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Após volta das aulas presenciais, escolas fazem adaptações nos projetos pedagógicos de 2020 e 2021

Extensão do ano letivo e avaliações diagnósticas fazem parte das medidas para garantir aprendizado dos alunos
Equipe docente do Mopi tem apoio de um comitê criado para auxiliar no desenvolvimento de novas estratégias Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Equipe docente do Mopi tem apoio de um comitê criado para auxiliar no desenvolvimento de novas estratégias Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — Como será o ano pedagógico de 2021 nas escolas? Antes de responder a esta pergunta, as escolas estão tratando de fazer um balanço do ano de 2020. Nas particulares, dizem os educadores, o problema é menor, porque a maioria manteve aulas remotas na maior parte dos quase sete meses em que ficaram fechadas. Na rede pública, a situação é mais complexa. Até agora, segundo a Secretaria municipal de Educação, ainda não há previsão de retorno ao regime presencial, e não houve continuidade do ano letivo à distância. Na escolas da rede estadual na cidade, as aulas foram retomadas na última segunda-feira, apenas para alunos do 3º ano ensino médio, mas a adesão foi baixíssima, tanto de alunos quanto de professores, já que muitos docentes mantêm o que chamam de uma “greve pela vida”.

A rede pública já se mostrou disposta a promover a fusão dos anos letivos de 2020 e 2021, para que seja possível contemplar todo o conteúdo previsto — uma prática recomendada pelo Conselho Nacional de Educação, que autorizou o chamado continuum curricular e a extensão das atividades de ensino remoto até dezembro do ano que vem. Na particular, cada escola vem traçando sua própria estratégia. Todas, como prevê a legislação, devem oferecer um modelo de ensino híbrido, com aulas presenciais e à distância, para os alunos que assim preferirem.

Embora invista em ferramentas tecnológicas para complementar o conteúdo dado em sala de aula, o Colégio Pensi não define seu modelo como híbrido, mas diz que no ano que vem será esta a metodologia aplicada:

— Em 2021, algumas matérias eletivas serão on-line, e o aluno vai adquirir parte do conhecimento fora de sala de aula — diz a coordenadora pedagógica Christine Lourenço.

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Durante a pandemia, a escola disponibilzou um portal com monitoria on-line, videoaulas e jogos para os alunos mais novos. O processo de incorporação da tecnologia teve de ser acelerado .

— Foi necessário ressignificar o conceito docente, aliado à independência e à autonomia dos estudantes. Da noite para o dia, eles se tornaram donos do seu próprio tempo de estudo e precisaram se tornar protagonistas desse novo modelo. Investimenos em habilidades que já queríamos que desenvolvessem e que são necessárias e estratégicas — explica Christine Lourenço.

Ela explica que a nova fórmula foi sendo aprimorada aos poucos, até a instituição chegar ao que julga ser o melhor modelo de ensino:

—Ajustamos a quantidade de vídeoaulas e as atividades síncronas e assíncronas. Elaboramos planos de estudo, realizamos conversas motivacionais e ajudamos os alunos a organizarem o tempo de estudo. O início foi turbulento, mas com o tempo foi possível equalizar tudo.

O retorno presencial do ensino médio foi no último dia 13, e na semana seguinte voltou o fundamental:

—Fizemos uma pesquisa com os responsáveis para entender o clima e tomar as melhores decisões para as famílias. No Ensino Médio, a adesão era maior, por isso eles voltaram antes. Muitas famílias tinham receio de como as crianças iam se comportar diante das novas regras.

Nas duas semanas que levou para iniciar o ensino remoto, na quarentena, o Pensi enviou atividades para serem feitas pelos estudantes. Apesar de o número de horas-aula ter sido menor no ensino remoto, Christiane afirma que o conteúdo pedagógico não foi afetado.

— Estamos fazendo avaliações diagnósticas em cima dos principais conteúdos para entendermos como está o desempenho dos alunos. Fizemos uma em agosto e outra será realizada no fim do ano, para criamos monitorias direcionadas. Para não atrapalhar o próximo ano letivo, em 2021 as provas serão aos sábados. Vamos começar o ano fazendo um resgate da aprendizagem deste ano. Este ano o calendário também será estendido: as últimas provas ocorrerão perto do Natal. E a recuperação e a prova final serão no fim de janeiro — adianta.

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O Pensi faz parte do grupo Eleva de ensino, e desde o início da pandemia as equipes pedagógicas das escolas da rede trocam suas experiências.

— Este ano nos deixou muitos aprendizados emocionais e técnicos. Tivemos resiliência e conseguimos superar o desafio do cenário caótico e imprevisível. Os alunos nos surpreenderam. Teve um grupo que até criou um site para organizar os links que nós enviamos, para o acesso ser mais rápido e automatizado — diz Christiane.

Investimento em tecnologia é acelerado

No CEI, avaliação diagnóstica será feita no início do próximo ano letivo Foto: Divulgação/Timour Abreu / Divulgação/Timour Abreu
No CEI, avaliação diagnóstica será feita no início do próximo ano letivo Foto: Divulgação/Timour Abreu / Divulgação/Timour Abreu

No CEI, o ensino remoto começou em abril. Como já havia firmado parceria com o Google For Education há dois anos, seus professores e alunos já sabiam usar as plataformas e os recursos disponíveis.

— Fomos ágeis, o que contribuiu para não termos prejuízo na carga horária dos ensinos médio e fundamental. Na educação infantil, trabalhamos com carga horária reduzida. Mas foi possível manter o planejamento pedagógico — diz Lucia Garcia, diretora pedagógica da escola.

O CEI retomou o regime presencial em 5 de outubro, com turmas reduzidas. e de forma gradual. Os primeiros a voltar foram os mais velhos. A escola esperava uma presença mais significativa deste grupo, mas percebeu que, por serem mais autônomos, muitos jovens optaram por permanecer no ensino remoto.

— Tudo indica que no ano que vem vamos retornar dessa maneira, com parte dos alunos na escola e outra em casa. Estamos seguindo as orientações legais, com um planejamento para 2021 no modelo híbrido — diz Lucia.

Ela explica que o CEI se compromete a garantir o ensino, mas que a aprendizagem depende de fatores como a disponibilidade e engajamento dos alunos. Por isso, no início do ano que vem será feita uma avaliação diagnóstica para verificar se os alunos adquiriram as competências necessárias para atravessar bem o novo ano letivo.

— Vamos ver como eles vão se sair para adaptar nosso planejamento, revisando alguns conteúdos para avançar com qualidade.

A diretora avalia que a pandemia mostrou que a tecnologia pode favorecer a rotina pedagógica, apesar de não substituir o professor. Em sua opinião, os processos foram otimizados. E as reuniões com os responsáveis, por exemplo, conta, tiveram participação maior que as presenciais.

— Os alunos adquiriram novas habilidades, e para que elas não sejam perdidas, no ano que vem vamos estimular o uso de dispositivos eletrônicos como parte do material didático a partir do 8º ano do fundamental — diz.

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Preocupação como o emocional

O Mopi começou a oferecer aulas digitais já em 18 de março, apenas cinco dias após a decretação da quarentena, e foi assim até 23 de setembro, quando voltaram ao sistema presencial, primeiro, gradualmente, os sensinos fundamental e médio. Vinícius Canedo, diretor executivo do Mopi, diz que a adaptação ao ensino remoto foi relativamente fácil, já que desde 2017 a instituição vinha buscando ampliar a experiência digital de seus alunos com o uso da plataforma Google For Education e quadros tecnológicos nas salas de aulas.

— Durante a pandemia, lançamos uma grade de horário própria para o momento, de modo que os alunos pudessem acordar mais tarde. Para a educação infantil foi necessário contar com a participação dos pais, que puderam escolher o melhor horário para ajudar seus filhos — conta Canedo.

O ano letivo será encerrado em dezembro, com todo o conteúdo pedaagógico estabelecido para 2020 finalizado. O desempenho dos alunos foi avaliado durante a pandemia, quando um questionário foi respondido pelos responsáveis.

— Precisávamos saber quem foram os alunos que se adaptaram bem ao novo modelo e aqueles que tiveram dificuldades. Alguns ficaram ansiosos, outros perderam parentes, alguns estavam abalados emocionalmente, e era preciso saber sobre cada um para dedicar a eles a atenção de que eles precisam. Fizemos uma espécie de mapeamento — conta.

O Mopi também criou o Comitê AC/DC (antes do Covid-19 e depois do Covid-19), com quatro consultores externos da área pedagógica contratados para auxiliar a equipe docente no desenvolvimento de uma nova estratégia.

— Eles nos ajudaram a colher feedbacks do que estava funcionando, a determinar a carga horária da educação infantil. Em abril, eles já estudavam como seria o ano letivo de 2021 — destaca.

Uma mudança motivada pela pandemia é que o currículo do Mopi para o ano que vem terá um espaço maior destinado ao digital. O ensino também será mais focado no inglês, idioma mais usado no universo on-line. Uma parceria firmada com uma empresa especializada em programação e educação digital vai auxiliar os alunos, ensinando sobre o código de ética na internet e os riscos aos quais eles estão expostos nas mídias sociais, além de ministrar aulas de programação e robótica avançada.

Miraflores vai 'devolver' horas-aula

No Miraflores as aulas irão até o meio de dezembro para os pequenos Foto: Divulgação/ Miraflores / Divulgação/ Miraflores
No Miraflores as aulas irão até o meio de dezembro para os pequenos Foto: Divulgação/ Miraflores / Divulgação/ Miraflores

Já o Miraflores, mesmo garantindo ter conseguido cumprir seu programa pedagógio para este ano, graças ao ensino remoto, pretende estender o ano letivo como forma de “devolver” às famílias as carga horária que faltou, visto que o período em que os alunos ficavam diante do computador durante as aulas à distância, antes da autorização da volta ao regime presencial, era mais curto do que aquele que passariam na escola.

— Nosso compromisso é com a entrega da carga horária. A turmas de pré-escola 1 e 2 vão ter um aumento no número de horas, e do berçário à pré-escola 2 vamos oferecer colônia de férias em janeiro. A pré-escola terá aulas até o meio de dezembro; e o ensino fundamental, até o fim de dezembro. E toda a educação infantil terá duas horas a mais até julho de 2021. Os alunos que precisarem também poderão ter aulas extras de 16 a 26 de janeiro — explica Jane Lima, diretora do Miraflores.

Com turmas da creche até o final do ensino fundamental 1, o Miraflores antecipou suas férias escolares do meio de ano para março, assim que a quarentena começou. Nesse período, seus profissionais receberam treinamento para dar início ao programa on-line de ensino. Inicialmente, as aulas eram gravadas, e os alunos tinham uma agenda on-line e consultoria via chat para tirar dúvidas. O retorno foi em 14 de setembro para o ensino fundamental e en 5 de outubro para os menores.

— Quando retomamos as aulas, já demos prosseguimento ao calendário escolar. — avalia a diretora — No início das aulas remotas, a resistência foi muito maior entre os adultos do que entre as crianças. As crianças não se sentiram entediadas, e as famílias deram apoio emocional. Até alfabetização pôde ser feita de maneira exemplar .

Mesmo assim, os estudantes estão passando por uma avaliação diagnóstica, para saber o quanto absorveram de português, matemática, inglês e inteligências múltiplas enquanto estiveram em casa.

— Nosso ano letivo começará em 8 de fevereiro com o ensino híbrido para as famílias que optarem pelo ensino remoto. Quando a vacina sair, nosso ensino volta a ser presencial. O grande objetivo do ensino é a integração, aprender com o outro. Não temos essa cultura de home schooling. A escola é uma grande comunidade — opina Jane.

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