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‘Alunos não devem ser apenas repetidores de informações’, diz professor Nelson Pretto

Convidado do Educação 360 STEAM, especialista diz que tecnologia deve instigar estudantes a produzir conteúdo
Nelson Pretto participou do Educação 360 em 2015 e retorna ao evento este ano Foto: Pablo Jacob / O GLOBO
Nelson Pretto participou do Educação 360 em 2015 e retorna ao evento este ano Foto: Pablo Jacob / O GLOBO

RIO — A tecnologia precisa estar a serviço da educação, e não o contrário. É isso que defende Nelson Pretto, professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Formado em Física, mestre em Educação e doutor em Comunicação, Pretto afirma que os aparatos tecnológicos devem facilitar o processo criativo, instigando o aluno a produzir conteúdo, em vez de somente reproduzir informações.

Pretto é um dos participantes do Educação 360 STEAM — sigla que, em inglês, junta as palavras Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática —, evento que discute um modelo educacional baseado na integração de disciplinas das ciências exatas e e das artes com a sociedade, e que será realizado no dia 27 de agosto, no Museu do Amanhã, com debates, estudos de caso e workshops.

O Educação 360 STEAM é uma realização dos jornais O Globo e Extra, com patrocínio do Colégio pH e da Fundação Telefônica Vivo, e o apoio institucional da Revista Galileu, do site Techtudo, TV Globo, Canal Futura, Unicef e Unesco.

Qual é o lugar da tecnologia dentro das escolas?

O foco precisa ser na educação, e não na tecnologia. Os equipamentos são facilitadores para os jovens e professores tornarem-se produtores de cultura e conhecimento, em vez de meros consumidores de informação. A escola deve ser um espaço de emancipação e formação das juventudes; não podemos pensar em soluções educacionais para serem consumidas como produto.

Você acredita em um modelo educacional interdisciplinar?

A estrutura disciplinar acomoda, enquanto a escola é, essencialmente, um espaço de rebeldia. O aluno precisa ser um leitor desconfiado de tudo aquilo que encontra na internet. Com as máquinas, que são ferramentas de criação e edição, nós preparamos a meninada para editar o mundo. Portanto, é importante ter escolas conectadas com banda larga e equipamentos de qualidade. Também em função disso, a escola tem que ter a capacidade de ficar offline. Tão importante quanto estar conectado é estar desconectado. Mas não podemos estar desconectados por ausência do poder público. É responsabilidade do Estado fornecer condições concretas para que alunos e professores possam efetivamente interagir por meio das tecnologias.

É viável implementar a educação STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, na sigla em inglês) nas escolas públicas brasileiras em curto prazo?

É viável desde que tenhamos políticas públicas que respeitem e valorizem a educação. É preciso haver escolas com infraestrutura de qualidade, professores bem formados na faculdade e uma política salarial que torne a carreira do educador atrativa, para que ele permaneça lecionando com empenho.

A dificuldade de implantação desse modelo pode ser driblada pelos professores que lecionam em canais na internet? Essa é uma maneira válida de acessar os alunos?

O esforço individual de cada professor deve ser reconhecido e valorizado. Mas não podemos pensar o futuro da educação colocando nas costas do professor a responsabilidade de substituir o Estado, que tem obrigação constitucional de dar acesso ao ensino de qualidade. É muito importante que os docentes usem todos os recursos disponíveis dentro das redes, mas isso não é política pública. Para que o sistema educacional possa avançar, é necessário desenvolver projetos governamentais de educação, cultura, ciência e tecnologia, telecomunicações e, até mesmo, trabalho e renda ou desenvolvimento industrial. Se todas as escolas tiverem parque tecnológico, estaremos formando cientistas, ampliando o mercado de trabalho e as possibilidades de produção nacional.

O objetivo de inserir a tecnologia na educação é formar profissionais mais qualificados para o mercado de trabalho ou tornar a aprendizagem mais atrativa para o aluno?

A função da escola não é preparar para o mercado de trabalho, é preparar para o mundo do trabalho. Por exemplo, hoje podemos achar importante treinar os profissionais para usar computadores e, daqui a alguns anos, talvez não sejam esses equipamentos que estarão nas empresas. É preciso capacitar os jovens para lidar com qualquer tipo de tecnologia do futuro. Esse cidadão precisa estar habilitado para viver plenamente a sociedade contemporânea. Já a função das tecnologias e dos professores não é fazer com que a escola seja mais alegre e divertida, é fazê-la ter sentido para a juventude. Até porque não teremos recursos para que essas máquinas sejam sempre as mais modernas e atrativas. Não se trata de fisgar alunos ou animar salas de aula, e sim de dar outro sentido para a educação usando essas tecnologias como pilar estruturante. A escola deve ser uma dinâmica viva inserida na sociedade atual, e não meramente um acessório que prepara alunos para serem mão de obra.

Como esse modelo pode ser implementado no currículo escolar?

Não queremos internet nas escolas, queremos as escolas na internet. A primeira leva o que está fora para dentro do ambiente escolar. Ter a escola dentro das redes significa que cada membro da comunidade está colaborando para construir os espaços virtuais com suas vivências. Podemos ter aulas sofisticadas de robótica e inteligência artificial e continuar repetindo o mesmo padrão educacional. É possível não ter equipamento algum e fazer um trabalho fantástico, o ponto é que a tecnologia torna isso muito mais fácil. Todos esses aparatos tecnológicos são fundamentais se estiverem inseridos num projeto de escola e sociedade que pense os alunos como produtores de conteúdo e não apenas como repetidores de informações.

Saiba mais sobre o Educação 360 STEAM

O que é:

O evento Educação 360 STEAM vai reunir profissionais brasileiros e estrangeiros para debater como o aprendizado e o mercado de trabalho têm se modificado a partir da integração de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática (que formam a sigla STEAM, em inglês). Educadores, gestores, pensadores e empresários vão discutir sobre o futuro da educação a partir de métodos inovadores e experiências no Brasil e no exterior, numa série de debates, estudos de caso e workshops abertos ao público.

Quando:

Dia 27 de agosto, das 10h às 19h.

Onde:

O evento será realizado no Museu do Amanhã, na Praça Mauá 1, no Centro.

Inscrições:

Quem quiser participar pode se inscrever gratuitamente a partir do próximo domingo, dia 11, pelo site www.educacao360.com , que reúne toda a programação.

Destaques do evento:

O Educação 360 STEAM terá convidados como a física Belita Koiller, o biólogo Hugo Aguilaniu, o professor e pesquisador em Matemática Greiton Toledo de Azevedo e o escritor de ciências alemão Stefan Klein. Inovações pedagógicas serão discutidas pelo professor da UFBA Nelson Pretto, pelo especialista em tecnologias educacionais Leandro Holanda e por Lucia Dellagnelo, diretora do Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB). Já o consultor e doutor em Educação Marcus Garcia e o jornalista Caio Túlio Costa participarão de um painel sobre Internet das Coisas, que prevê a conexão de objetos e espaços à internet. A inclusão da mulher na produção científica também será abordada pela professora de Química Anita Canavarro, pela fundadora e CEO da Mastertech, Camila Achutti, e pela médica e doutora em Ciências Biológicas Denise Carvalho, reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na área de artes, o artista plástico Vik Muniz e o educador Max Frieder vão debater sobre papel da cultura na transformação social, enquanto o roteirista e diretor Tadeu Jungle vai falar sobre a realidade virtual como ferramenta de educação. O Educação 360 STEAM terá ainda workshops sobre temas como os recursos digitais de aprendizagem, por Americo Mattar, diretor presidente da Fundação Telefôniva Vivo.