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Alckmin promete elevar desempenho de estudantes no Pisa em 50 pontos

Leda Antunes

28/08/2018 04h00

Esta reportagem faz parte da série UOL Confere Promessas de Campanha, que vai verificar promessas feitas pelos presidenciáveis para checar a sua viabilidade. A cada semana serão descritas e avaliadas uma promessa de cada um dos cinco presidenciáveis mais bem colocados na mais recente pesquisa Datafolha. Saiba mais sobre esta série.

Nesta terça, será abordada uma proposta de Geraldo Alckmin (PSDB): um aumento de 50 pontos em oito anos do desempenho de estudantes brasileiros no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).

O que o candidato prometeu

Em seu programa de governo registrado junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) declara: "Investiremos na educação básica de qualidade e teremos como meta crescer 50 pontos em oito anos no Pisa - o mais importante exame internacional de avaliação do ensino médio".

Ilustração Alckmin -  -

Qual é o contexto

O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) é um exame internacional que mede o nível educacional de jovens de 15 a 16 anos por meio de provas de leitura, matemática e ciências. O exame é realizado a cada três anos pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e indica um perfil básico das habilidades dos estudantes, levando em conta variáveis demográficas e sociais de cada país. O exame é um indicador para monitoramento dos sistemas de ensino ao longo dos anos.

Na última edição, feita em 2015, participaram 70 países. O Brasil ficou nos últimos lugares do ranking: 65º, em matemática; 59º, em leitura e 63º, em ciências. Foram avaliados 23.141 estudantes brasileiros de 841 escolas.

No Brasil, 51% dos estudantes estavam abaixo do nível 2 em leitura em 2015, em uma escala que vai até 6. O patamar 2, cujo desempenho mínimo é de 407 pontos, é definido pela OCDE como o mínimo necessário para que o estudante possa exercer plenamente sua cidadania.

Pesquisa coordenada pelo economista Naercio Menezes Filho, do Centro de Políticas Públicas do Insper, demonstrou que a pontuação dos brasileiros no Pisa é baixa não só porque os alunos erram as questões. A performance piora ao longo do exame, que é composto por 60 questões divididas em dois blocos de uma hora. Segundo o estudo, 61% sequer chegam a última pergunta do primeiro bloco. “A qualidade do aprendizado é muito baixa. Além disso, tem a falta de motivação”, afirma.

Como o candidato vai cumprir a promessa?

Segundo a campanha de Alckmin, a meta é avançar a média do Pisa dos atuais 392 pontos para 442 pontos, considerando apenas as avaliações de matemática e leitura, até 2026 (ou seja, o candidato pressupõe a reeleição em 2022). A estratégia, de acordo com nota enviada à reportagem, será baseada na alfabetização, com foco nos Estados com notas mais baixas, além de definir um patamar mínimo para a nota do Pisa em todos os Estados. O argumento é de que é mais fácil melhorar o desempenho dos que têm notas piores. “Em São Paulo, por exemplo, a nota do Pisa evoluiu de 382 para 404 em dez anos (2006-2015). Isto é, (subiu) 22 pontos, enquanto no Brasil essa evolução foi de 384 para 395, isto é, 11 pontos.”

O que dizem os especialistas?

Os especialistas estão divididos: há quem considere a proposta viável, mas outros veem muitas dificuldades para cumprir o prometido. Os mais céticos citam inclusive o fraco desempenho dos alunos paulistas no Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), para afirmar que as políticas educacionais adotadas pelo PSDB, que governa o estado desde 1995, não conseguiram um salto da qualidade como o que o ex-governador paulista propõe agora.

Na avaliação do coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional da USP (Universidade de São Paulo), Ocimar Alavarse, uma meta de 50 pontos é muito elevada e dificilmente irá se concretizar. Olhando o desempenho no Saresp dos alunos do nono ano, onde estão concentrados os resultados dos alunos de 15 anos, ele afirma que há uma pequena tendência de alta. Entre 2010 e 2017, as notas de língua portuguesa e matemática destes alunos da rede estadual paulista subiram 13 pontos, mas permanecem no nível de proficiência básico.

Alavarse pondera que, embora os sistemas de avaliação do Pisa e do Saresp sejam diferentes, esse aumento no Saresp ajuda a demonstrar que as políticas educacionais adotadas no estado de São Paulo na última década não foram suficientes para aumentar a nota dos alunos em uma proporção tão significativa. E, segundo ele, se fossem aplicadas nacionalmente não conseguiriam elevar o desempenho do Brasil no Pisa em 50 pontos em oito anos.

Para o pesquisador Naercio Menezes Filho, do Insper, uma alta de 50 pontos em oito anos seria significativa, porém difícil de ser alcançada. “Se você atacar os problemas sérios no desenvolvimento infantil, gestão escolar, formação de professores, desperdício de recursos, é possível alcançar. Mas é bastante difícil e será preciso persistir muito nas políticas durante muitos anos.”

Menezes Filho afirma que não há “fórmula básica” para aumentar a pontuação dos alunos. “Não é só uma questão de recursos. É uma questão de gestão, primeira infância, desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos alunos. Não é tão claro que, aumentando os recursos, vamos conseguir aumentar a nota do Pisa sem outras coisas”, afirma.

O especialista em avaliação educacional e consultor da Fundação Cesgranrio Ruben Klein avalia que a meta, apesar de não ser trivial, pode ser cumprida. Tendo como base os resultados do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que mostram que os estudantes do ensino fundamental vêm melhorando o desempenho desde 2009, Klein diz acreditar que esses alunos podem ter notas melhores no Pisa, no futuro.

Como a gestão das redes de ensino está majoritariamente nas mãos dos governos estaduais e municipais, o papel do governo federal, segundo Klein, seria o de repassar incentivos, fornecer exemplos bem-sucedidos a serem seguidos, acompanhar e cobrar a execução das políticas.

Avaliação: Não dá pra fazer em um mandato, ao qual o candidato concorre.

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