USP Ribeirão tem maior marca de alunos da rede pública aprovados no vestibular
A USP de Ribeirão Preto (SP) atingiu 54,1% dos alunos da rede pública aprovados no vestibular em 2023, a maior marca desde o início da política de inclusão em 2018.
Há cinco anos, as cotas para estudantes de escolas públicas foram adotadas de forma escalonada até atingir 50% das vagas reservadas para candidatos da rede pública. O número deu um salto desde o início da reserva de vagas. Confira os dados abaixo.
Em 2023, foram preenchidas 10.662 vagas no campus de Ribeirão Preto. Destas, 5.714 foram conquistadas por alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. O estudante Pedro Augusto Ferreira Filho é um deles.
Hoje, o jovem de 21 anos é aluno do curso de Finanças e Negócios da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEARP-USP). Ex-aluno da Escola Estadual Guimarães Júnior, Ferreira Filho mal imaginava um futuro no ensino superior.
"Na primeira vez que eu o Enem, eu achava que a universidade pública não era pra mim, que eu nunca na minha vida chegaria a fazer uma faculdade”, revela.
Pedro Augusto, de 21 anos, ingressou no curso de Finanças e Negócios da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade (FEA) da USP de Ribeirão Preto, SP — Foto: Ronaldo Gomes / EPTV
Mas isso foi mudando. Após se formar no ensino médio em 2018, Ferreira Filho prestou serviço militar e, aos poucos, começou a se organizar para entrar no ensino superior. Foram horas de planejamento e atividades extras para complementar tudo que aprendeu na escola, que conciliava com um trabalho.
“Enquanto eu estava na escola, como eu ainda trabalhava, a minha vida era muito ocupada. Mas assim que eu terminei a escola, eu consegui fazer mais coisas e incrementar a minha educação”, conta o estudante.
Para passar na USP, ele contou com a ajuda de um cursinho popular online e apostou na disciplina para estudar em casa e fazer simulados dos vestibulares. A estratégia deu certo e, neste ano, a aprovação veio.
Desde já, ele já se dedica a ajudar outros alunos de escolas públicas que, assim como ele, sonham em entrar na USP: hoje, ele é voluntário no cursinho onde estudou na parte de eventos e pretende, futuramente, dar aula de matemática.
FEA-USP de Ribeirão Preto, SP — Foto: Ronaldo Gomes / EPTV
Diversidade
A presença de alunos de escolas públicas em uma das maiores universidades da América Latina é considerada extremamente importante tanto para a faculdade quanto para a sociedade.
“Não é desejável que só um grupo esteja representado dentro da universidade. Precisamos de pessoas de diferentes classes sociais e de diferentes etnias. Isso inclusive enriquece o ambiente, porque são pessoas com experiências diferentes que podem contribuir para aquilo que a universidade faz”, diz o diretor da FEARP-USP Fábio Gomes.
Vinícius de Andrade está se formando em economia pela USP e sabe bem da diferença que a universidade pública faz na vida dos estudantes. Assim como Ferreira Filho, ele veio de escola pública e descobriu um mundo novo na USP.
Andrade é diretor e fundador do programa Salvaguarda, projeto vencedor do prêmio LED, que auxilia estudantes da rede pública com a escolha profissional e com todas as informações e conteúdos úteis ao longo do processo de prestar o vestibular.
“Esse novo público traz junto a ele suas vozes. Eles vão ser futuros jornalistas, médicos, advogados, assistentes sociais com diferentes visões. Porque tem um limite do quanto pode ter avanço no Brasil enquanto as políticas são criadas por quem não conhece essas realidades. Tem que ter mais pluralidade”, diz.