Apesar de perfil conciliador, especialistas veem Decotelli com receio após acusações

Novo ministro da Educação foi acusado de plágio em mestrado e de inventar título de doutor

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São Paulo

Acusado de plágio em sua dissertação de mestrado e de inventar um título de doutor que não tem, o novo ministro da Educação, Carlos Decotelli, foi elogiado pelo perfil conciliador e pacífico por profissionais do setor. As novas denúncias, no entanto, colocam seu nome sob suspeita, na avaliação de especialistas e ex-ministros, que pedem investigação dos casos.

Desde que foi anunciado novo ministro na última quinta (25), Decotelli teve que explicar que não obteve o título de doutor pela Universidade de Rosário, na Argentina, ao contrário do que constava em seu currículo, e foi acusado de plagiar ao menos quatro trabalhos acadêmicos em seu mestrado, apresentado em 2008 na Fundação Getúlio Vargas do Rio, além de um relatório da Comissão de Valores Mobiliários. Ele nega as acusações e diz que revisará o trabalho.

Professor da Universidade de São Paulo e ministro da educação em 2015, Renato Janine Ribeiro se diz decepcionado com as denúncias. “Quando ele tomou posse, torci para que conseguisse fazer uma gestão decente. As primeiras declarações foram positivas, torci para que fosse melhor que os dois anteriores”, diz.

“Mas as acusações são graves. Você não pode colocar no lattes um título [de doutor] que não tem. Da mesma forma, copiar partes no mestrado sem colocar referência é muito ruim. A pós-graduação é a joia da coroa do MEC, é o setor que funciona melhor. A questão é muito grave. A Capes [que organiza os cursos de mestrado e doutorado] fica subordinada ao ministro. Como ele vai ter autoridade sobre a pós-graduação com isso? É muito delicado”, afirma.

Maria Helena Castro, que foi secretária executiva do MEC no governo Temer e integra o Conselho Nacional de Educação, também diz que recebeu com satisfação a notícia da nomeação. “Comentam que ele é aberto ao diálogo, que estava ouvindo as secretaria de estados e municípios”, diz ela, que considera positivo ter um dirigente com essas características.

Ela afirma, no entanto, que ficou preocupada com as acusações, e que o cargo demanda transparência. Castro diz que seu próprio currículo informa que cursou um doutorado na USP, que não concluiu, e acredita que essa deveria ter sido a forma de como o novo ministro apresentar seu histórico.

Ela relembra acusação semelhante quando a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2009, era ministra da Casa Civil e dizia em seu currículo ser mestre pela Unicamp. Dilma, na verdade, cursou o mestrado, mas não concluiu a dissertação do curso. Na época, ex-presidente admitiu o equívoco e disse que não a concluiu em virtude do trabalho em cargos públicos.

Para Fernando Haddad, ministro da Educação entre 2005 e 2012, é preciso fazer uma análise técnica do mestrado de Decotelli, “sem partidarismos, independentemente de ele ser ministro ou não, com parâmetros objetivos. Se for considerado plágio, o título de mestre tem que ser cassado, e a Comissão de Ética Pública da Presidência tem que recomendar a demissão do cargo”, afirma.

“Se for plágio, ele não tem condições éticas de permanecer no cargo. Como vai se reunir com professores, doutores e cientistas se fraudou o mestrado?”, questiona ele sobre a acusação do mestrado, considerada pelo político ainda mais grave que a do doutorado que Decotelli cursou sem entregar a tese.

Aloizio Mercadante, que comandou a pasta em dois momentos nos governos Dilma, também foi acusado de autoplágio de sua tese de doutorado. Ele afirma que a acusação é infundada e que a Unicamp não constatou irregularidades à época.

Sobre o atual ministro, Mercadante diz que ele “já assume o MEC tendo que explicar não apenas o seu currículo e questionamentos sobre sua titulação, mas o desastre sem precedente das duas gestões anteriores do MEC durante o governo Bolsonaro, além do edital de R$ 3 bilhões, suspenso pela CGU por suspeitas de fraudes, de quando ele era presidente do FNDE. Falamos de algo extremamente grave.”

Em condição de anonimato, uma funcionária do FNDE que trabalhou ao lado de Decotelli o definiu como uma pessoa simpática, educada, que conversava com funcionários de todos os escalões e vez ou outra fazia brincadeiras. Ela avalia com bom o currículo do no ​vo ministro, mas diz que entendia pouco de políticas públicas de educação, e que sua experiência seria mais compatível com a pasta liderada por Paulo Guedes.

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