Educação

Por Luna Markman, TV Globo


Reportagem especial mostra desafios de estudantes que vão encarar o ensino médio

Reportagem especial mostra desafios de estudantes que vão encarar o ensino médio

O ensino médio é uma fase cheia de cobranças para alunos de escolas públicas e particulares. Quem sai do ensino fundamental pode passar por um período marcado por medo, ansiedade e expectativas em relação ao futuro. Por isso, educadores e pesquisadores afirmam que é fundamental oferecer acolhimento para os estudantes nessa transição (veja vídeo acima).

O professor Hugo Monteiro, pesquisador especialista em educação, diz que é importante entender esse momento pelo qual os jovens passam entre o fim do ensino fundamental e o início do ensino médio.

"São pessoas que estão construindo uma identidade e que precisam muito de amparo, de orientação. Mas que também, de certo modo, têm uma visão de mundo que precisa ser respeitada, ouvida, apreciada, para a gente compreender quem é essa galera que chega agora no ensino médio", lembra.

Monteiro acredita que famílias e escolas precisam acolher os jovens. "Essa palavra acolhimento pode se traduzir em diálogo", explica. "Dialogar implica dialogar sem violência, escutar, tentar entender, orientar", argumenta.

(Desta segunda-feira, 7, até a sexta-feira, 11, o g1, o Bom Dia PE, o NE1 e o NE2 trazem reportagens com reflexões sobre a educação.)

Aluno do primeiro ano do ensino médio, Carlos Henrique da Silva afirma que enfrentou a pressão na transição. No entanto, diz que ficou muito feliz por ter passo por um marco em sua vida.

"Você vai mudar estilo de vida. Vai estar pensando mais no futuro, no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), no que você vai trabalhar, você vai estar escolhendo sua área", declara.

A estudante Thais Zloccowick fala como o apoio da escola pode ser decisivo para lidar com a pressão dessa fase de escolhas.

"Pelo lance de a gente estar depois da pandemia e no meio do ensino médio, achei que ia ser um pouco mais difícil. Mas tem muito apoio do colégio, em casa, dos professores, então está sendo mais tranquilo do que eu imaginei", ela conta.

Incertezas

Jovens de escolas públicas e particulares falam sobre expectativas no ensino médio — Foto: Reprodução/TV Globo

Na última etapa antes do ensino fundamental, as incertezas são ainda maiores. Maria Eduarda Oliveira, de 14 anos, está no nono ano do ensino fundamental. Para ela, além de estudar, o plano é manter o foco e a "cabeça boa" para lidar com o futuro.

"Às vezes, eu fico meio balanceada com o que eu quero. Porque, assim, é muita coisa. Então, é meio difícil para escolher. Até por ser o meu futuro, né?", explica.

Felipe Silva, de 14 anos, também está na última fase do ensino fundamental e fala sobre as exigências que espera enfrentar.

"Tem que se esforçar muito mais, tem que agir mais, mostrar mais a cara. Porque, se a gente ficar muito parado, pode perder muito tempo e isso pode cobrar a gente no futuro, sabe?", diz.

Abandono

Sala de aula em escola do Recife — Foto: Reprodução/TV Globo

Em Pernambuco, nos últimos três anos, 10% dos alunos que terminaram o nono ano do ensino fundamental não se matricularam no primeiro ano do ensino médio, segundo a Secretaria Estadual de Educação.

Entre 2019 e 2020, 34.783 jovens concluíram o ensino fundamental em Pernambuco, mas 3.505 deles não seguiram para o ensino médio.

Em 2020, ano da pandemia, foram 35.902 concluintes do fundamental. Dos quais 3.413 não se matricularam no ensino médio.

Já em 2021, 33.615 jovens saíram do nono ano do fundamental. Desses, 3.273 não iniciaram o ensino médio em 2022.

Ter que trabalhar, estresse, cansaço e gravidez na adolescência são alguns motivos que levam esses estudantes a desistir da escola. Num cenário de oportunidades desiguais, é ainda mais difícil seguir nos estudos.

Mudanças

Yasmin Domingos, de 14 anos, está na última série do ensino fundamental. Ela trocou a escola particular pela pública depois que a família teve dificuldades financeiras durante a pandemia.

Na nova escola, ela vê vários colegas desistindo de prosseguir com os estudos. "Desistem, porque, às vezes, não há motivação dentro de si mesmo; e muito menos das pessoas ao redor. Muitas das pessoas viram para você e dizem 'ah, nasceu na favela, numa família pobre, você acha que vai chegar em algum lugar com isso? Você acha que pode entrar numa federal, por exemplo?'", afirma.

Yasmin diz que recebe apoio do colégio. "A escola diariamente conversa com a gente sobre o que a gente quer pro futuro, dar um passo à frente, acordar pra vida", conta.

Maria Eduarda também. "Eu sempre fui muito bem-preparada pela escola, em casa também, tanto é que a gente participou de atividade para conhecer professores. As nossas provas também são muito parecidas com o que eu vou ter no ensino médio, então já me sinto confiante", ela diz.

Felipe diz que, embora esteja ansioso para ver como será o ensino médio na prática, as atividades da escola já o deixam mais tranquilo.

Papel da escola

Para tentar oferecer esse apoio aos estudantes, o Liceu Nóbrega desenvolveu atividades voltadas para alunos do nono ano. "A gente tem trabalho de grupo sobre bullying, ansiedade, projeto de vida, orientação profissional", explica a psicóloga Gilvânia Ferraz.

Ela diz que a escola percebe que os trabalhos em grupo estão dando um resultado significativo porque os estudantes conseguem criar vínculos entre si e com o colégio.

A escola criou também a figura do "professor-apoio". "A gente é o momento de escuta. Então, a gente media os conflitos que aparecem. E aparecem muitos ao longo do dia", afirma a professora Laís da Hora, que trabalha na função.

A aluna Maria Luiza Durval, de 15 anos, diz que se sente acolhida pelos projetos. "Os professores me tranquilizam bastante sobre o que é ensino médio, o que vamos encontrar e o que devemos esperar", ela diz.

Para Brenda Farias, de 14 anos, a atuação da escola tranquiliza sobre o momento de indefinição em relação ao futuro.

"Sobre as trajetórias, que eu estava muito em dúvida se queria ficar aqui, elas me acolheram, mostrando outros caminhos também. Realmente abriram muito a minha mente", lembra.

Importância da família

Fundamental nesse processo, a família também é chamada para a escola. "A gente faz uma reunião com familiares dos nonos anos pra explicar a dinâmica do ensino médio e os caminhos que os filhos podem seguir" afirma a gestora Betânia Cordeiro.

Ela alerta que os pais muitas vezes podem ter uma tendência de se realizar através dos filhos, o que deposita ainda mais expectativa sobre os jovens.

"Eles precisam também ter voz. Nossa geração hoje de jovens também tem opiniões, e a gente precisa ouvir o nosso filho que, saber o que ele quer", lembra.

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