Rio

Alunos do Pedro II que simularam ‘banca do tráfico’ podem ser transferidos em caso de reincidência

Pais de estudantes assinam termo de responsabilidade durante reunião com a direção da escola
Polêmica. Durante exposição, estudante posa para foto segurando réplica de fuzil na cor dourada Foto: Agência O Globo
Polêmica. Durante exposição, estudante posa para foto segurando réplica de fuzil na cor dourada Foto: Agência O Globo

RIO - Os familiares dos quatros estudantes do Colégio Pedro II em São Cristóvão que representaram o tráfico de drogas durante uma apresentação de trabalhos dos alunos do terceiro ano assinaram, nesta quarta-feira, um termo de responsabilidade durante uma reunião com a direção da unidade de ensino. O documento, segundo o diretor adjunto para o ensino médio da escola, Reinaldo dos Santos, sinaliza que esses alunos poderão ser transferidos caso se envolvam em novos problemas durante a rotina acadêmica.

- Conversamos longamente com os pais. Eles ficaram muito preocupados e se comprometeram a ficar mais atentos. Somos educadores, estamos aí para isso. Se tiverem qualquer ocorrência, mesmo as mais leves, serão transferidos imediatamente. A gente até compreende que não houve premeditação, reproduzindo aquilo que eles veem. Não pode, entretanto, rescindir - afirmou o diretor adjunto para o ensino médio, Reinaldo dos Santos.

A escola acrescentou ainda, como O GLOBO noticiou nesta terça-feira, que acontecerá uma série de atividades pedagógicas no campus ao longo de setembro e outubro. Entre elas, uma palestra do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Uerj (Nepad), na primeira semana de outubro, além de um encontro com o comandante do 4º BPM. De acordo com a instituição, os alunos envolvidos no episódio farão uma retratação pública para a comunidade escolar durante a palestra do Nepad.

No dia 5 de agosto, durante uma exposição de trabalhos escolares para marcar a despedida de formandos do 3º ano do ensino médio um grupo de alunos da unidade de São Cristóvão do Pedro II, os quatro estudantes, com idade entre 16 e 17 anos, resolveram representar, na última terça-feira, “um dia na favela”, e, para isso, exibiram réplicas de fuzil e metralhadora e confeccionaram material para simular sacos com cocaína e tabletes de maconha. Os jovens definiram a encenação como a realidade de uma comunidade carioca, que foi apresentada no pátio da escola durante o horário do recreio, das 10h às 10h30m.

Os rapazes se caracterizaram como traficantes, e a única garota do grupo usava um short curto e um maiô decotado. Todos seguravam armas de brinquedo — a dela, dourada, imitava uma submetralhadora. Nos saquinhos colocados sobre a banca, além de cápsulas com pó branco, havia etiquetas como inscrições alusivas às usadas pelo crime organizado e preços. O assunto foi parar nas páginas das redes sociais do tradicional colégio, e até um vídeo gravado com um celular, que mostra os adolescentes exibindo réplicas de fuzis, foi postado.

Com a repercussão negativa do caso, a direção do Pedro II convocou os pais dos estudantes envolvidos  na polêmica para uma reunião. Logo após a polêmica, o reitor do Pedro II, Oscar Halac, saiu em defesa dos alunos, e chegou a afirmar não cabia punição no caso.

— O objetivo era mostrar o carioca. Talvez por influência do cenário atual, de violência urbana, eles entenderam que seria importante trazer essa realidade para a escola. Eles compraram as armas de brinquedo na Saara e usaram farinha de trigo e pacotes embrulhados (para simular embalagens com drogas). A menina mora em comunidade, numa área de risco, e vê isso na porta de casa. É a realidade dela. A escola não pode fechar os olhos para essa situação. Hoje (segunda-feira), logo cedo, identificamos os alunos, e eles se retrataram. Não cabe punição. O nosso papel é de educador — disse o reitor.

Outros alunos da unidade de São Cristóvão também saíram em defesa dos colegas, e disseram que a encenação apenas mostrava uma realidade da cidade do Rio diferente da praia e dos pontos turísticos.

— O estereótipo é praia, mas é também o traficante. Muitas pessoas aqui moram ao lado de uma boca de fumo. Alguns pais conservadores manipularam o contexto pra criticar. Parece, por exemplo, que fumamos, transamos e bebemos dentro das escola, o que não é verdade — criticou uma estudante. — É isso que a gente vê. É hipocrisia acreditar que isso não faz parte do Rio. Não acho que essa representação vá influenciar alguém. — É isso que a gente vê. É hipocrisia acreditar que isso não faz parte do Rio. Não acho que essa representação vá influenciar alguém — acrescentou outro estudante.