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AGU diz a TSE que menção a Bolsonaro em reunião de Milton com pastores foi 'indevida'

Defesa do presidente pede que Corte eleitoral rejeite ação de investigação e afirma que não há 'indícios mínimos de prática de ato ilícito'
Desgaste. Um dos únicos respaldos recebidos pelo ministro Milton Ribeiro foi do presidente Jair Bolsonaro, que declarou colocar a "cara no fogo" por ele Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo / 24/11/21
Desgaste. Um dos únicos respaldos recebidos pelo ministro Milton Ribeiro foi do presidente Jair Bolsonaro, que declarou colocar a "cara no fogo" por ele Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo / 24/11/21

BRASÍLIA — A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeite a ação que pede a investigação do presidente Jair Bolsonaro (PL) pela suspeita de favorecimento de pastores por parte do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro. Segundo a AGU, o nome do presidente foi envolvido no imbróglio de mandeira "indevida". A versão da defesa de Bolsonaro contradiz o que foi dito pelo antigo titular do MEC, que em depoimento à Polícia Federal disse que o presidente lhe pediu para receber pastores .

A ação foi apresentada ao TSE pelo PT, que pediu que a Corte investigue o presidente e o ex-ministro por abuso de poder econômico e político. Para o partido, a administração dos recursos do MEC "vem sendo aparelhada" para ajudar o projeto de reeleição de Bolsonaro, além de se atrelar a interesses religiosos de Ribeiro, mesmo o Brasil sendo um Estado laico.

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Segundo a AGU, o partido não apresentou "quaisquer elementos fáticos, tampouco indícios mínimos, de prática de ato ilícito pelo Representado Jair Messias Bolsonaro".

Em áudio obtido pelo jornal "Folha de S.Paulo", o ex-ministro dizia que priorizava a liberação de verbas a prefeituras cujos pedidos foram negociados por dois pastores: Gilmar Santos e Arilton Moura. Na gravação, Ribeiro afirmou que faz isso atendendo a uma solicitação de Bolsonaro. Os pastores, que não têm cargo no MEC, estariam desde o ano passado negociando com prefeituras a liberação de recursos federais da pasta.

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"O áudio juntado aos autos, que deu origem à reportagem do jornal Folha de São Paulo, revela apenas diálogos em que terceiros fazem menção indevida ao nome do Presidente da República. Não há qualquer outro suporte fático ou probatório além de demonstrações de suposto prestígio e da própria interpretação dos fatos realizada pela matéria. Dessa forma, revela-se inviável inaugurar qualquer procedimento de investigação judicial eleitoral", diz a AGU.

O governo ainda argumentou que os faros apontados pelo PT da ação "estão sendo apurados pela Controladoria-Geral da União (CGU) desde 2021, por iniciativa do Ministério da Educação, que encaminhou denúncias ao órgão de controle interno".

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Para o PT, pelo menos desde o início de 2021, Ribeiro, que também é pastor, usa a estrutura do MEC para "promover a candidatura e os desideratos políticos do Presidente da República". O PT destacou ainda que o ministro não questionou a autenticidade do áudio. E disse que ele agiu de "maneira vil, antirrepublicana, imoral e criminosa", além de "debochada e desrespeitosa para com a sociedade brasileira e com milhares de crianças e adolescentes".

Segundo o partido, "o ministro da Educação admite em confissão irrefutável" que o MEC "não se orienta, na distribuição das verbas públicas, por critérios e estudos técnicos ou quiçá prioridades identificadas pela própria administração".

Em depoimento prestado no último dia 31, Ribeiro confirmou que o presidente Jair Bolsonaro lhe pediu para receber um dos pastores acusados de intermediar a liberação de verbas do MEC a prefeitos em troca da cobrança de propina. Ribeiro negou, porém, que houvesse "tratamento privilegiado" aos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura dentro do ministério.