Rio Reage Rio

Artigo: Ao encontro do próprio destino

“O Rio tem que se tornar um centro de inovação tecnológica, científica e artística de dimensão mundial, por onde gostariam de circular todos os que inovam”

Nosso querido André Urani, que dedicou sua curta vida a pensar e a fazer do Rio de Janeiro um lugar melhor para todos, dizia que o mais enigmático dos paradoxos do Rio é a recusa por abraçar o próprio destino. O Rio deixou de ser a capital, mas não tem por que deixar de ser maravilhoso. O Rio deixou de ser o centro financeiro, mas não precisa deixar de ser o centro da inovação. "As cidades feias que nos perdoem", mas a inovação precisa da beleza do Rio. Mas só beleza não atrai inovação, nem garante que ela ocorra. Os inovadores buscam qualidade de vida e uma cidade que transpire cultura e conhecimento.

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Parece evidente que o Rio tem um único destino possível: tornar-se um centro de inovação tecnológica, científica e artística de dimensão mundial. Um centro por onde gostariam de circular e serem instigados todos os que inovam nesse planeta e que seja capaz de promover inovações. Para isso, o Rio certamente precisa contar com universidades e centros de pesquisa e inovação de vanguarda, com inserção e reconhecimento internacional. Quem conta com Impa, CBPF, Fiocruz, Bio-Rio, Cepel, Cenpes, FGV, UFRJ e UFF, entre muitos outros, não poderia argumentar que falta um ponto de partida ou tradição. Mas, para atrair e abrigar uma sociedade da inovação, a qualidade de vida no Rio ainda precisaria melhorar muito.

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Dentro as diversas dimensões da qualidade de vida, vale ressaltar a importância da educação. Se o destino do Rio é a inovação, então educação de qualidade para todos parece ser a forma de garantir que cada fluminense poderá se beneficiar e incorporar-se plenamente a esse destino. Só dessa forma será possível alcançar um Rio socialmente inclusivo e com uma qualidade de vida que faça sombra a sua exuberante beleza natural.

O Rio sempre foi a vanguarda da educação no Brasil. Até a virada do milênio, o Estado detinha a população ocupada com a maior escolaridade. Ao longo das últimas décadas do século XX e na primeira década do novo milênio, no entanto, o Rio perdeu muito de seu destaque. Em 2010, já existiam mais de dez estados brasileiros com melhor educação básica que o Rio. Ao longo do último quinquênio, no entanto, o Rio recuperou importantes posições. O caso mais notável é o do Ensino Médio: nessa etapa de ensino, o Rio passou da 16ª posição para a 2ª posição.

Parece impossível para o Rio encontrar seu destino ao lado da inovação sem recuperar sua posição de vanguarda educacional. A experiência bem-sucedida do Ensino Médio indica que essa mudança é possível. Esse sucesso não ocorreu por acaso: foi resultado de uma administração comprometida com a gestão para resultados e dedicada à inovação. Uma dessas inovações baseou-se no desenvolvimento e na adoção de um currículo voltado a dar a oportunidade para que cada estudante desenvolva de forma plena todas as suas potencialidades, em particular, a competência para tomar e implementar decisões de forma autônoma, independente e responsável. O Colégio Estadual Chico Anysio (CECA), no Andaraí, foi a escola escolhida para que essa abordagem fosse implementada pela primeira vez. Estudos científicos comprovam que o desenvolvimento dos alunos no CECA tem sido muito superior ao que esses mesmos alunos teriam caso tivessem tido uma educação mais tradicional.

Para ir ao encontro de seu destino, o Rio precisa abraçar suas inovações. A despeito de todo o avanço, o Estado permanece atrasado em relação às metas do Plano Nacional de Educação. Para alcançar sua meta, o Rio precisaria caminhar a uma velocidade quase duas vezes maior que a alcançada ao longo do último quinquênio. Esse avanço é muito próximo ao que a evidência científica aponta como sendo o impacto que a educação integral, implementada no CECA, é capaz de propiciar.

Em suma, para que a trajetória do Rio ao encontro da inovação traga qualidade de vida a todos, é necessário que o Rio recupere sua posição de vanguarda na educação nacional. No caso do Ensino Médio, o Rio já inovou. Basta, assim, que universalize o acesso a sua própria criação.

*Ricardo Paes de Barros é economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor no Insper