Por Bárbara Muniz Vieira, G1SP — São Paulo


Um ano após o início das aulas online implementadas por causa da pandemia de coronavírus, alunos da rede municipal de São Paulo seguem sem tablets para assistir aos conteúdos do ensino a distância (EAD). Sem computadores em casa e sem o equipamento prometido pela gestão municipal, alunos de baixa renda veem a desigualdade crescer.

Só no final de outubro o TCM liberou o edital de licitação dos tablets após ajustes. O investimento da prefeitura foi de R$ 300 milhões.

As aulas presenciais foram suspensas no dia 17 de março de 2021. Em abril, o ensino a distância foi implementado. As escolas chegaram a reabrir para atividades presenciais, mas as aulas online estão mantidas em um modelo de ensino híbrido, que combina aulas presenciais e a distância.

A estudante Clarice Vieira Leite, de 10 anos, conta que tem dificuldade para acompanhar as aulas da EMEF Infante D. Henrique, no bairro do Canindé, na Zona Norte. A mãe dela, Silvana Vieira, comprou um celular para a filha com o dinheiro do auxílio-emergencial e colocou wi-fi em casa na ocasião.

"Dividi o valor com meu marido para não atrapalhar as contas da casa. Mas com certeza ela ficou para trás [em relação a alunos que possuem equipamentos]. Esse ano nem o livro didático recebemos ainda. É um material que nos ajudaria como reforço para estar estudando."

Clarice acredita que o tablet ajudaria a acompanhar as aulas no ensino à distância.

"O tablet facilitaria para mim e várias crianças, principalmente para quem não tem internet em casa. Às vezes eu não tenho facilidade para entender porque é muito diferente estar na escola e não estar. A professora na sua frente para te ensinar está na sua frente para revisar até você entender. Online às vezes ela explica e faz uma confusão na cabeça", afirma.

De acordo com um levantamento feito pela reportagem do G1, parte das escolas municipais já receberam os tablets, mas não os chips. Sem o chip, o tablet só funciona com uma rede de internet wi-fi. De qualquer forma, as escolas ainda não foram autorizadas a fazer a entrega dos equipamentos, que precisam ser configurados.

A configuração deve parear o chip ao tablet e associar o equipamento ao aluno que vai utilizá-lo de acordo com um número de identificação, que é um código do sistema escolar. A escola também deve entregar o tablet já com um aplicativo de rastreamento do aparelho.

De acordo com um diretor de escola no Butantã, Zona Oeste da capital, que prefere não se identificar, foram recebidos 770 tablets para os 810 alunos de sua unidade. Desses, foram configurados 18 aparelhos até agora, mas quatro deles precisarão ser reconfigurados.

"Todo o trabalho de configuração deverá ser feito pelos funcionários da escola e isso levará um tempo. Me parece que a Diretoria Regional de Ensino (DRE) Campo Limpo, na Zona Sul, será a primeira a entregar. Eu sou do Butantã e recebi e-mail na terça-feira (13) dizendo que ainda não é para entregar", afirma.

Os equipamentos seriam distribuídos para estudantes dos ensinos fundamental 1 e 2, médio, e educação de jovens e adultos. Os primeiros alunos a receber os equipamentos seriam aqueles que estão apresentando mais dificuldades com o ensino remoto. A promessa inicial era que 10% dos tablets seriam entregues em dezembro.

Em nota, a Secretaria municipal da Educação disse que os tabletes estão "em fase de distribuição".

Volta às aulas na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) São Paulo, na Vila Clementino, na zona sul da cidade, que recebeu cerca de 52 alunos. — Foto: DEIVIDI CORREA/ESTADÃO CONTEÚDO

Escolas voltam a fechar após casos de Covid-19

Os tablets se tornam ainda mais indispensáveis na medida em que escolas da cidade suspenderam as aulas presenciais após registrar casos de Covid-19. O G1 recebeu a informação de que pelo menos quatro escolas voltaram a fechar por esse motivo - as aulas presenciais foram retomadas na segunda-feira (12).

Até a última sexta-feira (16), as seguintes Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emefs) foram fechadas:

  • Tenente Aviador Frederico Gustavo dos Santos, na Zona Norte;
  • Rui Bloem, na Zona Norte;
  • CEU Emef Perus, na Zona Norte;
  • José Américo de Almeida, na Zona Leste.

CEU EMEF Perus, na Zona Norte, comunica fechamento após caso de Covid-19 — Foto: Reprodução

Em nota, a prefeitura negou que as escolas tenham sido fechadas por causa de casos de Covid-19.

"Sobre as unidades apresentadas pela reportagem, nenhuma foi interditada por conta de casos de Covid-19. Vale ressaltar que o retorno presencial é opcional e para este primeiro momento, é recomendado que os que possuem acesso ao ensino remoto, se possível, permaneçam em casa. Alunos e professores que fazem parte de grupo de risco permanecerão em regime remoto, como já está previsto nas orientações vigentes."

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