Por Poliana Casemiro, G1 Vale do Paraíba e Região


Salas de aulas são em contêineres e ficam embaixo de quadra coberta — Foto: Divulgação/PMSJC

Estudantes e professores da escola instalada em contêineres no bairro Pinheirinho dos Palmares sofrem com a falta de estrutura da unidade e reclamam do avanço da violência no local. A unidade recebe os estudantes do conjunto habitacional desde fevereiro, implantada de forma provisória até a construção de um imóvel de alvernaria. A prefeitura afirma que a licitação para a obra deve ser aberta na próxima semana.

Foram investidos R$ 558 mil nas 15 salas de aula em contêineres, que atendem em média 35 alunos e são climatizadas com ar-condicionado. O contrato com a empresa que loca a estrutura encerra em abril de 2018. A promessa era de que a instalação seria uma medida provisória, até a construção de uma unidade de alvenaria.

Apesar disso, oito meses após o início das aulas, o processo para contratar a obra ainda não começou. Segundo a prefeitura, o edital será lançado nos próximos dias, com investimento previsto de R$ 14 milhões.

A escola atende os alunos do conjunto criado para receber os moradores retirados da área do antigo Pinheirinho, desocupada em 2012. Os moradores receberam as chaves os imóveis no final de dezembro.

Foram investidos R$ 588 mil em unidade — Foto: Divulgação/PMSJC

Infraestrutura

A ‘escola de lata’ onde hoje são atendidos cerca de 900 alunos não tem biblioteca ou laboratórios. As salas atendem os alunos, agrupados em turmas de 35 pessoas, e o setor administrativo. As aulas são no modelo tradicional, à base de lousa e papel. Os computadores e lousas interativas disponíveis para outras escolas da rede não chegaram lá, segundo os professores.

Os educadores reclamam que os alunos se sentem marginalizados, pois a unidade não parece uma escola como as outras da rede municipal.

“A ideia era dar dignidade às pessoas com a moradia, mas esqueceram que, igualmente, é necessário dar educação digna. Não vemos isso aqui. Se existe contraste social, ele começa na escola”, comenta um professor que não quis se identificar.

Os educadores contam que os poucos equipamentos apresentam defeitos. Professores têm que parar aulas para o rodízio com data show. Não há espaços para atividades de artes e educação física.

A precariedade na estrutura também é uma reclamação dos pais. “Falta material para a aula, equipamentos. Sempre meu filho reclama de que a aula teve de ser parada. Além dos problemas respiratórios por causa do espaço, que é precário”, conta Cristina Pereira mãe de um aluno de 12 anos.

Cristina Ramos, 27, é mãe de um aluno de oito anos e conta que ter recebido a casa a fez se sentir obrigada a aceitar a situação a que o filho está exposto.

“Não parece uma escola de verdade, mas eu sinto que é o que podemos ter. Se não fosse assim, ainda estaríamos na rua ou com ele sem ter onde estudar. Se é justo eu não sei, mas é o que podemos ter”

Casas de novo conjunto habitacional foram entregues no final de 2016 — Foto: Edgar Rocha/TV Vanguarda

À margem

Para o promotor da Infância e Juventude, Fausto Junqueira, as crianças, jovens e adolescentes estão distantes de ensino e lazer de qualidade e a união dos fatores os expõe à criminalidade.

"O bairro é um aglomerado de pessoas com acesso a pouca infraestrutura, estão em um bolsão de miséria"

“Essas crianças e jovens estão longe de opções de lazer e de educação de qualidade, o que os expõe a ociosidade e é um prato cheio para serem usados pela criminalidade. Isso traz um risco social enorme, que é o de criar uma periferia no lugar”, completa.

A escola começa a sentir os primeiros sinais do diagnóstico da promotoria. Na última semana foram registrados dois boletins de ocorrência na Polícia Civil, e a Delegacia de Infância e Juventude (DIJU) foi acionada para denúncias de agressão e ameaça de alunos contra professores. Eles contam que já precisaram sair escoltados do local.

“A gente tem medo de ir trabalhar. Nos sentimos tão à margem quanto eles. Eles se sentem desamparados e nós também. Além de não ter a mínima assistência pedagógica, também não temos segurança”, diz uma professora que preferiu não se identificar.

Promotor aponta que bairro isolado não oferece estrutura de educação ou lazer — Foto: Arquivo Pessoal

Outro lado

Sobre a estrutura da escola, a prefeitura confirmou que não há laboratórios ou biblioteca, mas que os livros podem ser emprestados de outras unidades.

“Assim como em todas as demais escolas da rede municipal, as atividades pedagógicas são desenvolvidas normalmente no Pinheirinho dos Palmares e, quando necessário, são utilizados equipamentos e materiais didáticos de outras unidades escolares, de maneira itinerante”, diz a nota.

Sobre a violência, informou que atua com o apoio da Guarda Municipal com rondas diárias e que os alunos passam pelo Serviço de Orientação Educacional (SOE), que também faz o registro das ocorrências.

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