Afetado pela crise, brasileiro espera 2021 melhor

A pandemia deixou marcas profundas na vida das pessoas e na economia em 2020, mas o brasileiro está otimista com sua situação financeira, a chegada da vacina e a saída da crise sanitária no próximo ano.

Entre os entrevistados, 61% consideraram que a pandemia afetou sua situação financeira pessoal e a da sua família. O maior impacto (71%) foi relatado pelos que ganham até dois salários-mínimos e com ensino fundamental (69%). Por outro lado, 41% esperam que a sua situação financeira particular irá melhorar no próximo ano, enquanto 39% veem isso acontecer só depois de 2021.

Em contrapartida, a percepção de impacto da crise sobre a economia brasileira é mais significativa, e a expectativa para a retomada econômica é pessimista. Dos entrevistados, 92% consideram que a economia do país foi impactada. Quando a avaliação se refere ao cenário nacional e não o pessoal, o brasileiro não crê em melhoria no curto prazo. Dois terços (66%) acreditam que a recuperação da economia brasileira só acontecerá depois de 2021.

Para Antonio Lavareda, do Ipespe, essa diferença de percepção entre a situação financeira pessoal e a do país sugere que a recuperação em 2021 pode surpreender positivamente. “A situação pessoal tem a ver com a experiência da pessoa no seu ambiente de trabalho, no setor em que atua, no seu entorno. Já a do país está relacionada com a percepção do noticiário, porque ninguém é especialista em todas as áreas. A pesquisa pode ter recolhido um conjunto de sinais de que esse processo de recuperação pode ocorrer de forma mais célere do que as análises até agora supõem”, disse.

“Felizmente, 2021 já começará com a esperança das vacinas, além da experiência acumulada para enfrentar a pandemia, tanto pelo setor de saúde como pelo setor produtivo e os governos. Temos de monitorar o cenário com atenção e cautela, mas o caminho promete ser promissor”, disse Isaac Sidney, presidente da Febraban, destacando que o resultado do PIB do terceiro trimestre já demonstra a capacidade de recuperação da economia. Ele lembra que no início da crise falava-se em queda de até 10% da atividade econômica, mas o resultado deverá ser bem menor.

Poupança e atenção à economia

A crise gerou um sentimento de cautela e precaução para a maioria da população. A pesquisa revela que 69% dos entrevistados pretendem guardar uma eventual sobra no orçamento: 39% vão colocar o dinheiro na poupança, e 30% em algum outro investimento bancário. Também é significativo o contingente (27%) daqueles que vão investir em cursos e na educação da família. Já reformar a casa e viajar são citados por um grupo menor de entrevistados: 22% e 21% respectivamente.

Para 2021, a maioria dos brasileiros acredita que a crise econômica e o aumento do desemprego serão os principais problemas a serem enfrentados pelo governo, citados por 57% e 45% dos entrevistados. A preocupação com as dificuldades econômicas supera inclusive às inquietações com a pandemia (29%), dificuldades na educação (21%), outros problemas de saúde (15%), aumento da violência (11%) e desmatamento e queimadas (9%).

Entre os entrevistados, 64% acreditam que a inflação deve piorar no próximo ano, 61% esperam aumento nos juros, 50% veem uma diminuição no poder de compra e 41% acham que reduzirá a oferta de emprego. Já 40% acreditam que o acesso ao crédito melhorará.

Para Isaac Sidney, presidente da Febraban, o principal problema do país em 2021 deverá ser mitigar o risco de descontrole das contas públicas. “Estamos diante de um quadro de elevados gastos públicos em relação ao PIB, em razão das necessárias medidas adotadas para minimizar os efeitos da pandemia. A continuidade da tramitação das reformas que estão no Congresso é a condição para voltarmos a ter a economia saudável”, afirmou, defendendo o avanço da reforma tributária para destravar o crescimento, aumentar a produtividade, criar um ambiente de negócios mais favorável e melhorar a vida de empresas e famílias.

Na avaliação de Lavareda, a preocupação com a crise econômica e o desemprego se somam a outros problemas em relação à saúde e à educação. “Há uma consciência de que se aprofundou o gap entre estudantes de escolas públicas e privadas, e isso em detrimento da busca da redução da desigualdade estrutural da nossa sociedade. O ensino a distância penalizou a todos, mas sobretudo os estudantes da escola pública”, disse.

A pandemia é uma preocupação maior (35%) entre os mais ricos, com renda familiar acima de cinco salários-mínimos. Já o temor em relação a outros problemas de saúde é relativamente maior (18%) entre a camada mais pobre da população, que ganha até dois salários-mínimos, do que as famílias de renda maior (11%). Os mais pobres também se preocupam com as dificuldades na educação: 21% (até dois salários-mínimos) e 23% (dois a cinco salários-mínimos) contra 16% daqueles com renda acima de cinco salários mínimos.

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