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Por Paula Ferreira — Brasília

O novo presidente do CNPq, Ricardo Galvão, vai reestruturar os sistemas de informação do órgão. Alvo de novo ataque hacker na semana passada, a Plataforma Lattes também passou por apagão sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para evitar novos danos e risco aos dados, o CNPq já prepara a contratação de novo software e reestruturação da proteção de informações do Lattes.

Em entrevista ao GLOBO, Galvão afirmou ainda que dificilmente o órgão retomará patamares desejados de investimento a curto prazo, mas afirmou que após o reajuste das bolsas, que dever ser anunciado pelo presidente neste mês, uma das perspectivas é aumentar o número de benefícios concedidos.

Para Galvão, o CNPq deve estar apto a responder as crises do país e atender demandas urgentes. Ele defende, por exemplo, investimento em pesquisas voltadas para o meio ambiente e desenvolvimento sustentável como estratégicas para o país. O pesquisador considera urgente que a área científica aprenda a se comunicar nas redes sociais para derrotar o negacionismo.

A seguir, trechos da entrevista:

Muitos órgãos têm relatado um cenário de desmonte. Como o senhor encontrou o CNPq?

No CNPq eu encontrei uma situação que não é tão grave como se vê em outros lugares. Primeiro, porque há um corpo de servidores que atuou bem para mantê-lo nessa fase difícil. Houve uma proposta do governo anterior de juntar a Capes com o CNPq e houve resistência (interna) a isso. O professor Evaldo Vilela (ex-presidente do CNPq) fez um trabalho muito decente de preservar a instituição. O que aconteceu no passado foi uma redução muito grande de recursos orçamentários, mas com a PEC da Transição houve uma recuperação orçamentária da ordem de R$ 400 milhões. Isso está abrindo bastante perspectivas para o CNPq.

Embora haja essa recomposição, é o cenário ideal de recursos?

Uma fonte muito importante de recursos para ciência e tecnologia é o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Havia medida provisória do presidente Bolsonaro que contingenciava esse fundo, o que é proibido por lei. Mas conseguimos com outra articulação com o Congresso que essa Medida Provisória não fosse colocada em pauta e domingo ela simplesmente extinguiu. O governo vai ter que fazer uma suplementação orçamentária da ordem de R$ 4 bilhões de reais e isso vai dar um certo fôlego, pelo menos neste ano. Nós fizemos uma articulação e o governo está propondo que esse recurso seja utilizado para os grandes projetos estruturantes. Fazendo isso vai sobrar mais recursos orçamentário para o CNPq.

Com os cortes orçamentários, o CNPq ficou muito refém do pagamento de bolsas e da manutenção do funcionamento do órgão. Será possível retomar investimentos?

Os investimentos na área de fomento de pesquisa serão recuperados muito lentamente. A última chamada do CNPq, no final do ano passado, para os Institutos Nacionais de Ciência Tecnologia tinha uma verba total de R$ 7 milhões. Isso é muito pouco para todas as demandas. Isso vai ter de ser recuperado, mas não vai dar para recuperar totalmente, de forma nenhuma.

Vocês estão trabalhando numa proposta de reajuste para as bolsas. Quando esse reajuste será feito?

O anúncio vai ser feito pelo presidente Lula, eu espero que ainda este mês.

O percentual foi fechado em 40% ou há variações?

Há variações dependendo do tipo de bolsa. Um exemplo pequeno que posso dar, porque nós não temos delegação para informar esse valor: há uma bolsa importantíssima que é chamada bolsa Iniciação Científica Júnior. Essa bolsa é dada para alunos do ensino médio que tiveram resultados bons em algumas olimpíadas. Essa bolsa nós achamos importante, porque temos de despertar os alunos para serem cientista desde cedo. O valor dela era só R$ 100 por mês, que é muito pouco. Nós queremos pelo menos dobrar ou triplicar essa bolsa. Teremos variações que foram definidas pela Casa Civil, mas estão esperando o anúncio do presidente Lula.

Além do aumento do valor dos benefícios, haverá um aumento no número de bolsas?

Isso nós esperamos, mas não podemos dizer ainda, porque nós temos uma chamada aberta cujos resultados estão sendo analisados e uma outra que está sendo lançada. O aumento no número de bolsas depende de saber quantos bolsistas novos entraram. Precisamos saber da demanda. Esperamos que, a partir de agora, aumente a demanda, porque nos últimos dois anos houve um decréscimo. Primeiro, causado pela Covid e, depois, causada pelo baixo valor das bolsas. Muita gente perdeu interesse, principalmente mestrado.

Alguns estudantes relataram atraso no pagamento das bolsas neste mês. Isso já foi normalizado?

As bolsas foram todas depositadas nesta quarta-feira. Houve uma mensagem deselegante na internet do ex-ministro Marcos Pontes, dizendo que nunca houve (atraso) na gestão dele, mas houve (nesta). Foi um atraso de um dia. O que acontece é que na transição de governo eu preciso de autorização para assinar várias coisas e teve um pouquinho de atraso nos documentos.

Embora tenha sido um atraso de um dia, essa mensagem do ex-ministro Marcos Pontes mostra uso político desse fato. Considera que esse atraso impactou negativamente a imagem do governo nesse início de mandato?

Conversei com o presidente da Agência Nacional de Pós-graduandos (ANPG) que não vai ter um grande impacto, mas o governo vai ter que estar alerta a isso. Não há a menor dúvida de que na gestão do governo do Lula todo pequeno de deslize vai ser explorado.

Houve relato de uma tentativa de acesso atípica nos sistemas do CNPq na semana passada. O que se sabe sobre isso?

Foi um ataque de hackers. O importante é dizer que não teve nenhum acesso a dados sigilosos na plataforma Lattes. Somos monitorados pela Rede Nacional de Pesquisa, e, imediatamente, quando eles detectaram o ataque, bloquearam.

Em 2021 houve um apagão na Plataforma Lattes, que ficou dias fora do ar. Qual é a estratégia para evitar novas ocorrências?

Temos uma recomendação da CGU: nós vamos investir bastante recurso para modernização das duas plataformas essenciais: Lattes e a plataforma Carlos Chagas. Na Lattes nós temos registro de cerca de 7,5 milhões de cidadãos, e não são só cientistas. Cientistas são 1,4 milhão. E tem também registros na plataforma Carlos Chagas. São dados muito importantes. Temos que nos preocupar também com a nova legislação de proteção de dados. Quando a plataforma Lattes foi feita, isso não existia. Então, temos que fazer toda uma reformulação.

Quando haverá essa modernização?

Os estudos já estão feitos. Mas nem tudo isso é feito com especialistas do CNPq. Então, estamos em um processo de licitação e contratação de serviços para essa plataforma de T.I. Devemos fazer em poucos dias.

Nos últimos anos há uma fuga de cérebros brasileiros. Como o senhor pretende contribuir para mudar esse cenário?

Há dois aspectos importantes: um é o valor das bolsas, mas só isso não basta. Na questão de pessoal, nós temos uma situação difícil no país, que é o fato de a maior parte dos trabalhos de pesquisa serem feitos nas instituições públicas. E há muito tempo não tem concurso. Mas o governo está atento a isso. Tem que abrir concurso nas instituições de pesquisa e em outros órgãos também. No CNPq, há dez anos havia na ordem de 700 servidores. Agora, são 300 e pouco, dos quais 100 estão em condição de aposentar imediatamente. Esse é o primeiro problema seríssimo que não vai ser resolvido imediatamente. Outro aspecto importante que o CNPq está ajudando é a pouca utilização de cientistas nas empresas privadas.

Como reverter esse quadro?

Fui na posse do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Desenvolvimento. Ele falou claramente dessas necessidades para que tenhamos uma inovação soberana. Não podemos ficar pensando em contratar e comprar tecnologia lá fora. Temos que desenvolver no país. Então, o governo está muito preocupado, e o CNPq vai ajudar muito nisso, em ter interação com meio empresarial para ter mais pesquisa nas empresas.

O senhor pretende focar os investimentos em alguma área específica?

Recebemos várias propostas durante a transição e todas vou trazer ao Conselho Diretor para ver o que priorizar. Mas algumas são óbvias e gostaria de eu mesmo propor. Por exemplo, na questão de meio ambiente e desenvolvimento sustentável. O próprio Ministério de Ciência e Tecnologia já foi nessa direção criando uma subsecretaria para a Amazônia. Desenvolvimento sustentável precisa de muito apoio científico. Há também área muito importante relacionada à questão de insumo básico para farmácia, para eletrônica. O governo está muito interessado em fortalecer novamente a indústria eletrônica no país.

A pandemia aconteceu em momento no qual a ciência estava muito fragilizada. O Brasil poderia ter tido uma resposta melhor?

A ciência estava fragilizada, mas a sociedade civil percebeu sua importância, inclusive na fabricação de vacinas. O cidadão comum às vezes pensa no cientista como um Professor Pardal: eu tenho um problema, levo e ele vai resolver. E não é assim. Para desenvolver alguma coisa é necessário ter uma base de pesquisa de muitos anos, laboratórios feitos. Todo país que tem uma resposta rápida é porque tem uma estrutura científica muito forte. A sociedade começou a perceber isso. Não acho que a ciência tivesse desestruturada, o governo é que tinha um discurso contrário à ciência.

No último governo a relação do governo com a academia foi muito tensa. Como o CNPq pretende se aproximar da sociedade?

Nós temos que fazer um esforço muito maior na divulgação da ciência nas redes sociais. É um problema que temos que aprender. Antigamente, a divulgação científica era feita em museus. Não é mais como funciona com os jovens. As redes sociais têm muitas vantagens, mas têm um defeito muito grande: elas são muito pouco profundas. Às vezes as pessoas colocam uma notícia que é errada, mas que vai ao encontro do que as pessoas querem acreditar. Participei de uma mesa redonda nos Estados Unidos e uma professora chamou atenção que o que aconteceu com as redes sociais não é só fake news. Mas criou na população em geral uma ansiedade por respostas rápidas e simples. Para problemas complexos, pode não haver respostas simplistas.

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