Anistia Internacional afirma que ações do governo federal agravaram pandemia no Brasil
Um relatório mundial da Anistia Internacional identificou falhas do governo brasileiro na pandemia e o agravamento de violações de direitos humanos no país.
Os grupos historicamente mais vulneráveis são, de longe, os mais afetados. A Anistia Internacional cita a CPI da Covid, que mostrou ações descoordenadas e ineficientes por parte do governo federal na compra de vacinas e falta de comprometimento com evidências científicas. A Anistia afirma que 120 mil mortes poderiam ter sido evitadas até março de 2021.
Além da pandemia, mais da metade da população enfrentou insegurança alimentar em algum nível. A fome afetou 9% dos domicílios - aproximadamente 19 milhões de pessoas. Entre as comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas, o índice é ainda maior: 12%.
O documento diz também que, segundo um estudo da Universidade de São Paulo, a redução do auxílio emergencial levou mais pessoas a viver na pobreza. As mulheres negras foram as mais afetadas: 38%.
Pobreza que afastou muitas crianças e jovens do ensino remoto, por falta de acesso à tecnologia. Em 2021, o Enem registrou o menor número de candidatos em 13 anos.
As estatísticas reunidas pela Anistia Internacional mostram, ano a ano, que as mortes violentas no Brasil têm cor e gênero. Em 2020, quase 6,5 mil pessoas morreram em ações da polícia - jovens negros em sua maioria.
E o Brasil é o país onde mais se mata pessoas trans no mundo, seguido do México e dos Estados Unidos. Direitos violados também pelo aumento das invasões, principalmente em terras indígenas. E a Amazônia brasileira perdeu 13 mil quilômetros quadrados de florestas. O relatório destaca ainda ataques à liberdade de expressão por parte do governo federal.
“É preciso recolocar o Brasil na trajetória correta do respeito aos direitos humanos, e é urgente. Daí a gente estar lembrando ao presidente da República, sua equipe e a todos e todas que é obrigação, é dever fazer cumprir isso. E devem parar, imediatamente, com as violações que estão acontecendo”, afirma Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil.
O Palácio do Planalto não se manifestou sobre o relatório.
CORREÇÃO: Em 30 de março, o Ministério da Saúde procurou o Jornal Nacional para corrigir a informação, publicada no dia 29 de março, segunda a qual o ministério havia comprado mais de 476 milhões de doses de vacinas contra a Covid. O ministério afirma que esse foi o número de doses distribuídas, que 400 milhões foram aplicadas e que contratou 650 milhões de doses. O Ministério da Saúde divulgou esses números em resposta ao relatório mundial da Anistia Internacional que denunciou falhas do governo brasileiro na gestão da pandemia.