Por Gladys Peixoto, G1 Mogi das Cruzes e Suzano


Depois do massacre, Raul Brasil recebeu monitoramento de segurança — Foto: Gladys Peixoto/G1

Depois de um ano do massacre na Escola Raul Brasil, em Suzano (SP), que deixou dez mortos, a comunidade ainda não consegue perceber as mudanças anunciadas pelo governo do Estado em 2019.

Na manhã de 13 de março de 2019, dois ex-alunos invadiram a escola - um com uma arma de fogo e outro com outros tipos de arma, como uma machadinha.

Antes de entrar no prédio, eles mataram o tio de um deles. Na unidade, mataram cinco estudantes, duas funcionárias e, depois, o mais novo matou o mais velho e se matou, segundo a polícia.

Depois da tragédia, a Escola Raul Brasil começou a ser reformada, mas as obras ainda não foram concluídas. Com isso, desde o ano passado, os alunos estudam em um dos prédios de uma faculdade particular de Suzano. A previsão do governo do Estado é que as aulas sejam retomadas em abril.

Para evitar que uma nova tragédia se repita nas escolas de São Paulo, o governo estadual prometeu implementar uma série de medidas de segurança e de prevenção ao bullying.

Entre as promessas estava a convocação de 3,7 mil agentes de organização escolar, entre concursados e temporários, revisão de procedimentos e reforço da segurança, inovação de novas disciplinas, como o projeto vida, tecnologia e inovação.

Promessas

Uma estudante, de 17 anos que prefere não se identificar e que está no 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Isabel Ferreira da Silva, na Vila Brasileira, em Mogi das Cruzes, afirma que não tem novos funcionários na unidade. “Só os que trabalhavam lá. Pelo menos é o que vejo de manhã.”

Outra observação da jovem é sobre a disciplina eletiva de teatro que foi escolhida pelos estudantes, mas que ainda não teve início.

Já as disciplinas de projeto de vida e tecnologia, ela diz que foram implantadas e os alunos receberam as apostilas. “Complicado a parte de tecnologia, nossa escola não tem estrutura para isso. Apesar de ter sala de informática não tem estrutura para mexer com coisas mais digitais. Os professores precisam se virar em sala de aula.”

Para o secretário estadual de Educação, Rossieli Soares da Silva, no entanto, a disciplina de tecnologia tem um foco muito mais amplo e não é baseada somente no uso de equipamentos.

Silva destaca que ela é voltada para o desenvolvimento do pensamento computacional e para isso tem uma série de metodologias. “Hoje quem está organizando isso para a gente é a professora Débora Garofalo que deu um grande exemplo ao Brasil e ao mundo sendo uma das 10 melhores professoras do mundo. Justamente mostrando que nós podemos tornar a aprendizagem possível para o pensamento em tecnologia. Mas muito mais que a tecnologia em si, a inovação, o empreendedorismo que nós temos que ter para os nossos jovens.”

Contratação de Funcionários

Quanto a contratação de novos funcionários, o secretário afirmou que mais de 2 mil já foram contratados. “No ano passado chamamos 1,5 mil novos concursados de agente de organização escolar. Também trouxemos temporários mais 2 mil. Então tivemos um aumento de quase 3,5 mil no ano passado. E estamos trabalhando para melhorar mais esse número esse ano.”

A coordenadora da subsede do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) de Mogi das Cruzes, Inês Paz, afirma que não viu mais funcionários nas escolas da Diretoria de Ensino de Mogi. “O que encontramos é a falta de funcionários. De porte médio a grande com poucos agentes escolares para tomar conta na hora do intervalo. Já demos esse retorno para a Diretoria de Ensino. Na Escola Iracema Brasil de Siqueira tem a vice-diretora que ocupa função de diretora e com dificuldade de funcionário na secretaria.”

Gustavo Rodrigues leciona há 11 anos na rede estadual e é professor efetivo na Escola Estadual Doutor Deodato Wertheimer, em Mogi das Cruzes.

Ele também destaca que não viu mais funcionários na escola onde atua. “Mais funcionários não é realidade, promessa não foi cumprida. No Deodato faltam funcionários e já foi pedido mais. Não tem perspectiva que venham mais funcionários para agente escolar. Atualmente, tem um agente escolar em cada período, às vezes, chega a dois e falta funcionários na secretaria.”

A Secretaria Estadual da Educação informou que trabalha para ampliar o número de funcionários nas unidades estaduais e que a Escola Estadual Professora Iracema Brasil de Siqueira conta hoje com diretora e vice-diretora em seu quadro. (confira abaixo na íntegra a posição da Secretaria de Educação)

Segurança

Ana Lúcia Ferreira é diretora executiva da Diretoria Estadual da Apeoesp e atua na subsede de Suzano. Ela observa que o Estado instalou um canal direto com a Polícia Militar para comunicação de ocorrência nas escolas, porém a medida não é o suficiente. “Mas continua tendo roubo na escola e gente entrando na escola.”

O secretário estadual de Educação, Rossieli Soares da Silva, defende que houve mudanças e orientações sobre segurança para as escolas da rede. “Fizemos alteração dos procedimentos. A orientação para a escola é que no horário de entrada dos alunos fique o portão aberto e sempre com alguém perto para verificar a entrada dos estudantes. Temos procedimentos ainda em revisão e construção com as escolas. O regimento das escolas cada uma tem o seu e faz seu procedimento. Em uma discussão com os pais que devem participar mais dessas reuniões para a gente avançar. A Secretaria vai apresentar ao Conselho Estadual de Educação ainda este ano um regimento escolar padrão e aí as escolas farão uma complementação dessas regras.”

Porteiro eletrônico também foi instalado na entrada da Escola Raul Brasil — Foto: Gladys Peixoto/G1

Outro reforço da segurança apontado pelo secretário foi a criação do gabinete integrado de segurança escolar.

Ele explica que o órgão, que fica dentro da Secretaria de Educação, tem a participação de agentes da Polícia Militar e de funcionários da Secretaria de Segurança Pública, o que auxilia uma interlocução mais rápida. “Já combatemos inúmeros casos e vamos apresentar um relatório no final de março em relação ao ano passado sobre o que já foi feito no gabinete integrado de segurança escolar.”

De acordo com o secretário foi iniciado um projeto piloto com um policial da reserva dentro da Escola Caetano de Campos na capital. “Estamos junto com a escola construindo protocolos. Integramos as nossas câmeras de segurança. Já são mais de 8 mil integradas aos nossos Centros de Comando de Segurança no Estado de São Paulo.”

Jornada

O professor Gustavo Rodrigues afirma que a fixação do professor em apenas uma escola, como prometido pelo governo, ainda não é uma realidade.

Ele é efetivo na Escola Doutor Deodato Wertheimer, mas esse ano precisou pegar aula em outra escola, a Francisco Ferreira Lopes no Mogilar. “Então, isso pelo fato das escolas diminuírem suas salas isso faz com que o professor não consiga cumprir a sua carga em uma escola só. E obriga muitos professores a pegar duas, três e, às vezes, até mais escolas.”

A Secretaria Estadual de Educação explicou que as atribuições de aulas são realizadas através de critérios, como tempo de permanência do docente na rede, categoria, carga horária e aulas disponíveis. "A Diretoria Regional de Ensino de Mogi das Cruzes está à disposição do professor da E.E. Dr. Deodato Wertheimer para quaisquer dúvidas ou esclarecimentos."

Posição da Secretaria Estadual de Educação

"A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) esclarece que no ano passado, a Pasta contratou 1,5 mil novos agentes de organização escolar concursados e mais 2 mil temporários na rede estadual. A Seduc trabalha para ampliar o número de funcionários nas unidades estaduais e vale esclarecer que a EE Professora Iracema Brasil de Siqueira conta hoje com diretora e vice-diretora em seu quadro.

Quanto a atribuição de aulas, são realizadas através de critérios, como tempo de permanência do docente na rede, categoria, carga horária e aulas disponíveis. A Diretoria Regional de Ensino de Mogi das Cruzes está à disposição do professor da E.E. Dr. Deodato Wertheimer para quaisquer dúvidas ou esclarecimentos.

Vale ressaltar que as escolas estaduais mantém parceria com a Ronda Escolar e o Gabinete Integrado de Segurança e Proteção Escolar (GISPEC) que conta atualmente com alocação de policiais militares exclusivos para planejar ações integradas e gerenciar ocorrências em escolas estaduais.

Além disso, um técnico da Seduc fica alocado no Centro de Operações e Informações (COI-SP) para fazer monitoramento e atuar de maneira integrada com as demais agências de segurança em caso de anormalidades, bem como para acompanhar as ações em tempo real.

Por fim, são realizadas reuniões periodicamente entre a PM e os dirigentes regionais de ensino para planejamento conjunto de novas ações e também para análise quantitativa e qualitativa de ocorrências em escolas estaduais para policiamento orientado."

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