A união por ações que promovam a igualdade racial

Setor privado se mobiliza para pensar iniciativas integradas de combate ao racismo

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Por Redação
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A diversidade e a inclusão são questões urgentes de justiça social e também vetores cada vez mais importantes para os negócios. O Brasil, que antes tratava do assunto apenas por meio de políticas públicas, passou a olhá-lo, recentemente, também no setor privado.

O caminho a ser percorrido ainda é longo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 54,7% dos brasileiros se declaram pretos ou pardos, mas só 29% ocupam cargos gerenciais e 0,6% estão em cargos de diretoria. Para tornar esses números mais equilibrados, representantes da comunidade negra, acadêmicos, empresários e líderes de organizações não governamentais (ONGs) têm buscado, em conjunto, maneiras de descolonizar o País.

Abertura do Novembro Negro no Teatro Castro Alves, em Salvador, na Bahia. Foto: Carol Garcia/GOVBA

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Grupos como a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, o Movimento pela Equidade Racial (Mover) , a associação Pacto de Promoção da Equidade Racial e a Coletivo de Empresários e Empreendedores Afro-Brasileiros (Ceabra), em comum, buscam acabar com o racismo por meio da melhoria na educação pública e da inserção de profissionais negros no mercado de trabalho, assim como pelo monitoramento desses avanços. Dentro desses grupos estão grandes empresas, das mais diversas, como Itaú, Coca-Cola, Natura, Magalu, Unilever, além de instituições de ensino e ONGs.

"Pensar ações de igualdade racial é importante, primeiro, para fazer justiça social. Depois, como negócio, é também uma maneira de ampliação da capacidade criativa, produtiva e de construção de um conhecimento mais plural e integral. As transformações vêm sempre da multiplicidade de formas e habilidades", afirma o advogado Raphael Vicente, coordenador da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial.

Hélio Santos, presidente do Conselho Deliberativo do Pactode Promoção da Equidade Racial. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Presidente do Conselho Deliberativo do Pacto, o professor Hélio Santos participa há muitos anos da luta contra o racis-mo. Ele foi um dos idealizadores da política de cotas raciais no Brasil e agora tenta ajudar a iniciativa privada a ser mais inclusiva. Entre as novas ações, ele destaca o Índice ESG de Equidade Racial (IEER), desenvolvido por econometristas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade de São Paulo (USP).

Esse índice tenta medir o desequilíbrio racial dentro das organizações. Analisa a renda destinada a profissionais negros e a compara ao porcentual de negros na população economicamente ativa na região em que a empresa atua. Também avalia se está havendo variação hierárquica ou se os negros ocupam apenas cargos de base.

"É um instrumento que permite uma mudança há muito reivindicada no mundo econômico. Além das ações afirmativas que possibilitam a negras e negros ocuparem postos de trabalho em todos os níveis, induz investimentos, especialmente no campo da educação. Trabalho e educação são dois vetores básicos para a redução da desigualdade racial, que é o que impede um verdadeiro desenvolvimento no País", declara Santos.

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Fabya Reis, secretária de Promoção da Igualdade Racial do governo da Bahia. Foto: Divulgação/ Governo da Bahia

Políticas públicas

Primeiro estado a ter uma pasta exclusivamente voltada à questão racial, a Bahia celebra os 15 anos da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, a Sepromi. "O estado assumiu para si, em diálogo com os movimentos sociais, um compromisso da superação do racismo estrutural no País e também na Bahia. Se observarmos os dados de acesso à saúde, educação, trabalho em condições dignas, na maioria dos indicadores, a população negra aparece em situação pior", afirma Fabya Reis, secretária da pasta.

Estado com o maior número de pessoas que se declaram pretas no País - segundo o IBGE, o índice chega a 22,5% -, a Bahia viu nascer em 2014, por meio da Sepromi, o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa. Essa legislação estadual criou um marco para questões voltadas ao acesso à terra, emprego e renda, além de políticas de promoção da igualdade racial. O estatuto regulamenta, por exemplo, a reserva de 30% das vagas em concursos públicos e processos seletivos em órgãos estaduais para a população negra. "A democracia só será plena se nós combatermos o racismo. É preciso superar o racismo, e também o sexismo, para vivermos como um país plenamente democrático", finaliza Fabya.

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