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Brasil

Análise: Comparação com Weintraub é o grande trunfo de Decotelli

O que parecia improvável – Bolsonaro promover uma mudança no MEC enfraquecendo a ala olavista – acabou acontecendo
Assinatura do Termo de Posse do senhor Carlos Alberto Decotelli, Ministro da Educação Foto: Marcos Correa / Agência O Globo
Assinatura do Termo de Posse do senhor Carlos Alberto Decotelli, Ministro da Educação Foto: Marcos Correa / Agência O Globo

O que até pouco tempo parecia improvável – Bolsonaro promover uma mudança de rumos no MEC enfraquecendo a ala olavista – acabou acontecendo com a escolha de Carlos Alberto Decotelli para o cargo de ministro da Educação. Ainda é cedo para analisar o quanto essa troca impactará na prática a condução das políticas públicas do setor, mas é certo que Decotelli tem perfil bem distinto de seu antecessor.

O novo ministro não era conhecido do setor educacional até ser nomeado, no ano passado, para o cargo de presidente do FNDE, importante autarquia do MEC responsável por vários programas de apoio financeiro a Estados e municípios. Mas tem uma carreira acadêmica com especialização em gestão. Pessoas que trabalharam diretamente com ele afirmam que seu estilo é oposto ao de Weintraub, um indício de que o titular da pasta deixará de chamar a atenção pelas agressões e polêmicas. Sua escolha foi bem recebida por secretários de educação, que sempre criticaram a falta de diálogo do antigo ocupante do cargo.

Analítico: Os sinais de que o novo ministro da Educação não quer repetir o antigo

Por ser uma indicação dos militares, Decotelli chega ao MEC com algum respaldo na briga com os olavistas, que tentaram emplacar outros nomes, com perfis mais próximos ao de Weintraub, dessa vez sem sucesso. O novo ministro, enquanto presidente do FNDE, com frequência era alvo de articulações internas do grupo, e nunca foi próximo do ex-ministro.

Há um outro ponto positivo a ser destacado: a galeria de ministros que passaram pelo MEC mostra que, com apenas duas exceções, o cargo sempre foi exercido por homens brancos. Os únicos que não se encaixam nesse perfil foram Esther de Figueiredo Ferraz (governo Figueiredo), até hoje a única mulher a ter ocupado o cargo, e José Henrique Paim Fernandes (governo Dilma), primeiro ministro negro da Educação.

Olhando para o futuro, há sérios desafios educacionais pela frente, a começar pela grave crise causada pela Covid-19, que estados e municípios tiveram até agora que enfrentar sem a necessária liderança do MEC. A pandemia acabou atropelando também a tramitação de um dos mais importantes projetos de lei para definir o futuro do setor no Brasil: o Fundeb. O fundo atual, maior fonte de financiamento da educação básica, deixa de vigorar no final do ano, e o Congresso se encaminhava para aprová-lo com aumento de repasses da União. Num contexto de grave crise fiscal pela frente, garantir recursos suficientes e com gestão eficiente para o financiamento da educação básica será das tarefas mais prioritárias na agenda do novo ministro.

Suceder uma administração marcada por ineficiência, polêmicas e conflitos permanentes dá para Decotelli um grande trunfo em seu início de gestão. Na comparação com Weintraub, qualquer ministro que devolvesse a civilidade e o decoro ao cargo já seria considerado um avanço. Isso, porém, não basta para fazer o país avançar numa área tão crucial para seu desenvolvimento.