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Aulas diversificadas dinamizam rotina do ensino em tempo integral

Colégios usam tempo extra para práticas que estimulam criatividade, pensamento crítico e contato com tecnologia

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Rio de Janeiro

Escolas de ensino em tempo integral apostam em disciplinas que trabalham habilidades socioemocionais, tecnologia e em atividades fora da sala de aula para tornar a rotina do aluno mais dinâmica —e balancear o aumento da carga horária de matérias tradicionais.

Na Escola Vereda, que tem três unidades na Grande São Paulo, disciplinas da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) têm a carga horária estendida. Do primeiro ao nono ano, por exemplo, são cinco horas semanais de inglês, e as aulas de filosofia começam a partir do sexto ano.

A BNCC torna o ensino de inglês obrigatório apenas do sexto ano em diante, e o de filosofia, no ensino médio.

Alunos do 1º ano da Escola Vereda durante aula de Habilidades para a Vida, que integra o currículo do colégio
Alunos do 1º ano da Escola Vereda durante aula de Habilidades para a Vida, que integra o currículo do colégio - Jardiel Carvalho/Folhapress

Esse quadro de aulas é diversificado com matérias que incluem práticas de mindfulness e programação.

De acordo com Jefferson Mello, diretor pedagógico da escola, a grade é pensada para tornar a rotina do aluno, de cerca de oito horas, menos cansativa. Para isso, disciplinas tradicionais, como matemática e português, são intercaladas com outras mais dinâmicas.

O colégio também aposta em práticas em laboratórios de ciência, quadras esportivas e estúdio de gravação.

"Quando os alunos voltaram ao ensino presencial depois da pandemia, eles tinham outras necessidades. Oferecemos essa grade com metodologias dinâmicas para que não seja maçante e para o estudante não ficar só olhando o conteúdo."

O mesmo ocorre na Escola Mais, com sete unidades em São Paulo, onde os estudantes transitam por diferentes espaços ao longo do dia. O ensino em tempo integral é implementado em todos os segmentos, das 7h30 às 15h30.

Os alunos também podem participar de atividades extras até as 19h sem custos extras —como clube de leitura e reforço escolar.

Segundo Marina Castellani, diretora pedagógica, o horário estendido é tanto uma conveniência para as famílias quanto uma forma de manter o aluno mais envolvido com a escola, já que ele pode socializar com colegas e desenvolver habilidades fora da sala de aula.

Leonardo Rosa, pesquisador do Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), afirma que o ensino em tempo integral permite maior engajamento na educação.

"Atividades que trabalham o lado artístico, científico, físico e social do estudante acabam oferecendo diversas possibilidades além do conteúdo escolar para que ele sinta que a escola é um espaço de pertencimento", diz Rosa, do Ieps.

O especialista foi um dos autores de um estudo publicado em abril, que fez parte de sua pesquisa de doutorado na Universidade Stanford (EUA).

O estudo avaliou o ensino em tempo integral em escolas públicas de Pernambuco e reuniu dados de 2010 a 2017 sobre a trajetória de estudantes. A conclusão foi de que, após a expansão da carga horária de matemática e português no ensino médio, os alunos tiveram uma melhora de desempenho equivalente a um ano e três meses de aprendizagem.

Desde 2020, o Colégio São Luís trabalha apenas com ensino integral. Para abarcar o novo modelo, mudou a sede para um espaço maior, na Vila Mariana (zona sul), com complexo esportivo e novos laboratórios.

Algumas das disciplinas que fazem parte do currículo obrigatório em diferentes turmas são natação, projeto de vida e Stem (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Nestas últimas, alunos desenvolvem projetos interdisciplinares com foco em letramento científico e tecnológico.

Os estudantes participam também de projetos de resolução de problemas internos e externos, que podem ter relação com educação ambiental e vivência coletiva.

"Oferecemos aos alunos oportunidades para se desenvolver academicamente, mas faz parte formar uma pessoa consciente", diz Beatriz Gallian, diretora pedagógica da escola.

Lígia Coelho, professora da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e coordenadora do núcleo de estudos Tempos, Espaços e Educação Integral, diz que o ensino em tempo integral com atividades que estimulam pensamento crítico e criativo pode ajudar os alunos em projetos da vida futura.

No Colégio Harmonia, em São Bernardo do Campo, os núcleos eletivos, um conjunto de disciplinas optativas para alunos do sexto ao nono ano, complementam a grade horária estendida, que vai das 7h30 às 17h.

Aula de taiko, instrumento japonês, no Colégio Harmonia, em São Bernardo do Campo
Aula de taiko, instrumento japonês, no Colégio Harmonia, em São Bernardo do Campo - Jardiel Carvalho/Folhapress

Inspirada nos itinerários formativos do novo ensino médio, a instituição oferece atividades artísticas, científicas e tecnológicas. Edilson Bertucci, diretor pedagógico, diz que o objetivo é ajudar alunos a direcionarem seus interesses antes de ingressarem nos anos finais da escola.

O colégio, que foi fundado por descendentes de japoneses, aposta ainda no ensino de idiomas. Do segundo ao nono ano do ensino fundamental, aulas de inglês, espanhol e japonês fazem parte da matriz curricular obrigatória.

Para o ensino médio, o período integral ocorre em apenas dois dias da semana. No restante, estudantes podem participar de aulas focadas no vestibular, sem custo extra.

O diretor diz que a flexibilidade do horário é importante para os adolescentes, que, segundo ele, querem ser independentes e ficam mais cansados da jornada extensa.

Lidar com a exaustão e com a monotonia é um dos desafios do ensino em tempo integral. Por isso, Rosa, do Ieps, diz que é preciso oferecer alternativas que acolham as necessidades do estudante, o que inclui tempo para descanso e boa alimentação.

As disciplinas diversificadas, que são iniciativas mais recentes, podem ser outro ponto que carece de atenção. Para Ligia Martha, professora da pós-graduação em educação da Unirio, em muitos casos, professores responsáveis por essas aulas não receberam a formação adequada para fundamentar esses projetos.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto dizia que Leonardo Rosa era pesquisador do Inpser. Ele é pesquisador do Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde).

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