RIO — O Enem 2020 será singular. Com os colégios abrindo as portas gradualmente, a preparação dos alunos será feita majoritariamente a distância e, mesmo nos mais importantes colégios do país, sem planejamento adequado — afinal, foi impossível antecipar a pandemia. Nesse cenário, escolas e cursos pré-vestibulares correm para inventar novas estratégias para o exame, cuja primeira prova será aplicada em 17 de janeiro, a menos de 90 dias.
— Esse Enem será muito prejudicado — analisa Claudia Costin, diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV/RJ. — Lógico que houve um esforço enorme de professores e das redes para garantir alguma forma de aprendizagem remota. Mas, com o enorme período longe das salas, há uma completa desconexão da escola. Adolescente não tem disciplina para aprender sozinho. Fica tudo muito difícil.
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Neste novo cenário, pré-vestibulares comunitários tiveram que encontrar formas de acesso à internet para seus alunos, escolas precisaram rever modelos de preparação consolidados há anos e até unidades internacionais de ponta procuraram ajuda.
— Essa geração superconectada se adapta facilmente. Foi mais complicado para o professor — avalia André Vieira, 28 anos, que dá aulas de História no pré-vestibular Núcleo Independente Comunitário de Aprendizagem (Nica), no Jacarezinho, Zona Norte do Rio. — Nas aulas on-line, a gente tem que solicitar a participação do aluno, pedir para ouvir a voz dele. É um jeito de mantê-lo atento, o que no presencial você consegue com outros recursos.
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No Nica, os 30 alunos receberam chips de telefone de uma campanha chamada 4G para Estudar, liderada pela ONG Nossas. A rede de ativistas conseguiu arrecadar R$ 600 mil, o que possibilitou a compra de três meses de internet para 4.625 alunos de 31 cursinhos populares espalhados por 10 estados do Brasil.
— Os alunos de escolas privadas têm acesso a coisas que eu não tenho, e a disparidade aumentou com a pandemia. Pelo menos aqui onde eu moro, eles não pararam de estudar quase nenhum dia e até aumentaram a carga horária. Minha escola só voltou nessa semana, com aulas remotas — conta Alane Costa, 17 anos, que só não largou os estudos porque seguiu as aulas da Casa Educação Popular, pré-vestibular de Altamira, no Pará, com chip doado pela campanha da Nossas.
Escolas se readequam
Algumas plataformas digitais também abriram opções para compensar as escolas fechadas. Em parceria com o site Gokursos e o pré-vestibular Vai Cair no Enem, o Ser Educacional, grupo de instituições de ensino superior, criou o Enem 360.
O projeto oferece 100 mil vagas gratuitas para quem deseja se preparar para o exame. O material oferecido tem mais de 300 vídeos, 50 apostilas e aulões virtuais todos os sábados. Para participar, os interessados precisam acessar o site gokursos.com e realizar o cadastro. O conteúdo é liberado de forma imediata.
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Colégios, já acostumados com uma série de metodologias para a preparação do Enem, também precisaram mudar. No Inovar Veiga de Almeida, do Rio, o professor de Química Pedro Ricardo Gabriel criou até uma avaliação usando o aplicativo de vídeos Tik Tok, febre entre adolescentes— justamente para cativá-los. Já as lives viraram rotina, com atividades interdisciplinares, semelhantes às questões do Enem.
— Apesar das mudanças, algumas estratégias do passado permanecem. Elas só mudaram de plataformas, como os simulados, que são corrigidos com o TRI — diz Gabriel, citando a Teoria de Resposta ao Ritmo, algoritmo usado pelo Enem para corrigir e dar nota às questões da prova.
Assim como a Inovar Veiga de Almeida, o colégio Elite, da rede Eleva, também contratou uma plataforma de aulas e exercícios on-line para uso de seus estudantes. Além disso, o planejamento foi reformulado para priorizar alguns conteúdos.
— Mais do que nunca, os aprovados serão os que focaram em seus propósitos. Os que, apesar dos diferentes senões, se organizaram. E isso significa passar horas e horas estudando. Esses vão passar na prova— avalia Caroline Lucena, coordenadora do Ensino Médio e do Pré-vestibular do Elite, que abriu, no começo do mês, um preparatório intensivo para alunos ainda interessados em começar a preparação on-line.
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Em São Paulo, o Avenues, um dos colégios mais caros do país, também buscou uma preparação especial para o Enem. A escola, inaugurada em 2018 com um modelo internacional de ensino que segue o calendário do Hemisfério Norte, recebeu metodologias específicas da rede Poliedro para uma plataforma toda on-line dedicada aos alunos que se interessam pelo Exame Nacional do Ensino Médio — no Avenues, a maioria se prepara para as universidades americanas.
— O Poliedro tem mais experiência em uma aplicação contínua de simulados com a classificação dos alunos e a avaliação das habilidades mais vulneráveis — afirma Cristine Conforti, diretora do programa brasileiro da Avenues — Além disso, os nossos professores preparam material suplementar com o nosso estilo, que preza a interdisciplinaridade.