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Rio

Artigo: 'Pensar em cada um'

A volta às aulas não será igual para todos: a pandemia aumenta as distâncias sociais
Escolas particulares foram autorizadas a retornar às aulas presenciais em parte de suas turmas; na foto, sala do Colégio Mopi Foto: Domingos Peixoto em 20.07.2020 / Agência O Globo
Escolas particulares foram autorizadas a retornar às aulas presenciais em parte de suas turmas; na foto, sala do Colégio Mopi Foto: Domingos Peixoto em 20.07.2020 / Agência O Globo

RIO — Agora que a volta às aulas se torna uma realidade, garantir a existência de procedimentos de proteção ao contágio do coronavírus no ambiente escolar pode funcionar como base de solidariedade e cuidado coletivo. Mas é preciso incluir no protocolo práticas de escuta dos alunos para acolher as experiências individuais dos meses mais duros da pandemia. Ainda assim, a volta às aulas não será igual para todos — a pandemia está aumentando as distâncias sociais. A educação está no centro desta questão e o desafio deve ser compartilhado por toda sociedade além de pais, alunos, educadores e especialistas.

A aprovação automática não pode ser vista como a solução mágica e afastar nosso olhar para o que acontece nas escolas. A sociedade brasileira tem a oportunidade de desenvolver valores democráticos se o interesse pelo o que acontecerá com a educação se tornar viral nos próximos meses.

Cabe especial atenção às escolas públicas de ensino médio e dos anos finais do fundamental em subúrbios populares, favelas e periferias, onde adolescentes e jovens depositam boas esperanças de suas vidas, mas o fantasma do abandono e evasão aparece com mais força. Não basta criarmos campanhas motivacionais para que esses jovens não desistam da jornada. O caminho deles não pode ser solitário. Para criar laços fortes com a juventude a escola deve ser o lugar do presente. O incentivo ao engajamento em questões comunitárias, o desenvolvimento da criatividade, práticas empreendedoras, o acesso democrático ao mundo digital, a participação politica e os experimentos que incentivem o gosto a pesquisa são exemplos que existem em diversas escolas ou organizações da sociedade civil que se mostram eficazes para o engajamento jovem e adolescente, por ofertarem caminhos de formação através do desejo e da ação. O engajamento da sociedade, acompanhando de perto as escolhas dos governos é a amplificação necessária para que jovens e professores não fiquem nesse caminho sem apoio.

*Marcus Faustini é escritor e criador da Agência de Redes para Juventude