Arma usada em ataque a escola de SP não tinha recadastramento, diz polícia

A arma usada no ataque a uma escola pública na zona leste de São Paulo que matou ontem uma aluna de 17 anos e deixou outras duas feridas não tinha recadastramento, segundo a Polícia Civil. O novo registro se tornou obrigatório desde 2003, após o Estatuto do Desarmamento.

O que aconteceu

O revólver calibre 38 usado no crime pertence ao pai ao atirador, que era aluno do 1º ano do ensino médio na Escola Estadual Sapopemba, onde ocorreu o ataque. O adolescente de 16 anos vasculhou a casa do pai em Santo André no último fim de semana em busca da arma, que estava escondida dentro de um colchão.

O pai do adolescente foi chamado neste terça para prestar depoimento na delegacia — se não comparecer, poderá ser intimado amanhã. Se for constatada a irregularidade, ele pode responder pelo crime de posse irregular de arma de fogo, ainda de acordo com a Polícia Civil.

O atirador disse à polícia que aproveitou a ausência da professora em sala de aula para ir até o banheiro, onde colocou munição no revólver.

A professora não foi à escola [no dia do ataque]. Então a coordenadora passou algumas atividades, mas não permaneceu na sala. Nesse momento, ele se dirigiu ao banheiro, tirou a arma e a municiou.
Antonio Edio, advogado do atirador

Em depoimento de quase três horas ontem, o jovem afirmou que era vítima de homofobia na escola. Também disse que seu objetivo era atacar dois meninos que supostamente cometiam violência física e psicológica contra ele, mas acabou atirando em vítimas aleatórias.

O advogado do atirador disse que houve omissão do Estado, já que a mãe havia relatado para a direção que o filho era vítima de homofobia desde o começo do ano. "A escola sabia do que ocorria e não tomou atitude nenhuma", criticou.

Em nota, a Seduc-SP (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo) disse que trabalha para aprimorar o atendimento psicológico nas escolas. "Atualmente, 550 psicólogos realizam atendimentos periódicos nas unidades escolares da rede e a gestão trabalha para ampliar esse contingente. Apenas na unidade em Sapopemba, foram 15 atendimentos psicológicos em um mês", informou a pasta.

O adolescente passará hoje por audiência de custódia e, em seguida, será encaminhado para uma das unidades da Fundação Casa. Ele irá responder por ato infracional análogo a homicídio e por ato infracional análogo a duas tentativas de homicídio.

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A Polícia Civil agora tenta identificar as quatro pessoas com quem o adolescente manteve contato em uma rede social, onde anunciou que cometeria o ataque. A investigação irá apurar se eles tiveram participação, ainda que indireta, nos crimes.

Segundo a investigação, o atirador compartilhou o ataque em tempo real por áudio nessa rede social. Ele também teria usado uma gilete para fazer uma suástica na coxa esquerda "para ganhar pontos" nesse grupo, de acordo com a Polícia Civil.

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