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Por Jornal Nacional


Pesquisa alerta: 40% dos estudantes brasileiros do ensino básico correm o risco de abandonar os estudos

Pesquisa alerta: 40% dos estudantes brasileiros do ensino básico correm o risco de abandonar os estudos

O número de alunos do ensino básico que correm o risco de abandonar os estudos por causa da pandemia aumentou. Estudar longe da escola não é nada fácil. “Tem distrações, pessoas conversando, tirando a sua atenção, pedindo coisas”, afirma a estudante Laila da Silva.

“Para ele era como se fosse uma tortura ter aula online, porque ele notava que ele não estava aprendendo nada”, diz a pescadora Kelen Borges Machado, mãe do menino Miguel.

Laila, que faz curso técnico de nutrição em São Paulo, tem ainda outra dificuldade:

“A rede wi-fi cai a todo momento, é bem difícil essa questão”, conta.

Miguel resume assim o ano de 2020 inteiro de ensino remoto: ‘O segundo ano era horroroso. Não gostava do segundo ano”.

Na casa da pescadora Kelen, na cidade gaúcha de Rio Grande, a rotina foi de aulas online uma vez por semana e muita tarefa que a escola mandava em folhas de papel.

“Ele precisava daquele apoio para aprender realmente a caligrafia, para aprender a ler. E aí eu tentava ajudar da melhor maneira possível”, conta a mãe do Miguel.

Os problemas no ensino são os mesmos no país há um ano e três meses. E, segundo a pesquisa do Datafolha, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Itaú Social e a Fundação Lemann, oito de cada dez estudantes da educação básico continuam dependentes do ensino remoto, por causa das medidas de restrição.

E o aprendizado não é o mesmo da escola.

“Basta a gente se colocar no lugar de uma criança ou de um adolescente que recebe em PDF algo para copiar. É muito diferente daquele estudante que está realizando um projeto junto com seus colegas. A escola cumpre um papel fundamental no desenvolvimento integral das crianças, adolescentes e jovens”, diz Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento Itaú.

Miguel é um exemplo.

“Para ele o fato de não ter a aula, de não estar na escola, desmotivava ele completamente. Ele não queria nem brincar”, conta Kelen.

Se em maio de 2020, 26% dos alunos em média se sentiam desmotivados e os pais tinham medo de que eles desistissem dos estudos, agora 40% pensam dessa forma. O número é ainda maior nos lares mais pobres e onde os responsáveis têm menor escolaridade.

Os relatos dos pais e responsáveis soam como alerta. Na prática, são um sinal de que, diante das dificuldades com o ensino remoto, boa parte dos estudantes já perdeu o vínculo com os estudos. E o impacto desse comportamento pode comprometer os planos de milhões de famílias brasileiras e do país nos próximos anos.

Os danos são visíveis nos alunos em fase de alfabetização.

“Se eu não me alfabetizo bem, todo o resto da minha escolaridade vai ficar prejudicado. Os pais dizem que percebem que ou eles estão estagnados, ou até andaram para trás em relação ao domínio que eles tinham da escrita antes da pandemia”, diz o diretor-executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne.

Já a ameaça da evasão escolar em massa no ensino médio põe em risco o futuro dos jovens.

“Isso vai diminuir as habilidades, o conhecimento desse jovem. E ele vai ter mais dificuldade para se inserir produtivamente no mercado de trabalho. O crescimento da produtividade é essencial porque é isso que permite que a renda cresça, que as gerações fiquem cada vez mais ricas, ou seja, que o país como um todo cresça”, diz Naercio Menezes Filho, economista e professor do Insper.

Todos concordam que será preciso um grande esforço para que a retomada das aulas presenciais comece a recuperar o tempo perdido.

“A gente vai precisar mobilizar toda a sociedade brasileira. Mais do que nunca, a gente precisa garantir que a gente vai ter um plano de recuperação da educação que coloque a educação no centro da nossa agenda”, diz Denis Mizne.

“Os governos municipais, estaduais e o governo federal todos têm que se unir para a gente conseguir recuperar o aprendizado, a saúde mental e as habilidades socioemocionais dos jovens”, afirma Naercio Menezes.

Miguel, que está voltando a ter aulas presenciais, garante: “Agora que tem o colégio, melhorou muito. Foi a melhor coisa que aconteceu”.

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