Antônio Gois
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Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.

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Apenas um terço dos formados em cursos de licenciatura acabam, efetivamente, dando aulas na educação básica. O dado é de um artigo dos pesquisadores Alvana Maria Bof, Luiz Zalaf Caseiro e Fabiano Cavalcanti Mundim — todos do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) —, e foi publicado no mês passado no Caderno de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais. A estatística é mais uma a confirmar um grave problema — talvez o maior de todos — da educação brasileira: a baixa atratividade da carreira docente.

Esta significativa perda na transição da conclusão do ensino superior para as salas de aula da educação básica até poderia ser interpretada como positiva, caso fosse motivada por uma alta concorrência nos concursos para o magistério público, que permitisse às redes de ensino selecionarem apenas uma minoria de candidatos mais preparados. Mas não é o que ocorre. O grave, conforme demonstram os autores no artigo, é que o fenômeno se insere num quadro preocupante de apagão de professores com formação adequada para dar aulas nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.

Para chegar a esta conclusão, Bof, Caseiro e Mundim analisaram várias etapas da cadeia de formação docente. Outros estudos já demonstraram, por exemplo, que é baixo o percentual de estudantes do ensino médio que cogitam a carreira docente como primeira opção. Isso faz com que o desempenho médio desses jovens no Enem já seja menor em comparação com cursos mais disputados.

A etapa menos problemática de toda a cadeia — sem entrar aqui na questão da qualidade — é a oferta de cursos de formação de professor. Na verdade, sobram vagas. A taxa de ociosidade é ainda maior nos cursos à distância, mas o problema não se restringe a eles: mesmo na modalidade presencial em universidades públicas, o número de vagas não preenchidas vem aumentando nos últimos anos.

O ingresso num curso de licenciatura, portanto, não é um problema, mas conseguir se manter até a sua conclusão, sim. Neste caso específico, o fenômeno não ocorre apenas na área de formação de professores. Em todo o ensino superior, a taxa de desistência de um curso foi de 58% em 2022 (considerando aqueles que ingressaram em 2013). Ela chega, no entanto, a 65% em licenciaturas de química e filosofia, a 67% em matemática e a 72% em física, de acordo com o Censo da Educação Superior.

O estudo de Bof, Caseiro e Mundim mostra que, mesmo se todos os concluintes em licenciaturas fossem contratados pelas redes de ensino, a oferta já não seria suficiente para atender à demanda em todos os estados, especialmente nas áreas de física, artes e sociologia. O problema, conforme destacado no primeiro parágrafo desse texto, é que apenas cerca de um terço desses formados acaba atuando depois em salas de aula da educação básica.

“Levando em conta esses resultados, não é exagero dizer que já estamos vivenciando um ‘apagão’ de professores com formação adequada em vários componentes curriculares da educação básica, particularmente nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. E, se continuar tudo como está, principalmente em termos da atratividade da carreira docente, esse ‘apagão’ de professores poderá se agravar”, concluem os autores no artigo.

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