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Brasil

Atitudes positivas promovem desenvolvimento educacional

Especialistas do Brasil e do exterior trocam experiências no Educação 360 sobre como estabelecer um ensino equitativo e sustentável
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Eric Hanushek, Antonio Gois e Priscila Cruz no painel "Educação já: o que nossas escolas tem a ver com o crescimento da economia?" Foto: Fabio Cordeiro
Eric Hanushek, Antonio Gois e Priscila Cruz no painel "Educação já: o que nossas escolas tem a ver com o crescimento da economia?" Foto: Fabio Cordeiro

Conviver com pessoas que vivenciam a educação diariamente e são capazes de transformar comunidades inteiras, com práticas sustentáveis que promovem o respeito e a tolerância. Isso foi possível durante os dois dias do Encontro Internacional Educação 360, em que alunos, estudiosos, acadêmicos e pesquisadores puderam trocar experiências e conhecimentos em prol do desenvolvimento cultural e social, especialmente dos menos favorecidos. Realizado nos dias 24 e 25 de setembro, na cidade do Rio de Janeiro, o evento foi promovido pelos jornais O GLOBO e EXTRA, com patrocínio do Sesi, Fundação Telefônica, Fundação Itaú Social, Instituto Unibanco e Colégio pH, apoio da Fundação Cesgranrio e apoio institucional da TV Globo, Canal Futura, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Unesco, Unicef e Todos pela Educação.

O debate “Diversidade se aprende (e pratica) na escola” do Encontro Internacional Educação 360 reuniu Rodrigo Mendes, fundador e superintendente do Instituto Rodrigo Mendes; Megg Rayrara de Oliveira, professora, doutora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ativista de movimentos sociais de negras e negros e travestis e transexuais; e as adolescentes Alana Lanes, aluna do Colégio Estadual Ubiratan Reis Barbosa, e Daniela Martins, aluna do Colégio pH.

— Temos que ter a consciência de que o acolhimento das diferenças não se dá de forma espontânea na sociedade. A inércia que temos, pautada pela nossa formação, pode piorar o nosso nível de desigualdade. É preciso reconhecer os nossos próprios preconceitos e tentar mudar atitudes — aponta Rodrigo.

Na mesa “Barefoot College: uma escola para ‘Pés descalços’”, o público teve a oportunidade de conhecer uma das experiências mais inovadoras do mundo. Fundada em 1972, no Rajastão, na Índia, a Barefoot College é uma ONG que trabalha em comunidades, desenvolvendo soluções em educação, formação profissional, direitos, desenvolvimento sustentável e saúde, tornando autossuficientes e autossustentáveis as populações marginalizadas.

Seu fundador, Sanjit “Bunker” Roy, e o economista e superintendente executivo do Instituto Unibanco , Ricardo Henriques, debateram o resultado que experiências como essas trazem para o mundo.

– Com a Barefoot, redefinimos o profissionalismo. O analfabeto do Século XXI é aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender – afirmou Roy.

A mesa de debate “Onde Nascem os Fortes” reuniu três especialistas que ajudaram a transformar a realidade de suas cidades através de projetos sociais. Jorge Melguizo, jornalista e ex-secretário de Cultura Cidadã e Desenvolvimento Social de Medellín, na Colômbia, Murilo Cavalcanti, secretário de Segurança Urbana do Recife, e Jaílson de Souza e Silva, professor e fundador do Observatório de Favelas e do Instituto Maria e João Aleixo, no Rio de Janeiro, mostraram como políticas de inclusão podem potencializar o desenvolvimento de cidadãos e abrir caminhos para que jovens tenham oportunidades de crescimento educacional, cultural e profissional.

O painel “Quebrando tabus e mitos: com a palavra, a política das cotas” trouxe para o Educação 360 a discussão sobre a efetividade de políticas afirmativas aplicadas há mais de uma década nas principais universidades do país.

Naércio Menezes, professor e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, Gersem José, professor indígena, filósofo, mestre e doutor em Antropologia Social, e Patrícia Santos, pedagoga e professora da Uerj, trouxeram resultados e análises do impacto das cotas no ensino superior.

– Ao contrário do que se pensava, as cotas diminuem muito pouco a nota média dos alunos ingressantes. E os alunos cotistas têm desempenho similar ao dos não cotistas, porque têm mais habilidades socioemocionais. Tiveram que superar muitos obstáculos na vida e conseguem superar possíveis deficiências de conteúdo – aponta Naércio.

A dicotomia entre ensino técnico e universidade ganhou ares de polêmica com a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Há quem acredite que a proposta abre possibilidade de integrar a formação geral e técnica, enquanto outros acusam o novo modelo de reforçar a exclusão e as desigualdades. O tema foi discutido na palestra “Universidade ou Ensino Técnico: Antagonistas ou Aliados?”.

Três gerações com um ponto em comum sobre a arte de ensinar: a importância do acolhimento ao aluno e o respeito à sua individualidade. Esta foi a tônica do encontro “Uma conversa entre gerações”, com os docentes Diva Guimarães, de 78 anos, Camila Stefaneli, 40, e Diego Knack, 27, e mediação do jornalista Mauro Ventura.

No bate-papo, Diva, formada em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e cuja trajetória de vida foi marcada pela discriminação, enfatizou que entender o estudante tem papel transformador no seu desenvolvimento.

– Quando o aluno se sente respeitado, ele se esforça para ser uma pessoa de bem. Eu quis ser professora para não deixar que os meus alunos sofressem o mesmo que sofri. Quando acontecia de um deles me procurar reclamando por ser alvo de preconceito, por ser pobre ou negro, por exemplo, dizia: ‘Isso também aconteceu comigo. Estude mais, tire a nota mais alta.’ Isto é acolher e acreditar – disse.

A Unesco brasil reuniu no educação 360 especialistas e gestores internacionais e brasileiros no painel “currículo de qualidade: educação para o desenvolvimento equitativo e sustentável”. O debate contou com o presidente do Conselho Nacional De Educação (CNE), Eduardo Deschamps; o consultor do Instituto de Educação da Unesco na Argentina, Hugo Labate; a diretora-executiva da Fundacion Educacion 2020, Alejandra Arratia; o secretário municipal de Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, e o especialista sênior em Educação da Unesco, Paolo Fontani, e mediação da coordenadora de Educação da Unesco Brasil, Rebeca Otero.

– Os currículos devem se adaptar às novas tecnologias e ter dupla função, de cidadania e trabalho – disse Paolo Fontani.

As fake news (notícias falsas) passaram a ser discutidas nas salas de aula. O assunto foi comentado por Thiago Braga, professor do colégio pH; Eugênio Bucci, jornalista e professor da USP; Claudio Sassaki, CEO da Geekie, e Lucilene Varandas, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental CEU Casa Blanca (SP).

Na escola paulistana, os alunos são estimulados a questionar a veracidade das informações. Eles são alertados sobre a importância de apurar se a fonte é confiável; verificar se a mensagem tem referência e analisar a linguagem.

– Nem tudo que circula na internet é neutro – disse Lucilene.

Veja a visão de alguns especialistas que participaram do Educação 360 :

ERIC HANUSHEK, Economista e PhD em Ciências Econômicas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT)

“A Educação é a resposta para o desenvolvimento econômico, pois pode promover crescimento sustentável e igualdade, além de eliminar a pobreza. É preciso ter planos estratégicos e compromissos a longo prazo. Se o Brasil for capaz de investir nessa área, a economia vai crescer. Em uma projeção, quando o país conseguir dar uma educação de qualidade a todos os alunos do ensino básico, o Produto Interno Bruto (PIB) terá um aumento de 16% por ano e os salários dos brasileiros crescerão cerca de 30%. Isso se refletirá no comércio interno e externo, e dará projeção internacional ao Brasil”

PRISCILA CRUZ, Presidente-executiva e co-fundadora do movimento Todos Pela Educação

“Historicamente, o Brasil sempre apresentou atraso na Educação. Na década de 1950, o país tinha 49% da população alfabetizada, enquanto nos Estados Unidos a taxa era de 97% e no Chile, de 79%. É preciso dar centralidade à Educação e corrigir as falhas, com mudanças no sistema, e não apenas injetar verbas ou fazer reformas isoladas. A boa notícia é que com os erros, temos dados para nortear a criação de políticas de base. Além disso, é importante observar que uma política impacta na outra: para alfabetizar uma criança é preciso investir na capacitação do professor. Temos que cobrar do governo as ações.”

DAVID EVANS, Economista-líder do Banco Mundial com foco em educação, saúde e proteção social

“Embora dados revelem que o número de crianças presentes em escolas aumentou, há uma crise de aprendizagem mundial. Os nossos relatórios mostram que não adianta só aumentar salários de docentes ou dar laptops aos alunos. No Brasil, verificamos que as crianças passam muitos anos nas salas sem alcançar conhecimento eficaz. Estar na escola não se traduz em aprendizagem. Aqui estamos perdendo anos pela falta de um sistema educativo. A Educação tem grande potencial para gerar empregabilidade e crescimento econômico e reduzir a pobreza, se houver investimento em crianças, docentes, insumos e gestão escolar.”

SANJIT “BUNKER” ROY, Fundador da Barefoot College, ativista social e educador

“A escola é onde você aprende a ler e escrever. Educação é o que você aprende na família, na sua comunidade. Cometemos uma injustiça com analfabetos, porque os rotulamos como aqueles que não têm educação. E isso não é verdade. As mulheres analfabetas que conhecemos na Barefoot College, por exemplo, compartilham aprendizado com os outros sem saber ler ou escrever. Com elas, aprendemos a ter compaixão e a ser tolerantes, generosos e pacientes. Infelizmente, vários colegas que tive ao longo da vida são bilionários, mas não sabem doar, não têm generosidade. É essa a formação que queremos para os nossos filhos?”

JORGE MELGUIZO, Jornalista e ex-secretário de Cultura Cidadã e Desenvolvimento Social de Medellín

“Faz muitos anos que Medellín não é mais sinônimo de violência, narcotráfico e Pablo Escobar. Agora, ela é referência de cultura, educação, inovação e transformação. Temos decisões políticas de educação e cultura como fundamento para a transformação. Nos bairros de mais pobreza, não há mais ações de pacificação, que não servem absolutamente para nada e só trazem dor e horror. Quando a única presença do Estado nos bairros é a militarização, estamos vitimizando esses bairros que sofrem com a violência. Eu venho de um bairro violento. Somos vítimas e as vítimas precisam do abraço permanente da sociedade e do Estado.”

NUNO CRATO, Professor, ex-ministro da Educação e Ciência de Portugal

“O grande segredo de Portugal foi dar mais atenção aos resultados das avaliações internacionais, tanto das escolas quanto dos alunos. Tanto que ampliamos exames para 4º e 6º anos. Além disso, passamos a atuar com currículos mais exigentes. A exigência não é inimiga e foi com ela que chegamos a um nível melhor. Hoje, superamos em Matemática, por exemplo, a Finlândia, que é uma referência, ou Luxemburgo. E outra coisa importante: não só os alunos do topo melhoraram. Os da base também. Desde o último Pisa, em 2015, há crescimento contínuo do país. A Educação é o esforço de um país.”

PATRÍCIA SANTOS, Pedagoga e professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj)

“A política de cotas nos faz pensar no racismo epistêmico e no quanto ainda matamos formas de conhecimentos que fogem do que é considerado padrão. Pensar em cotas não significa pensar apenas em lugar de pobre ou rico, de preto ou branco, mas em como se constitui equidade para as formas de relações historicamente colonialistas, escravocratas e excludentes. É preciso sensibilizar aqueles que ocupam lugares de privilégios. Temos que pensar também nos sujeitos das cotas. Naqueles configurados, nos números e nos desafios de um cotidiano para entrar em um sistema para o qual, inicialmente, não foram convidados.”

RAFAEL LUCCHESI, Diretor-superintendente do SESI

“Nós estamos diante da quarta revolução industrial, em que a vida humana vai se transformar significativamente. Mais de 50% das atividades de trabalho poderão ser automatizadas. O emprego vai continuar existindo, só que vai se transformar, como aconteceu nas outras revoluções industriais. Precisamos ter no Brasil uma percepção da importância de mudarmos a matriz educacional. Temos que estar abertos a novos olhares com relação ao sistema educacional. E com relação à educação profissional, é claro que deve-se ser mais f lexível ainda, porque esta vai andar na fronteira das trajetórias tecnológicas.”