Por Thaís Cardoso, G1 AL


Alan Nabor batalha pela aprovação no Enem 2018 — Foto: Thaís Cardoso/ G1 AL

Alan Nabor, 20, foi o único alagoano a atingir mil pontos, a nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2017. O resutado já era uma vitória, mas ficou ainda melhor quando soube que a redação dele foi escolhida para integrar a Cartilha da Redação do Ministério da Educação (MEC).

“Eu me senti muito lisonjeado porque, ainda que se trabalhe muito para isso, é um privilégio muito grande. É a realização de um esforço. É a felicidade de ter tido uma recompensa e o reconhecimento de servir como exemplo para outras pessoas que estão na mesma luta que eu”, disse Nabor.

Das 53 redações com nota máxima do ano passado, técnicos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) escolheram nove para compor a cartilha.

Cada um dos textos foi avaliado individualmente para que os candidatos deste ano tenham a possibilidade de observar o que o MEC leva em consideração ao avaliar a prova.

Redação do Alan Nabor publicada na cartilha — Foto: Divulgação/ MEC

Comentários dos avaliadores à redação de Nabor — Foto: Divulgação/ MEC

Os critérios de avaliação do texto envolvem 5 competências:

  1. Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
  2. Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.
  3. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
  4. Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
  5. Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado que respeite os direitos humanos.

“Os comentários feitos [pelos avaliadores] na cartilha foram especificamente à minha redação, então, foi muito interessante esse tipo de comentário vindo diretamente da equipe do Inep sobre os filósofos que eu usei, os conectivos, todas as estratégias argumentativas que usei na redação, ler lá o comentário deles e o reconhecimento na minha estratégia argumentativa por eles foi muito interessante”, ressaltou Alan.

O estudante afirmou ainda que ter a redação publicada pelo MEC dá a ele um misto de felicidade e tristeza.

"Por um lado, é motivo de muita alegria, mas tem um outro lado da moeda. Apesar de ser um privilégio, mostra que em muitas regiões existe uma carência, um déficit muito grande em relação à escrita. A gente está em um estado com altos índices de analfabetismo. Então, é uma estatística que revela esse lado negro, digamos assim, do fato", ponderou.

No último Enem, apesar da nota 1.000 na redação, Nabor não conseguiu pontuação suficiente para entrar no curso de medicina, que é o mais concorrido. Por isso, vai tentar novamente este ano.

“Percebi que eu consegui uma nota de excelência na redação e que esse ano eu precisava melhorar nas outras matérias que eu tive déficit, que não me permitiram atingir a nota suficiente para eu ser aprovado”, explicou, reforçando que este ano o objetivo é a aprovação, mas que não vai se descuidar da redação, porque depois da nota máxima a pressão é grande.

A preparação para as provas deste ano começou ainda no ano passado, antes mesmo de sair o resultado com a pontuação geral. As comemorações em decorrência da nota máxima na redação e de tê-la como referência do MEC agora dão lugar à concentração, às revisões de última hora e à atenção para não perder a hora, porque o horário de verão começa no primeiro dia do exame.

"Eu percebi em mim uma drástica mudança de valores com relação à forma como eu enxergo a sociedade. Isso foi, particularmente para mim, um crescimento muito grande. E eu vou levar isso pro resto da minha vida. Esse olhar humano que a gente tenta trabalhar para produzir nossos textos acaba sendo incorporado na nossa vida e a gente acaba tendo essa visão de mundo um pouco mais ampla", disse.

O estudante ressalta que, a partir da escrita, passou a olhar para as minorias, muitas vezes desprezadas pela maior parte da sociedade, e que vai levar esse aprendizado para o exercício da profissão: "Quero ser um médico mais humano".

Alan Nabor tinha 19 anos quando conseguiu mil pontos na redação do Enem — Foto: Waldson Costa/G1

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