Por Jornal Nacional


Alunos com dificuldades de acesso à internet têm enfrentado desafios para estudar

Alunos com dificuldades de acesso à internet têm enfrentado desafios para estudar

Na pandemia, alunos com dificuldades de acesso à internet têm enfrentado desafios para continuar estudando.

Antes de conhecer a lição do dia, é preciso ir atrás de sinal de celular. “A gente teve que subir para cá, no alto do pasto, para pegar sinal de internet. A gente está aqui, já são quase 10 horas com fome, porque a gente saiu cedo de casa e até agora estamos aqui, no sol quente, no meio do pasto literalmente”, conta a estudante Priscielle Almeida de Oliveira.

Priscielle é moradora da zona rural da cidade de Raul Soares, no interior de Minas. Depois que o recado dela se espalhou nas redes sociais, a escola enviou para casa dela apostilas do material escolar do primeiro ano do Ensino Médio, mas ela continua sem acesso às aulas pela internet.

Na rede pública estadual de Minas, as aulas presenciais estão suspensas desde março. Na segunda quinzena de maio, o governo lançou um programa de educação à distância; uma solução que virou um tormento para muitas famílias.

“A internet cai toda hora. Você tem que dar atenção. A nossa rotina mudou, as rotinas das famílias, então difícil”, diz a professora Ana Lúcia Teixeira.

O material didático pode ser baixado na internet. Os diretores das escolas entregam as apostilas impressas para quem não consegue se conectar. O conteúdo também está disponível em videoaulas, transmitidas pela rede pública de TV do estado. Outra opção é baixar um aplicativo com o conteúdo das aulas.

Um desafio para o poder público nesse novo cenário é fazer o conteúdo das aulas chegar a estudantes com realidades tão diferentes. A Luciana, por exemplo, aluna do 2º ano do Ensino Médio, é moradora de uma ocupação em Belo Horizonte e estava com esperança de acessar as aulas por meio de um aplicativo para telefone celular, mas ela acabou descobrindo que vai ter que trocar o aparelho por um mais novo. É que o celular dela, mais simples, não é compatível com a versão do programa.

“Quando falou, passou na televisão e tudo mais, que o aplicativo que eles estavam desenvolvendo era apto para todos os tipos de celular. Isso é mentira”, afirma a estudante Luciana Rosa Pereira Santana.

Computador ela não tem e diz que não vale ter apostila sem professor para tirar dúvidas.

“Quando a gente voltar às aulas presenciais, por exemplo, os estudantes que conseguiram ter acesso vão estar mais avançados que a gente que não teve acesso”, lamenta Luciana.

É contra isso que Andreia, professora da cidade mineira de Piranguinho, está lutando. Ela pendura as tarefas em sacolas plásticas, na grade de casa. As famílias recolhem e, depois de um tempo, devolvem pra Andreia corrigir. Para ela, nenhum esforço é demais quando se trata da educação.

“Porque se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. É uma frase de Paulo Freire e é nela que a gente tem que se assegurar. A gente precisa mesmo ir atrás, fazer o diferente”, avalia a professora Andreia Maria Gomes Machado.

A Secretaria de Educação de Minas Gerais afirmou que o aplicativo para celular está disponível para aparelhos Android e, em breve, para iOS. E que nenhum aluno será prejudicado por dificuldades de acesso ao conteúdo digital no retorno às aulas presenciais.

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