Por Nathalia Dielu, TV Globo


Apesar de decisão judicial, Paulista não retoma aulas presenciais nas escolas do município

Apesar de decisão judicial, Paulista não retoma aulas presenciais nas escolas do município

O prazo dado pela Justiça de Pernambuco para que as escolas e creches municipais voltem a ter atividades presenciais em Paulista, no Grande Recife, termina em 16 de março. Se não cumprir a determinação da Justiça, a multa é de R$ 20 mil por dia. Pais e responsáveis pelos alunos da rede pública de ensino na cidade dizem não saber se a volta às salas de aula vai, de fato, ocorrer (veja vídeo acima).

Notificada por intimação em 3 de março, a prefeitura de Paulista disse, por nota, que faz uma força-tarefa para tentar cumprir a decisão judicial e que está reformando escolas e ampliando a vacinação das crianças contra a Covid-19. Também informou que os alunos matriculados em escolas que forem apontadas como inviáveis para o retorno presencial vão continuar tendo aulas online.

As famílias contam que passam por dificuldades para conciliar aulas online das crianças e dos adolescentes, cuidado com eles e trabalho. Não são todas que conseguem deixar os filhos com algum parente e algumas mães afirmam que precisaram deixar de trabalhar para cuidar deles (confira relatos mais abaixo).

Em todo o estado, as escolas foram fechadas em 18 de março de 2020, mas não foram reabertas em Paulista, apesar da criação de um protocolo estadual para o retorno das aulas presenciais e da preocupação da Secretaria Estadual de Educação e Esportes com perdas de aprendizado e convivência devido às aulas remotas.

Em todo o estado, as escolas foram fechadas em 18 de março de 2020, mas não foram reabertas em Paulista — Foto: Reprodução/TV Globo

Após algumas famílias denunciarem essa situação, a Vara da Infância e Juventude da Comarca de Paulista concedeu uma liminar, no dia 17 de fevereiro, acolhendo vários pedidos do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e exigindo que Paulista voltasse com aulas presenciais em até dez dias úteis.

A decisão judicial é válida para todas as unidades municipais de educação básica em Paulista, tanto para o ensino infantil quanto para o ensino fundamental. Segundo a Justiça, a única possibilidade de manter a suspensão das atividades presenciais é caso haja piora na pandemia da Covid-19 a ponto de outras atividades econômicas e sociais serem interrompidas.

De acordo com o governo de Pernambuco, houve uma melhora significativa nos indicadores epidemiológicos e hospitalares na pandemia no estado, o que possibilitou o avanço no Plano de Convivência com a Covid-19 no início de março.

Reclamações

Dulcineide Ramos tenta fazer com que a sobrinha Maria Luna participe das atividades realizadas online em Paulista — Foto: Reprodução/TV Globo

Quem não tem com quem deixar as crianças, não pode ficar sem trabalhar e possui condições financeiras acaba pagando uma cuidadora particular. É o caso da encarregada de serviços de limpeza Dulcineide Ramos.

Ela é a responsável pela sobrinha Maria Luna, de 3 anos, que está matriculada em uma creche de Paulista desde janeiro. Por mês, Dulcineide paga R$ 450 a uma pessoa para ficar com a sobrinha para que possa trabalhar.

A tia da menina precisa acordar bem cedo todos os dias para arrumar Maria Luna e ir para o trabalho. As duas moram no bairro do Janga, em Paulista, e Dulcineide trabalha no Recife.

"Todo dia eu saio com essa criança pela manhã, pego um ônibus e vou para Recife. Chega lá tem uma babá que toma conta, pega ela no meu trabalho, umas 8h, e entrega no fim da tarde, umas 18h. E eu pego o ônibus de volta. Então é todo um transtorno. Se a creche já tivesse iniciado as aulas, não aconteceria isso. Deixava a criança na creche e iria trabalhar", disse Dulcineide.

A Creche Escola Jesus de Nazaré, no bairro do Janga, permanece fechada para os alunos. Mãe de Elisa, de 5 anos, e Eduarda, de 3 anos, Isabela Chagas está sem trabalhar desde fevereiro porque não tem com quem deixar as duas filhas.

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"Não tenho condições de pegar uma pessoa, porque o custo é alto. Para pagar hotelzinho e escola, também não tem condições. E a situação que hoje eu estou vivendo é esta: eu fico em casa com as minhas filhas, e meu marido trabalha. Hoje é a única renda que a gente está tendo. Com as escolas e creches fechadas, está muito complicado para trabalhar", contou Isabela.

Com creche fechada, Jacqueline Barbosa e Isabela Chagas não têm com quem deixar os filhos — Foto: Reprodução/TV Globo

A situação da catadora de recicláveis Jacqueline Barbosa também é difícil. Ela tem um filho hiperativo e afirmou que está sofrendo para garantir a alimentação da família e para dar assistência ao menino.

"Tenho que deixar com alguém e é R$ 20, R$ 30, todo dia, e eu não tenho. Eu já estou cansada de, algumas vezes, não ter nem o que comer e ter que deixar o meu filho na casa dos outros", disse Jacqueline, emocionando-se ao relatar a sua situação atual.

Entenda o caso

As aulas presenciais, em Paulista, seriam retomadas no dia 7 de fevereiro de 2022. Entretanto, em janeiro, a gestão municipal decidiu adiar a retomada para 14 de março deste ano. A justificativa informada foi a piora da Covid-19 e a epidemia da Influenza A H3N2 em Pernambuco.

Quando as aulas foram suspensas, o prefeito de Paulista era Júnior Matuto (PSB). Yves Ribeiro (MDB), atual chefe do Executivo, assumiu a gestão da cidade em 2021 e optou por manter as escolas da rede municipal sem atividades presenciais.

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) acolheu todos os pedidos feitos pelo MPPE. O juiz Ricardo de Sá Leitão Alencar Júnior determinou que Paulista realize, até a data de reinício das aulas, as ampliações e adequações necessárias nas escolas e creches municipais (veja vídeo abaixo).

Justiça manda Paulista retomar aulas presenciais

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Isso inclui, por exemplo, reformas ou disponibilização de mais imóveis devidamente adequados à finalidade educacional para receber os alunos com a adoção de distanciamento mínimo para evitar a Covid-19.

Além disso, a prefeitura deve fazer uma avaliação diagnóstica e organizar programas de recuperação e reensino, "cumprindo, de modo contínuo, os objetivos de aprendizagem que considerem as habilidades e as competências necessárias a serem desenvolvidas pelos estudantes ao longo do período".

A prefeitura de Paulista também deve retomar a prestação do transporte escolar acessível aos estudantes da rede municipal.

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