Por g1 Sorocaba e Jundiaí


Crianças que se cortaram com lâmina de apontador em escola de Jarinu (SP) relataram solidão e tristeza — Foto: Fantástico/Reprodução

No dia 30 de março, uma Escola Estadual de Jarinu (SP) notificou a Secretaria de Educação sobre nove alunos, com idades entre 11 e 12 anos, que se cortaram no banheiro da escola com lâminas de apontador. A ação foi em decorrência de uma crise de ansiedade. Os estudantes, do sexto e sétimo anos do ensino fundamental, relataram solidão e tristeza aos pais.

O que parece um caso isolado pode ser mais frequente do que se conhece. Um mapeamento feito pelo Estado de São Paulo, em 2021, aponta que 69% dos estudantes avaliados relatam sintomas de depressão e ansiedade. O que representa mais de 443 mil estudantes.

A psicóloga e psicanalista Carolline Rangel explica que a crise de ansiedade pode ter vários aspectos que aparecem no corpo, assim como sintomas físicos. Geralmente surgem como uma dificuldade na respiração, sudorese, coração acelerado, sensação de desespero e falta de controle.

"Esse é um ponto muito difícil para pensarmos em uma crise de ansiedade. A angustia é interna, não necessariamente a gente vai ver algo no externo que possa localizar o porque que aquilo foi desencadeado", explica.

"Trata-se de algo que é subjetivo. De repente a criança ou o adolescente pode ter visto alguma coisa, pode ter escutado naquele momento e aquilo ativou aquele sentimento. Nem sempre é claro no externo", afirma Carolline.

Ainda de acordo com a especialista, alguns adolescentes e crianças podem não manifestar o sofrimento e isso não quer dizer que esteja tudo bem.

"Pensando em adolescentes um pouco mais velhos, existe algum comportamento que seja muito marcado. Aquele jovem que era muito falante, muito animado e de repente ele se cala, algo muito abrupto, são situações que a gente consegue perceber', diz.

Para os pais, a recomendação da profissional é que a casa não seja um ambiente de silêncio e interdições, mas que as relações possam permitir que esse jovem expresse que tem algum sofrimento. "Ele não precisa dizer para os pais o que é, mas quando os pais perguntam se ele gostaria de fazer algum atendimento. Talvez eles possam aceitar essa oportunidade", conta Carolline.

"Os pais precisam ser mais sensíveis também, de verificar se está muito silencioso, está apresentando um choro muito fácil, muito frequente. Se recusa estar com os amigos, são sinais", completa a profissional.

Ainda conforme Carolline, os responsáveis precisam abrir o diálogo com o filho adolescente. Já com as crianças, a percepção deve ser ainda maior.

"Precisa de uma delicadeza dos pais para perceber se ela [criança] está apresentando algum comportamento na escola. Vamos adaptando a cada idade e depende tanto da fala do jovem, quanto da sensibilidade dos pais perceberem aquele sofrimento que as vezes está muito escondido", comenta a psicóloga.

Carolline explica que a pandemia também pode ter potencializado as crises de ansiedade nas crianças e jovens. "Especialmente para os adolescentes, é uma época em que os corpos estão em movimento, a descoberta das coisas, o contato com o outro, isso já é cheio de angustia, mesmo antes da pandemia. Com certeza a pandemia colaborou para que esses sintomas aparecem. E esse pós que você tem que voltar de maneira intensa, certamente isso foi difícil para o adulto, mas principalmente para os jovens e para as crianças."

"É preciso muita paciência e tolerância dos pais, muita sensibilidade e delicadeza da escola também de perceber que não é um momento qualquer", conclui.

Ansiedade nas escolas

Crianças que se cortaram com lâmina de apontador em escola relataram solidão e tristeza

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Os alunos que se cortaram usando uma lâmina de apontador na sala de aula e no banheiro de uma escola estadual de Jarinu, em decorrência de uma crise de ansiedade coletiva, relataram solidão e tristeza aos pais. O caso foi mostrado pelo Fantástico neste domingo (17) (assista acima).

A Secretaria Estadual de Educação informou que, inicialmente, duas alunas se automutilaram. Em seguida, outros sete, com idades entre 11 e 12 anos, também se cortaram. Eles são alunos do sexto e sétimo anos do Ensino Fundamental.

Uma das meninas relatou na presença da mãe, em entrevista ao Fantástico, que os cortes foram uma forma de lidar com a tristeza que ela sentia por ficar sozinha.

“Eu achava que me machucar - de qualquer maneira - podia aliviar aquela dor que eu senti”, disse.

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Uma outra aluna disse que ela e os colegas que se cortaram tinham problemas na família e tristeza. A escola notificou a Secretaria Estadual no dia 30 de março, assim que soube do caso. O órgão informou que fará acompanhamento psicológico.

Em nota, o Conselho Tutelar de Jarinu disse que foi avisado e está tomando todas as medidas cabíveis e acompanhando os alunos envolvidos.

Crise de ansiedade coletiva no Recife

No Recife, quase 30 estudantes foram socorridos depois de uma crise de ansiedade coletiva. O caso aconteceu no dia 8 de abril quando alunos de uma escola estadual passaram mal e alguns desmaiaram. Eles foram atendidos por equipes do Samu.

Diante da quantidade de adolescentes, o Samu ativou o protocolo de atendimento de múltiplas vítimas. Os estudantes tiveram que ser atendidos no local mesmo, mas ninguém precisou ir pra um hospital.

Os casos criaram um alerta sobre a saúde mental de crianças e adolescentes após a pandemia de Covid-19.

Um mapeamento feito pelo Governo de Pernambuco mostra que, em 2021, 69% dos estudantes da rede estadual que responderam o questionário relataram sintomas de depressão e ansiedade. A taxa representa mais de 440 mil alunos.

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