Por Cristine Gallisa, RBS TV


Desenho sugere como entorno violento pode impactar no ensino de alunos de Porto Alegre

Desenho sugere como entorno violento pode impactar no ensino de alunos de Porto Alegre

Diante de uma onda de violência, com tiroteios que se repetem ao redor da Escola Municipal Pessoa de Brum, na Restinga, na Zona Sul de Porto Alegre, alunos têm demonstrado medo e apreensão através de tarefas cotidianas, como desenhos. O impacto emocional de situações como essa compromete o aprendizado dos estudantes e o trabalho de professores, que acabam se afastando da sala de aula.

Na folha de papel, aparece o sol, casas, árvores. Parece um desenho comum, que poderia ter sido feito por qualquer criança, em qualquer escola.

Mas nesse caso há outros elementos que mostram uma realidade: um helicóptero sobrevoando uma comunidade. Dali sai um homem armado, que atira e mata.

O desenho foi feito por um aluno de 8 anos. A escola onde ele estuda fica perto de uma região onde seguidamente ocorrem tiroteios entre gangues de traficantes. Na semana passada, uma das ocorrências assustou os alunos que brincavam no pátio.

Um dos tiros atingiu a janela de uma sala de aula na escola — Foto: Reprodução/RBS TV

Um dos tiros atravessou uma janela, percorreu toda uma sala de aula e foi parar do lado do quadro. Só não atingiu ninguém porque o local estava vazio.

“O meu filho de 9 anos chegou em casa em pânico, não queria mais vir para o colégio. Todo dia ele fala que o tiro pegou na sala de aula, que podia ter pego na cabeça da professora, que na quadra onde eles vão jogar na educação física está cheia de buraco de bala”, conta Thili Heringer, mãe de um dos alunos.

O impacto emocional, semelhante ao de quem vive em áreas de guerra, não é exclusividade dos alunos da Escola Pessoa de Brum. Acontece com estudantes, professores e funcionários de dezenas de outras escolas, municipais ou estaduais, espalhadas pela capital.

“Temos constantemente alunos relatando situações de morte, de decapitação, de esquartejamento, de assassinatos de familiares. Isso já é um impacto”, afirma o professor Luís Fernando de Fraga Silva, que dá aula em uma escola do bairro Mário Quintana.

Região da Escola Carlos Pessoa de Brum , na Restinga, tem tido frequentes tiroteios — Foto: Reprodução/RBS TV

“Fora os tiroteios que ocorrem em determinados momentos. Eles já estão até habituados a se agacharem, e nós temos que acalmá-los, não deixar que saiam da sala, dos corredores”, acrescenta. “Teve um assassinato de uma pessoa que foi trazida pra frente da nossa escola, e ela foi baleada com nove tiros. Na frente da escola”, relata.

No lugar que deveria ser lúdico, de paz, e propício ao aprendizado, se instala o medo. O professor diz que percebe a dificuldade para aprender no comportamento do aluno.

“Ele já vem emocionalmente abalado, ele não consegue se concentrar pra aprender. Essa é uma realidade que a gente vivencia todos os dias dentro das escolas”.

“Como que a criança vai desempenhar um calculo matemático, que já naturalmente exige uma maior atenção e uma maior concentração, num ambiente onde se tem tiroteio, onde o próprio professor ou professora está fragilizado?”, questiona o psiquiatra e neurocientista Rodrigo Grassi Oliveira, do Instituto do Cérebro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Ele é um dos coordenadores de um estudo pioneiro que está medindo o impacto da violência urbana na aprendizagem e no cérebro de 60 crianças e adolescentes de escolas estaduais de Porto Alegre Os primeiros resultados já preocupam.

“Já dá pra verificar que sim, pelo menos a quantidade de eventos de violência que a criança relata, muda o jeito que algumas áreas do cérebro estão funcionando”, afirma.

Guarda Municipal se comprometeu em ficar no pátio da escola — Foto: Reprodução/RBS TV

Entre os professores, o stress causado pela violência leva ao afastamento da sala de aula, o que prejudica ainda mais os alunos. Só na Escola Pessoa de Brum, 23 dos 80 professores estão em licença. Isso se repete em outros colégios públicos.

Na rede municipal de Porto Alegre, não há atendimento especializado que ajude os professores a lidarem com os impactos da violência no ambiente escolar. Muitos dos que se afastam procuram acompanhamento psicológico por conta própria.

O secretário da Educação admite a falta desse tipo de serviço, mas garante que a secretaria está tentando criar um programa que dê conta dessa nova realidade.

“Isso é um trabalho de longo prazo, e que estamos desenhando com parceiros para que a gente possa desenvolver ao longo dos próximos quatro anos”, diz o secretário da Educação de Porto Alegre, Adriano Naves de Brito.

Mas, para quem está na sala de aula todos os dias, qualquer programa de apoio a professores e alunos precisa incluir um olhar mais amplo, sobre as comunidades onde essas escolas estão inseridas.

“A escola não é uma instituição total. O adoecimento se dá por uma conjuntura social. O apoio é na tentativa de solução de problemas dentro da comunidade”, analisa o professor Fraga.

Na tarde de terça-feira (4), a direção da escola e autoridades se reuniram para discutir a falta de segurança no local. No encontro, ficou decidido que a Guarda Municipal e a Brigada Militar vão reforçar o policiamento na região.

Alunos e professores se sentem inseguros em ambiente escolar — Foto: Reprodução/RBS TV

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