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Atlas da Violência: ‘Situação brasileira é de genocídio da população negra’

Estudo do Ipea revela que entre 2005 e 2015 a taxa de homicídios entre brancos caiu 12,2%. Já entre os negros, esse número cresceu 18,2%

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Entre mulheres, o número de homicídios aumentou em 22%, já entre brancas, reduziu 7,4%

São Paulo – A violência no país vem caminhando no sentido de ampliar a desigualdade entre brancos e negros. Entre 2005 e 2015, a taxa de homicídios entre brancos caiu 12,2%. Já entre os negros, este número cresceu 18,2%. Os dados foram apresentados ontem (5) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por meio do estudo Atlas da Violência 2017.

Os dados foram reunidos pelo Ipea em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e ainda revelam que um cidadão negro possui 23,5% mais risco de ser assassinado em comparação com os demais brasileiros. “Esse volume de óbitos, e principalmente a discrepância entre a queda na morte de brancos e aumento nos assassinatos de negros, deixa clara que a situação brasileira é de um genocídio da população negra”, afirma Júlio Cezar de Andrade, diretor do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (Cress-SP).

Negros, especialmente jovens, também são os principais alvos da violência policial, incluindo a desigualdade na política de encarceramento no país. Em São Paulo, por exemplo, 30% dos habitantes são negros. Já entre os presos, este grupo representa a maioria: 54%. “Genocídio promovido por um Estado que é ausente em questões básicas como acesso à saúde e educação, mas extremamente punitivo, trazendo uma força policial que já aplica a pena de morte em uma guerra às drogas que não pode ser vencida e vitima anualmente milhares de jovens”, completa Andrade.

Segundo ele, os dados são alarmantes e representam o racismo institucional, além da desigualdade profundamente enraizada no país. “A diretoria do Cress-SP reafirma o compromisso na defesa dos direitos humanos e combate ao racismo. Essa é uma dimensão importante para a atuação profissional dos assistentes sociais e para a luta de classes”, disse sobre a necessidade de ações para reverter “essa realidade nefasta, que coloca a população negra à margem da sociedade e, mais do que isso, ceifa milhares de vidas”, acrescenta.

A taxa de mortes entre mulheres segue a mesma lógica inversamente proporcional entre negras e brancas. No período analisado pelos órgãos, o índice de mortalidade entre negras aumentou em 22%, já entre brancas, esse número reduziu em 7,4%.

Em termos gerais, o número de homicídios no Brasil oscila entre 50 mil, nos primeiros anos, a 60 mil, nos anos mais recentes. Em 2015, último ano do ciclo analisado, foram 59.080 assassinatos, o que representa 28,9 mortos para cada grupo de 100 mil cidadãos. De acordo com o estudo, o aumento progressivo registrado “revela, além da naturalização no fenômeno, um descompromisso por parte de autoridades nos níveis federal, estadual e municipal com a complexa agenda da segurança pública”.

De acordo com o estudo, o alto índice de assassinatos no país impacta negativamente no desenvolvimento econômico. “Um dado emblemático que bem caracteriza a questão é a participação do homicídio como causa de mortalidade da juventude masculina; entre 15 e 19 anos, o indicador atinge a incrível marca dos 53% do total de óbitos”, revela.

A diferença nos dados entre as unidades da federação não acompanham necessariamente uma lógica regional. “Todos os estados com crescimento superior a 100% nas taxas de homicídios pertencem ao Norte e Nordeste. Por outro lado, é interessante notar que dentre os estados que apresentaram queda há aí representantes de todas as regiões.” Pernambuco, por exemplo, viu a taxa de homicídios cair em 36%, e Alagoas registrou redução de 21,8%.

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