Por Thais Pimentel, g1 Minas — Belo Horizonte


Tainá Gomes dos Santos tenta ingressar em uma universidade pública pela quarta vez — Foto: Tainá Gomes dos Santos/Arquivo pessoal

Neste domingo (21), Tainá Gomes dos Santos, de 21 anos, vai almoçar mais cedo, depois vai pegar a mochila, sairá de sua casa no Morro do Papagaio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, e seguirá, de ônibus, rumo à sua quarta tentativa de ingresso em uma universidade pública.

Ela está entre os 3,1 milhões de inscritos confirmados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, menor número desde 2005.

O g1 vem acompanhando Tainá desde o ano passado. Antes da pandemia, ela estudava em um cursinho popular na própria comunidade em que mora. Depois, vieram as aulas on-line por causa da Covid-19. Ela era obrigada a dividir o computador com os irmãos, o que afetou sua concentração, mas não sua força de vontade.

“No último Enem, eu fiquei na lista de espera da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em 14° lugar e em 4° lugar na UFLA (Universidade Federal de Lavras). Infelizmente não consegui entrar, mas este ano irei tentar novamente”, disse a jovem que vai prestar para pedagogia e ciências biológicas.

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Neste ano, Tainá enfrentou problemas para conseguir engrenar nos estudos. Desempregada, ela teve que se virar para ajudar em casa. Fazia pequenos serviços como autônoma e acabava por não ter horário fixo, o que dificultou na hora de tentar entrar em um cursinho popular.

“Eu comecei a estudar por conta própria. Este ano foi bem mais complicado. Aí, depois de um tempo, tive que procurar uma ajuda psicológica”, contou Tainá que passou a sofrer com crises de ansiedade.

O professor Bruno de Araújo Rangel, que coordena um dos cursinhos populares do Morro do Papagaio, disse que problemas como o enfrentado pela jovem, se tornaram comuns, o que vem provocando o esvaziamento das salas de aula.

“São muitos obstáculos e as pessoas acabam desistindo. Necessidade de renda para sustentar a família, adoecimento de parentes ou da própria pessoa, desânimo com o estudo on-line”, contou ele.

O cursinho começou com 60 alunos e agora tem pouco mais de 20.

Morro do Papagaio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte — Foto: Júlio Fessô/Arquivo pessoal

Agora, na reta final, Tainá conseguiu uma vaga em uma iniciativa semelhante para, pelo menos, ter aulas de redação.

“Foi um sufoco porque pegar assim, no finalzinho do ano, é bem difícil. Uma amiga me ajudou. Mas acho que agora vai, viu?”, disse ela que pretende ser a segunda pessoa da família com curso superior. O irmão mais velho se formou no meio do ano em educação física.

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