Funcionária de empresa terceirizada que atua em escola diz que está sem salário
Funcionários de empresas terceirizadas que prestam serviço para o governo de Pernambuco na rede estadual de educação reduziram o expediente de trabalho por causa do atraso de salários. O problema também atinge os alunos, que estão sendo obrigados a sair mais cedo de escolas (veja vídeo acima).
Segundo o sindicato que representa os terceirizados, o problema afeta cerca de 20 mil trabalhadores. A entidade afirma que os salários e alguns benefícios deixaram de ser repassados há quase dois meses pelas empresas que mantêm contratos com o governo.
O atraso dos salários dos terceirizados foi denunciado em 10 de fevereiro, antes do carnaval. O Sindicato dos Trabalhadores de Asseio e Conservação (STEALMOAIC) repassou as informações ao Ministério Público do Trabalho em Pernambuco (MPT-PE).
Na segunda (26), a entidade entrou com um pedido de reunião de urgência com a governadora Raquel Lyra (PSDB) para tratar do assunto. Até esta quinta (2), a solicitação não tinha sido atendida.
EREM Professor Mardônio de Andrade Lima Coelho fica no bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
Nesta quinta, uma equipe da TV Globo foi em algumas escolas da rede estadual para falar com trabalhadores e estudantes e descobriu que a rotina das instituições mudou por causa do atraso de quase dois meses no pagamento dos vencimentos.
A Escola Estadual de Referência em Ensino Médio Professor Mardônio de Andrade Lima Coelho, em Água Fria, Zona Norte do Recife, está sem porteiro ou auxiliar de serviços gerais para fazer a limpeza do turno da tarde.
A TV Globo conversou com dois trabalhadores terceirizados. Pedindo para não ter a identidade revelada, eles falaram sobre as dificuldades que estão enfrentando com a falta de pagamento.
Pai de três filhos, um auxiliar de serviços gerais da escola afirmou que é a único responsável pelo sustento da família e que, no momento, conta com a ajuda da mãe, que é empregada doméstica.
"Infelizmente a gente tem que continuar trabalhando mesmo assim. Tenho três filhos e estou desesperado .Não sei o que fazer", disse ele.
Auxiliar de serviços gerais está há dois meses sem receber — Foto: Reprodução/TV Globo
Outra funcionária da limpeza disse que o salário que recebe está fazendo muita falta em casa. Segundo a mulher, o dinheiro que o marido ganha não está sendo o suficiente para pagar as dívidas.
Outra reclamação frequente entre os trabalhadores é a falta de comunicação por parte do governo estadual.
"Se a gente sai para trabalhar, a gente quer o nosso pão, né? Infelizmente ninguém dá a resposta que a gente precisa", afirmou a funcionária.
Para os alunos, o problema vem se arrastando desde antes do carnaval. O estudante Gleybson Miguel Santos da Paz afirmou que os estudantes estão largando mais cedo desde a segunda semana de aula do ano letivo.
Para a auxiliar de serviços gerais, está sendo difícil pagar as dívidas e sustentar a casa sem o salário — Foto: Reprodução/TV Globo
"Primeiro eles disseram que era por causa do carnaval; agora dizem que é porque os funcionários da limpeza não estão recebendo", disse.
Um dos maiores impactos do problema notados pelos estudantes é a fatal de limpeza dos ambientes.
João Gabriel Marinho, também aluno, lamentou como os banheiros ficam inutilizáveis quando os funcionários vão embora.
"Quando a gente termina o almoço, vem a sujeira. A gente fica impossibilitado de usar o banheiro. Ninguém vai usar um banheiro sujo", disse João.
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Sindicato
Rinaldo Júnior é presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Asseio e Conservação de Pernambuco e Força Sindical — Foto: Reprodução/ TV Globo
Presidente da Força Sindical em Pernambuco, Rinaldo Júnior, cobrou, nesta quinta, uma resposta do governo do estado.
"O estado não se manifesta e no meio fica o trabalhador, sendo escravizado, passando por dificuldades", afirmou o presidente da Força Sindical em Pernambuco, Rinaldo Júnior.
Segundo a Força Sindical, as empresas contratadas não receberam do governo do estado.
No entanto, de acordo com a Lei Nº 8.666/93, as empresas não podem usar essa justificativa para não pagar os funcionários.
Pela lei, a contratação de empresas terceirizadas deve ser feita sempre em relação à prestação do serviço e não ao fornecimento de mão-de-obra.
O que diz o estado
Nesta quinta, a equipe da TV Globo foi até o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo, no Centro do Recife, para ouvir as autoridades sobre o atraso de salários dos trabalhadores terceirizados.
Depois de esperar uma entrevista, ao longo da manhã, recebeu uma nota da assessoria de comunicação.
No comunicado, o estado disse que:
- Os pagamentos estão acontecendo dentro da normalidade;
- Determinou abertura de processo administrativo para o caso de empresas que descumpram contratos, incluindo pagamentos em dia de salários e benefícios, como vale-transporte;
- As três empresas contratadas receberam, mais de R$ 10 milhões;
- O estado tem 90 dias para pagar pelos serviços contratados;
- Os prazos estão sendo respeitados;
- Recebeu dívida de R$ 950 milhões do governo anterior;
- No primeiro trimestre, pagou R$ 620 milhões.
Empresas
A TV Globo procurou as empresas contratadas pelo governo para prestar serviços para que elas expliquem o que está acontecendo.
Até a última atualização desta reportagem, a equipe não conseguiu contato com a Maranata. A TV Globo enviou pedido de informação também para a Topus e BBC, mas não obteve respostas.