Alunos retornam para sala de aula após mais de 20 anos sem estudar no AC
Raimunda Nonata Gomes e Maricelson Feitosa compartilham muito mais do que experiência de vida, dividem o sonho de concluir os estudos e, até mesmo, cursar uma faculdade. Os dois são alunos da modalidade Educação para Jovens e Adultos (EJA) e voltaram para a sala de aula após mais de 20 anos sem estudar.
Raimunda estava sem ir a escola há 30 anos. Feitosa estava há menos tempo, 24 anos. Os dois estudam em Cruzeiro do Sul, interior do Acre.
É pensando no sonho e conhecimento que Raimunda encara três horas dentro de sala. Ela decidiu retornar um sonho antigo: depois de concluir o ensino médio, pretende ingressar na faculdade e se formar em assistente social.
Raimunda Nonata voltou para sala de aula após 30 anos sem estudar — Foto: Reprodução
“Pra mim é um prazer, me sinto feliz e alegre em estar com esse povo maravilhoso e jovem. A gente brinca, quando precisa fala uma palavra amiga e é uma oportunidade que Deus me deu de volta, de estar vivendo tudo isso. É um sonho também, porque na minha família todo mundo é formado, tem faculdade e eu também quero realizar o sonho da família”, planeja.
Muitos dos alunos trabalham e estudam no período da noite — Foto: Reprodução
Nunca desistir
Atualmente pastor em uma igreja evangélica, Feitosa também viu a necessidade de voltar a estudar. Para ele, a vida é um desafio e conta que está tendo várias novas experiências.
“A palavra desistência não faz parte do meu dicionário. Perseverança e lutar. Pra nós, que estamos na sala de aula, tem duas coisas que temos que fazer: se esforçar e não desistir nunca. Estamos aqui, porque olhamos para o desânimo, mas encaramos de frente esse desafio”, confirma.
Modalidade
A EJA é uma modalidade de ensino que dá a oportunidade para as pessoas que não tiveram acesso a educação na escola convencional e idade apropriada.
“Importante é isso, que as pessoas estejam com desejo de buscar resgatar aquilo perderam com o tempo. O bonito da EJA é isso, é trazer as pessoas que, por algum motivo, deixaram de estudar e querer retornar”, explica o coordenador geral da EJA no município, José Adriano.
Para a professora Marizor Rocha, o grande ganho é enxergar esse aluno como protagonista de suas ações e oferecer a ele uma educação atraente e condizente com o mundo em que vive.
Para Maricelso Feitosa, ideia é nunca desistir e continua persistindo no sonho — Foto: Reprodução
“É uma clientela diferente, que a EJA é oferecida para aqueles alunos que trabalham e que não tiveram a oportunidade de estudar no tempo certo. Trabalhamos diferenciado com nossos alunos porque muitos chegam do trabalho, tomam um banho, trocam de roupa e chegam [na escola]. Não importa a idade, o importante mesmo é estudar para conquistar um espaço no mercado de trabalho”, aconselhou.
Atualmente em Cruzeiro do Sul, a modalidade atende cerca de 1.200 alunos. Com o encerramento do primeiro semestre, novas vagas estão sendo ofertadas à comunidade.
“Em relação as pessoas que podem estudar: ensino fundamental a partir dos 15 anos e ensino médio a partir dos 18 anos as pessoas já podem procurar as escolas que oferecem o ensino EJA”, concluiu o coordenador.