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Opinião

Artigo: Até quando a violência escolar?

Passada a surpresa, quando as autoridades falam demais, voltamos ao marasmo e ao fazer de menos

O Rio de Janeiro foi palco de manifestação popular em memória aos dois anos da morte de estudante atingida por bala perdida em colégio na Zona Norte. A manifestação apresentou uma bandeira brasileira com 54 furos representando as crianças mortas por balas perdidas desde 2007. É a grande representação da dor indescritível de perder crianças e jovens para diferentes tipos de violências. A motivação poderia ser pelos 20 anos do massacre de Columbine (EUA).

Em 2002, neste mesmo espaço, defendi a necessidade de a escola do futuro considerar o tema violência escolar como algo necessário e propunha a mediação de conflitos a fim de evitar sua manifestação violenta. Àquela época, essas violências ainda estavam restritas a ofensas entre os atores da comunidade escolar, bullying ou danos ao patrimônio escolar. Eram outros tempos,  que nos convidavam a ações necessárias e intervenções visando à construção da paz ou, pelo menos, da tolerância. Passados 17 anos, a regra é a inexistência de políticas públicas que busquem entender e agir nas fontes das questões, o que mostra a importância, ou não, que se dá ao clima escolar. Há ações pontuais, produzidas por grupos preocupados em pesquisar para melhor conhecer e/ou agir por não mais aguentarem a angústia de professores, alunos e comunidade. Somos “cavaleiros solitários”.

Hoje, precisamos considerar mais duas ordens de violência escolar sem que tenhamos sequer iniciado ações efetivas na ordem anterior. Uma é aquela marcada pela ação de atiradores nos espaços escolares, como que a importar ações infelizes dos Estados Unidos, principalmente. São exemplos o ocorrido em Valparaiso (GO), Suzano (SP), na escola de Realengo (RJ) e na creche de Janaúba (MG). Passada a surpresa, quando as autoridades falam demais, voltamos ao marasmo e ao fazer de menos. Estáticos, esperamos que passe o pesadelo. Ainda não aprendemos a identificar os sinais emitidos por aqueles que promoverão o ato extremo de violência.

A outra ordem que indica novo formato de violência é a que se instala no entorno da escola, tornando-o uma praça de guerra onde ações típicas de guerrilha são tão corriqueiras quanto desastrosas. A isso chamamos de contextos de conflitos armados. Essas ações se assemelham aos episódios de violência urbana que víamos na Colômbia e no País Basco.

Ainda não temos ações efetivas na formação de professores e servidores da educação para atender às necessidades da primeira e mais antiga ordem. As duas outras ordens parecem não estar no radar dos formuladores de políticas públicas... Estes continuam a agir por espasmos quando motivados pelas dores da perda de jovens e crianças. As violências escolares cobram seu preço no aprendizado e nas relações, roubando de suas vítimas saberes necessários e espaços de participação social que caracterizam uma democracia.

Crianças e jovens devem constar das estatísticas de sucesso escolar e não como novos buracos na bandeira brasileira. Os que somos adultos, os experientes e os “bem formados” precisamos apresentar as análises sobre a gênese dessas questões e propor ações de curto, médio e longo prazos a fim de que se cumpra o direito de todos e de cada um à educação de qualidade. Eles não possuem mais 17 anos para desperdiçar.

Alvaro Chrispino é professor