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Brasil Educação

Análise: Dados do Censo Escolar dão poucos motivos para comemorar

Ainda não há sinais de que o ensino médio esteja se tornando mais atrativo
As matrículas em escolas de tempo integral no ensino médio tiveram aumento de 22%, de 2016 para 2017. Mas a simples ampliação da jornada não garante melhoria da qualidade Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo
As matrículas em escolas de tempo integral no ensino médio tiveram aumento de 22%, de 2016 para 2017. Mas a simples ampliação da jornada não garante melhoria da qualidade Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

RIO - Em seu material de divulgação do Censo Escolar, o MEC comemorou o fato de as matrículas em escolas de tempo integral no ensino médio terem aumentado em 22%, de 2016 para 2017. Este dado foi destacado como uma demonstração de que as mudanças realizadas pela atual gestão já começam a dar resultado no caminho de um “modelo de ensino médio mais atrativo para os estudantes”. Não surpreende o fato de o ministério pinçar um dado positivo para sua análise. Entra governo, sai governo, e a praxe na divulgação dos dados educacionais tem sido a de realçar feitos da atual gestão, jogando expectativas de melhoria para o futuro, e atribuindo fracassos aos antecessores.

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A simples ampliação da jornada não garante melhoria da qualidade, mas o aumento no número de alunos em escolas de tempo integral no ensino médio é sem dúvida positivo, ainda que o percentual disso no total de matrículas seja de apenas 8,4%. Os números ficam menos positivos, porém, quando incluímos nessa estatística os dados do ensino fundamental. Entre 2015 e 2016, esse segmento sofreu uma queda brutal no número de alunos estudando em tempo integral: de 16,7% para 9,1%. Em 2017, o percentual registrado foi de 13,9%.

Somando os números dos ensinos fundamental e médio, o que temos ao final é que o aumento das matrículas em tempo integral de 2016 para 2017 foi ainda insuficiente para repor a perda de 2015 para 2016. Em números absolutos, estamos falando de 700 mil matrículas a menos em tempo integral (de 5,1 para 4,4 milhões) no intervalo de dois anos.

Há pouco, portanto, a comemorar. E há ainda menos motivos quando verificamos que as matrículas totais (tanto em tempo parcial quanto integral) no ensino médio registraram diminuição de 8,1 para 7,9 milhões. Parte desse recuo se deve ao fato de a população jovem estar em queda no país e de haver um número menor (mesmo que ainda inaceitável) de estudantes atrasados no sistema por motivos de repetência. O problema maior aqui não está no tamanho da queda, mas no fato de que deveríamos estar na direção oposta. Em 2016, segundo o IBGE, a população na faixa etária de 15 a 17 anos (adequada para o ensino médio) somava 10,6 milhões. A diferença entre esse número e os cerca de 8 milhões de matrículas no ensino médio é explicada pelo fato de termos ainda muitos alunos atrasados (frequentando o fundamental quando já deveriam estar no médio) ou, pior, que já abandonaram a escola.

Infelizmente, ainda não há sinais de que o ensino médio esteja se tornando mais atrativo.

*Antonio Gois é colunista de Educação do GLOBO