Descrição de chapéu

A maratona da educação começa hoje

Esporte pode ser um aliado importante no retorno às escolas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo

Nesta segunda (2) voltamos às aulas depois de um longo tempo, em meio a uma Olimpíada que nos apresentou esportes, atletas e histórias pessoais tocantes. Rayssa, Rebeca, Italo, Mayra e tantos outros nos emocionam pelas conquistas e por suas trajetórias, mas também por suas vitórias se darem em um campo —o esporte de alto rendimento— que exige disciplina, superação, persistência e motivação.

A motivação é um elemento fundamental também no processo de aprendizagem. Confiar em si e na capacidade de realizar autonomamente atividades propostas, enxergar valor em completá-las individual ou colaborativamente e se sentir recompensado ao final do processo são algumas das dimensões que influenciam a motivação de um estudante.

Segundo pesquisa recente do Datafolha, o quadro que os educadores brasileiros terão diante de si a partir de hoje é bastante desafiador: 56% dos estudantes ganharam peso, 45% ficaram mais agitados, 44% mais tristes, 40% mais nervosos e 34% perderam o interesse pela escola durante a pandemia.

Em um momento que necessitamos trazer de volta os estudantes às escolas, o esporte pode ser um aliado importante em seu acolhimento, restabelecimento de vínculos, dos sentidos de identidade e pertencimento. As atividades de educação física são —ao lado das artes— um instrumento de apoio à motivação dos estudantes, à redução do absenteísmo e da evasão.

Os professores Jal Mehta e Sarah Fine, da Universidade Harvard, pesquisaram por seis anos as melhores escolas de ensino médio americanas. Encontraram estudantes pouco engajados com o tradicional “combo” de aulas expositivas e testes de múltipla escolha. As atividades que mais motivavam os estudantes eram coletivas, muitas delas fora da sala de aula, como educação física e artes, que contribuíam com o maior engajamento dos estudantes no conjunto das disciplinas escolares.

Estudo publicado em 2018 na revista científica do CDC (centro de controle e prevenção de doenças americano) demonstrou que a ampliação da exposição a atividades físicas resultou em uma diminuição do absenteísmo escolar de estudantes do ensino básico em Nova York, particularmente aqueles em situação mais vulnerável.

Levar os estudantes ao ar livre e propor jogos cooperativos são estratégias relevantes para trazê-los em alma para a escola. Onde não há quadra poliesportiva é possível usar espaços públicos no entorno para realizá-las. Um bom programa de educação física é muito mais do que propor os tradicionais esportes coletivos com bola.

Italo Ferreira, primeiro campeão olímpico de surfe, começou a pegar ondas em uma tampa de isopor. Filha de mãe solo, que dava duro para sustentar oito filhos, Rebeca Andrade andava duas horas por dia para treinar, com apenas sete anos de idade. Três cirurgias e anos depois, é a segunda melhor ginasta do mundo.

As conquistas de Rebeca, Italo e tantos outros se devem a seu esforço, disciplina, persistência e motivação pessoais e a uma rede de apoio. Não desistiram diante das dificuldades, mas tiveram ao seu lado familiares e pessoas que não os deixaram desistir.

Os estudantes que voltam hoje às aulas podem ter na atividade física um apoio fundamental para que se reconectem à escola. Governos, educadores e a sociedade devem agir para que todos, independentemente de suas condições iniciais, cheguem ao fim dessa “maratona da aprendizagem” no tempo certo de “classificação para as próximas fases”.

Não os deixemos desistir. Não desistamos deles.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.