Por g1 SP e TV Globo — São Paulo


  • Agressor tinha 13 anos e era aluno do oitavo ano na escola. Ele foi desarmado por professoras, apreendido por policiais e levado para a delegacia.

  • A professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos, teve uma parada cardíaca após ser atacada e acabou morrendo no Hospital Universitário, da USP.

  • Governador de SP, Tarcisio de Freitas, e prefeito da cidade de SP, Ricardo Nunes, postaram mensagens em suas redes sociais lamentando o ataque. Freitas disse que estuda colocar policiais nas escolas permanentemente.

Altar montado pelos alunos com cruzes, flores e mensagens em frente escola que sofreu ataque na Zona Oeste de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

O ataque a escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, Zona Oeste da capital paulista, completou uma semana nesta segunda-feira (3).

No último dia 27, a professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos, morreu e outras quatro pessoas ficaram feridas após serem esfaqueadas por um aluno de 13 anos. O agressor, que estudava no oitavo ano na escola, foi desarmado por professoras e está internado em uma unidade da Fundação Casa.

A polícia investiga a participação de outros dois alunos no ataque e a Justiça concedeu a quebra de sigilo do celular, do computador e do videogame Xbox do adolescente que matou Elisabete. (leia mais abaixo)

As aulas na escola têm previsão de retornar no próximo dia 10. Na porta da instituição, que segue fechada, permanece o clima de tristeza. Ainda é possível ver o altar montado pelos alunos em homenagem à docente. Também colocaram cruzes, flores, mensagens e um cartaz com a mensagem "livros sim, armas não!".

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Cartaz com a mensagem "livros sim, armas não!" em frente escola que sofreu ataque na Zona Oeste de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

A professora Beth não tinha completado nem dois meses de trabalho na Escola Estadual Thomazia Montoro quando foi esfaqueada pelas costas por um aluno na sala de aula. O assassino também estava na escola havia pouco tempo, desde o início de março.

Na escola anterior, o comportamento agressivo e as ameaças de atos violentos foram notados e preocuparam professores e pais. A direção registrou um boletim de ocorrência.

Com poucos dias na nova escola, ele brigou com os novos colegas. Uma dessas brigas, foi Beth quem separou. A diretora chamou o adolescente para uma conversa, que estava agendada para a manhã da segunda-feira, o dia do ataque.

Cartaz em homenagem à professora Elizabeth Tenreiro, de 71 anos que morreu em ataque na escola estadual nesta segunda (27) — Foto: Arquivo pessoal

Investigação

A Justiça concedeu a quebra de sigilo do celular, do computador e do videogame Xbox do adolescente que matou Elizabeth.

O delegado do 34º DP levou os equipamentos à sede do Decap, departamento que administra as delegacias da capital, para fazer a extração dos dados. O procedimento é feito por um equipamento israelense, com software que busca em aparelhos eletrônicos de comunicação os arquivos e informações em períodos determinados, mesmo que tenham sido apagados.

A polícia não sabe dizer quando tempo levará para fazer a extração dos dados. Para a polícia, o acesso às informações poderá comprovar ou descartar a participação de outras pessoas no plano do ataque. Até quarta-feira (29), os investigadores acreditavam que o aluno teve incentivo ou ajuda de duas pessoas.

Psiquiatras

Ainda nesta segunda, o adolescente acusado de matar a professora e ferir outras quatro pessoas deverá ser avaliado por uma equipe de peritos, com três psiquiatras (sendo um deles também psicólogo) e um médico clínico geral. A medida atende um pedido feito pelo juiz da Vara da Infância, que deverá tomar uma decisão em uma audiência que acontecerá nesta terça-feira (4).

Enquanto isso, o adolescente segue internado provisoriamente em uma unidade da Fundação CASA, após a justiça acatar um pedido do MP da capital. Ele pode ficar internado provisoriamente por, no máximo, 45 dias, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. Após sentença, o jovem poderá cumprir medida socioeducativa de até 3 anos.

"O contexto dos autos revela envolvimento do adolescente em ato infracional equiparado a crimes punidos com reclusão, possuindo capacidade de corromper sua formação moral e/ou intelectual e de colocá-lo em risco de lesão física grave", justificou o juiz da 2ª Vara Criminal da Comarca de Taboão da Serra.

A Justiça também acatou o pedido de representação enviada pelo Ministério Público de Taboão da Serra, na região metropolitana. Na nova denúncia, a Promotoria analisou dois possíveis atos infracionais equiparados aos crimes de ameaça e extorsão que teriam sido cometidos pelo adolescente no início de fevereiro, quase dois meses antes do ataque ocorrido nesta semana, contra um garoto de sua antiga escola, a E.E. Prof. Roberto José Pacheco.

O estudante foi ouvido na tarde da última terça(27) pelo Ministério Público de São Paulo.

Quando a escola vai retomar as aulas?

A retomada das aulas na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, Zona Oeste da capital paulista está prevista para o dia 10 de abril. Inicialmente, a escola ficaria fechada por uma semana, tempo ampliado para três semanas. O prédio passará por uma reforma.

Conforme apurado pela TV Globo, a escola contará com o trabalho de um arquiteto para reaproximar o espaço dos alunos. Professores e psicólogos estão em contato com pais e estudantes para prestar apoio às famílias.

O que se sabe sobre o ataque?

  • O ataque ocorreu dentro da sala de aula, por volta das 7h20, no momento em que a professora fazia a chamada;
  • O agressor é um aluno de 13 anos de idade, que cursa o oitavo ano na escola. Quatro professoras e um aluno foram esfaqueados;
  • Enquanto ele atacava uma das vítimas, Cinthia, professora de educação física, conseguiu imobilizá-lo, e outra professora, Sandra, o desarmou;
  • Logo depois chegaram agentes da Ronda Escolar, e o aluno foi encaminhado a uma delegacia;
  • O aluno e as outras duas professoras que foram atingidas pelo agressor também foram levadas a hospitais e tiveram alta ainda na segunda;
  • A professora de ciências Elisabete Tenreiro, de 71 anos, levou cinco facadas. Ela teve uma parada cardíaca após ser atacada e não sobreviveu;
  • Ao ficarem sabendo do ataque, pais se dirigiram à escola, para retirar os filhos. Na porta da escola, os responsáveis relataram à reportagem da TV Globo que agressões físicas entre os alunos eram constantes na escola;
  • Segundo estudantes, em um momento anterior, a professora Elisabete separou uma briga entre o agressor e outro estudante e, após isso, o autor do ataque teria interesse em se vingar. Os colegas contam que a briga começou porque o agressor usou termos racistas durante uma discussão. "Chamou o menino de preto, de macaco e aí o menino não gostou, partiu pra cima dele, aí a Bete, que é a professora, separou", afirmou um dos estudantes;
  • O secretário da Educação de São Paulo, Renato Feder, confirmou que, na semana passada, o assassino discutiu com um colega e foi advertido pela professora Elisabete. O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, disse que a diretora conversou com o estudante agredido na sexta e que conversaria com o agressor na segunda;
  • O governo paulista decretou luto de três dias pela morte da professora e as aulas na escola foram suspensas;
  • Um dia após os ataques, alunos fizeram uma vigília na porta da unidade.

Ataque a escola Thomázia Montoro completa uma semana

Ataque a escola Thomázia Montoro completa uma semana

Histórico violento

Há um mês, a direção da Escola Estadual José Roberto Pacheco, na Grande São Paulo, onde o agressor estudava antes, registrou um boletim de ocorrência alegando que o adolescente apresentava um comportamento suspeito nas redes sociais, postando vídeos com armas de fogo e simulando ataques violentos. Ainda segundo o B.O., o aluno mandou mensagens com fotos de armas aos demais colegas.

Os responsáveis pelo agressor foram convocados e orientados pela direção. Depois isso, ele foi transferido de unidade.

A mãe do adolescente autor do ataque informou à Polícia Civil que sabia que o filho conversava sobre "massacres escolares" com um colega nas redes sociais. Segundo apurado pelo g1, ela também disse que o filho teve de ser transferido da escola anterior há cerca de um mês porque ele apresentou "falas e ações referentes a possível massacre no interior da escola contra demais alunos".

Lateral da Thomazia Montoro, na Vila Sônia — Foto: Arthur Stabile/ g1

Brigas frequentes, bullying, falta de segurança

Brigas frequentes, bullying, falta de segurança. Localizada em uma rua sem saída, na Vila Sônia, Zona Oeste da cidade de São Paulo, a Escola Estadual Thomazia Montoro entre seus muros pintados de cor salmão, com três portões de azul vibrante.

A escola faz parte do Programa de Ensino Integral (PEI), projeto do governo do estado de São Paulo, desde 2021 -- no governo de João Doria (então no PSDB). Segundo dados do Censo Escolar, conta com 15 professores e aproximadamente 300 alunos matriculados do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.

Em coletiva de imprensa, o secretário, Renato Feder, disse que o governo vai ampliar o programa Conviva, que disponibilizava atendimento psicológico para 500 escolas, de uma rede de mais de 5 mil.

"A gente vai ampliar isso para alcançar todas as escolas. Essa é uma medida muito importante, não é do dia para noite porque a gente precisa treinar e selecionar essas pessoas, mas a gente vai manter os profissionais das diretorias de ensino e ampliar de 500 para 5.000 profissionais dedicados ao Conviva, um por escola", afirmou Feder. (veja abaixo nota da Secretaria da Educação).

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