Por Ana Marin, g1 São Carlos e Araraquara


Cartaz feito por alunos de escola de São José do Rio Pardo foi alvo de críticas da direção — Foto: Arquivo Pessoal

Alunos da 2ª série do ensino médio de uma escola particular de São José do Rio Pardo (SP) relataram que foram repreendidos pela direção após fazerem um cartaz com o símbolo que faz alusão à bandeira que representa a comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Queer, Intersexuais e Assexuados (LGBTQIA+) durante uma atividade na disciplina 'Projeto de Vida'.

Segundo relato dos estudantes, a direção chegou a dizer que "quando se valoriza demais a homossexualidade, a heterossexualidade poderia ser desvalorizada (veja relato completo abaixo)".

Em nota publicada nas redes sociais, o Colégio Unigrau informou que nenhum aluno foi coagido e que não tomou qualquer ato de repressão e que como uma escola confessional católica tem seus princípios e os valores e, dentre eles, o de acolher e respeitar a todos (veja abaixo posicionamento completo).

Cartaz

Em um comunicado postado em várias páginas nas redes sociais, os alunos relataram que, na segunda-feira (8), foram dividos em grupos que deveriam fazer um cartaz em apoio a diversos temas sociais, como racismo, inclusão e diversidade sexual, que foram distribuídos por meio de sorteio.

Foto de parte da lousa com os temas propostos para o trabalho em colégio de São José do Rio Pardo — Foto: Arquivo Pessoal

Um dos grupos foi contemplado com o tema 'gênero e diversidade sexual ' e, os integrantes decidiram desenhar um arco-íris, símbolo usado na bandeira do movimento LGBTQIA+. No cartaz, a ilustração era acompanhado da estrofe 'consideramos justa toda forma de amor', da música "Toda forma de amor", do cantor Lulu Santos, e dos dizeres: "+respeito" e "+diversidade".

Segundo os alunos, uma das integrantes do grupo procurou a professora dizendo que não gostaria de participar do trabalho e a docente então teria orientado o grupo a não manifestar apoio à causa LGBTQIA+, mas apenas falar sobre respeito. Além disso, a docente teria dito que 'gênero não tem conexão com amor'.

Direção

Na terça-feira (9), a mesma estudante procurou a direção da escola. Foi, então que os outros integrantes do grupo teriam sido chamados pelo diretor que teria dito que 'como uma instituição católica e defensora da família tradicional, não poderia levantar uma bandeira dentro do colégio'.

Ainda segundo os estudantes, a direção teria alegado ainda que quando se valoriza demais a homossexualidade, a heterossexualidade poderia ser desvalorizada e que teria chegado a alertar que o apoio à comunidade e a bandeira LGBTQIA+, pode ser vista como apoio ao comunismo.

Carta dos alunos

Nas redes sociais, alunos envolvidos publicaram uma nota de esclarecimento sobre o caso e se colocaram contra qualquer tipo de censura no ambiente escolar.

Veja a íntegra do comunicado:

"Nessa segunda-feira (08/11), tivemos uma aula em nossa escola que propunha uma dinâmica de grupos para discutirmos diversos assuntos sociais, na qual deveríamos fazer um cartaz de apoio a um tema sorteado. A sala foi dividida em grupos e cada grupo deveria fazer um desenho sobre um assunto diferente, o nosso tema foi “Diversidade sexual e de gênero. ”

Portanto, decidimos desenhar uma bandeira LGBTQIA+ com a famosa frase da música "Toda forma de amor", de Lulu Santos.No entanto, uma colega de sala incomodou-se com nossa produção e disse que não gostaria de participar do trabalho, acionando a professora e essa, por sua vez, disse que não deveríamos demonstrar apoio, apenas falar sobre respeito, e afirmou que gênero não tem conexão com amor.

No dia seguinte, depois de pensarmos que o assunto já estava encerrado, a pauta foi levada por essa mesma colega para a diretoria. Fomos chamados e nos disseram que, como uma instituição católica e defensora da família tradicional, não poderíamos levantar uma bandeira dentro do colégio, pois uma vez que valorizamos demais a homossexualidade, a heterossexualidade poderia ser desvalorizada. Inclusive, durante a fala da direção, compararam o apoio à comunidade e à bandeira LGBTQIA+ ao levantamento de uma bandeira comunista, como se sexualidade fosse uma escolha, como a política.

Nós, como alunos do colégio, defendemos a liberdade de expressão, assegurada pelo Art. 15 do Estatuto da criança e do Adolescente: “Art. 15º - A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. ”Somos contra todo e qualquer tipo de censura em ambiente escolar, ainda mais quando assuntos relacionados aos direitos humanos, liberdade, igualdade vêm à tona.

Segundo dados do Atlas da Violência 2021, que compara os anos de 2019 e 2018, houve um aumento de 9,8% de casos de violência contra homossexuais e bissexuais, bem como aumento de 5,6% de casos de violência física contra pessoas trans e travestis. ”

RESPEITAR. DEFENDER. APOIAR. Os três juntos. Pessoas estão morrendo por amar e o amor NUNCA foi, NÃO é e NÃO será motivo de ódio. NÃO é uma escolha. NÃO é uma ideologia.

Colégio diz que acolhe e respeita a todos

Colégio Unigrau em São José do Rio Pardo — Foto: Reprodução/Google Maps

Pelas redes sociais, o Colégio Unigrau também publicou uma nota de esclarecimento sobre o caso (veja a íntegra abaixo).

"Em vista dos recentes acontecimentos e das diferentes perspectivas apresentadas, cabe a nós apresentarmos os fatos como ocorreram. De primeiro momento, já afirmamos, que nenhuma criança foi coagida ou retirada da sala de aula por qualquer um de nossa equipe devido à confecção de um cartaz e essa mesma atitude não aconteceria com um de nossos adolescentes ou jovens. Durante uma aula do Ensino Médio, da disciplina Projeto de Vida, os alunos deveriam confeccionar um cartaz com a proposta de associar o tema recebido ao respeito para aprendizagem. O tema do grupo em questão, foi: Gênero e Diversidade. Cabe ressaltar que este tema foi proposto pela escola, o que demonstra que não omitimos a nossa responsabilidade em favorecer o diálogo pleno e o respeito a todas as pessoas, tornando a escola um local de acolhida e inclusão. Esse mesmo trabalho está sendo realizado por mais de uma turma.

No decorrer do trabalho em grupo, a forma como foi conduzida a atividade não agradou a todos os integrantes do mesmo. O grupo entrou em divergência, fazendo com que buscassem a coordenação e direção da escola, informando que estavam fugindo da proposta oferecida pela professora da disciplina. A coordenação e a direção reuniram-se com este grupo na Sala de Estudos, para um diálogo e resolução do conflito. Pedindo que se respeitassem, mesmo não concordando entre si. No momento, tudo foi resolvido, inclusive com a reconciliação do grupo. Em momento algum, a direção e coordenação agiram de forma que reprimisse a questão. Em momento algum, o diretor da escola foi o responsável pela retirada dos alunos da sala de aula ou da problemática levantada. Ninguém foi desrespeitado em sua liberdade de expressão. Nossa Equipe está sempre disponível para acolher todos os nossos alunos, para ouvir e também aprender com eles. Inclusive nesse momento.

O Colégio Unigrau tem uma trajetória de 21 anos marcada pela excelência na prestação de serviços educacionais e pelo respeito às pessoas e suas individualidades. Sempre zelamos pelo ambiente plurar, cordial e produtivo e assim, permaneceremos. Como uma Escola Confessional Católica, temos os nossos princípios e os valores e, dentre eles, o de acolher e respeitar a todos. Nossas diversas instituições comprovam isso. Estamos abertos a quaisquer esclarecimentos e repudiamos todas as manifestações de ódio, calúnias, difamações e ameaças graves dirigidas aos alunos envolvidos, nossa equipe e a mantenedora do Colégio.

Agradecemos a todos aqueles que, de diversas formas, tem demonstrado unidade e solidariedade conosco. Continuaremos firmes com nossos princípios e propósitos educacionais, com enorme respeito e cordialidade ao próximo. Seguimos acreditando na educação!".

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