de diretores, vale desenvolver o argumento a partir de outro exemplo bastante estudado: o número de alunos por sala. Por ser uma decisão de alto impacto financeiro e pedagógico, vários sistemas educacionais ditam regras a respeito. No Brasil, um parecer do Conselho Nacional de Educação estabeleceu como referência para os anos finais do fundamental, por exemplo, um limite de 30 por sala. Num colégio de elite, com regras rígidas de ingresso, um aumento de 30 para 40 provavelmente terá pouco efeito. Já numa escola que atende alunos vulneráveis, que necessitam de maior atenção individual, 30 pode ser já um patamar que inviabilize um trabalho de qualidade.

Voltando à avaliação de diretores, no Brasil, por ser incomum, não há um conjunto amplo de estudos que permitam estimar impactos da medida na aprendizagem. Em outros países, porém, não é raro que gestores e professores sejam submetidos a algum processo de avaliação de desempenho. A literatura acadêmica no tópico, em geral, mostra que sistemas baseados apenas em controle, punição ou incentivos financeiros fracassam ou trazem resultados limitados, principalmente se não forem acompanhados de estratégias robustas de formação e apoio.

Outro desafio nada trivial é estabelecer um sistema que seja considerado justo, outra medida que a literatura aponta como importante. No caso de São Paulo, por exemplo, o critério de maior peso na avaliação é a infrequência escolar. Sem dúvida, é algo crucial, só que nem todas as causas dependem diretamente do trabalho do diretor. Por exemplo, o principal motivo citado pelos estudantes para abandonarem os estudos é a necessidade de trabalhar, fator que extrapola o que pode ser feito dentro da escola.

Mesmo no caso das ações que dependem do que acontece na escola, o governo tem enorme responsabilidade também em criar as condições de trabalho para viabilizar a atuação dos gestores e professores. Outro ponto a ser questionado no caso de São Paulo é a inclusão do uso de plataformas digitais como critério, pois não há evidência de que elas elevariam a aprendizagem.

Num dos capítulos do livro “The Principal” (“O Diretor”), Michael Fullan - um dos especialistas mais citados em estudos de gestão escolar no mundo e um dos idealizadores da bem-sucedida reforma educacional de Ontario (Canadá) – alerta para o risco de criar sistemas de avaliação profissional baseados apenas – ou principalmente – em punição e controle: “É preciso desenvolver a capacidade das pessoas de atingir aquele resultado. Pressão extrema sem criar essa capacidade resulta apenas em comportamento disfuncional”.

Mais recente Próxima O longo caminho do PNE