Por Guia do Estudante

Ter uma boa saúde mental faz toda a diferença no preparo para a maratona de provas de fim de ano, vestibular e Enem, pois ajuda a manter a concentração nos estudos, ter mais foco, energia, motivação e disciplina.

Mas, antes de qualquer coisa, é preciso saber como o estudante se sente e se há desafios ou obstáculos que precise enfrentar, como aprender a lidar com problemas pessoais, estresse, ansiedade ou algum outro fator que reflita em seu bem-estar mental. Afinal, problemas comuns como estes podem gerar um desconforto e uma insegurança ainda maior quando somados a pressão de tirar boas notas.

Impactos da Covid-19 na saúde mental dos adolescentes

A mudança de rotina causada pela quarentena e a avalanche de informações disparadas na imprensa e redes sociais, foram algumas das consequências da chegada da pandemia de Covid-19 que afetou a saúde mental, não só dos adultos, mas também de crianças e adolescentes.

As aulas online, o distanciamento da escola e dos colegas, acabaram afetando muitos estudantes. Prova disso, foi o que concluiu um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), publicado em junho deste ano, que mostrou que, de 7 mil crianças e adolescentes, uma em cada quatro apresentou ansiedade e depressão durante a pandemia com níveis clínicos – ou seja, com necessidade de intervenção de especialistas.

Segundo a psicóloga e especialista em saúde do adolescente, Débora Duarte, a pandemia causou um grande impacto na vida dos estudantes, principalmente com as famosas “fake news”.

“O excesso somado ao acesso de informações em fontes duvidosas, que muitas vezes mais desinformam, pode provocar confusões, dificultando a adoção de comportamentos realistas e saudáveis para o enfrentamento à Covid-19. Isso pode sem dúvidas trazer vários prejuízos, ctomo aumento dos níveis de ansiedade, adoção de medidas descabidas ou desnecessárias, e até mesmo comportamentos de risco”, explica Débora.

Ainda de acordo com a psicóloga, a escola cumpre o papel fundamental no ensino de conteúdos e transmissão de conhecimentos entre crianças e adolescentes, mas este não é seu único papel.

“Ao frequentar o colégio, crianças e adolescentes têm a oportunidade de colocar em prática as habilidades que possuem e aprender diversas outras relacionadas à socialização, convivência, autonomia, autocontrole e inteligência emocional. Além disso, quando falamos em adolescência, sabemos que nesta etapa do desenvolvimento estão, de forma bastante intensa, lidando com as questões relacionadas ao desenvolvimento da identidade, que em outras palavras significa que estão buscando entender de forma mais clara quem são, do que gostam e em que acreditam”, afirma.

E é neste cenário que percebemos o quanto estar longe dos colegas, durante a pandemia, pode ter sido um problema para os jovens.

“Nesse processo, a convivência com outros adolescentes é fundamental. Entre os pares podem encontrar relações mais horizontais, onde são tratados como iguais, além de buscar grupos com os quais se identificam, bem como encontrar novas referências que façam mais sentido ao seu jeito de ser e estar no mundo”, completa. Débora ainda afirma que, neste contexto, é possível atender necessidades fundamentais ao desenvolvimento emocional saudável dos jovens: pertencimento, validação e reconhecimento. E, com o método de ensino remoto, tudo isso ficou prejudicado.

Outros fatores que refletem no bem-estar emocional

Ansiedade, estresse, depressão e outros transtornos mentais acabam se tornando comuns na realidade mundial dos dias de hoje. Mas, segundo a especialista, a reflexão sobre estes problemas deve ser um pouco mais ampla.

“Quando discutimos saúde mental, falamos em “fatores de risco” e “fatores de proteção". Os primeiros são aquelas condições e situações que podem aumentar os riscos de desenvolver transtornos mentais, incorrer em comportamentos de risco, e piorar nossa saúde mental; os segundos são aquelas condições e situações que favorecem uma saúde mental de qualidade. Esses fatores podem ser individuais (do indivíduo) ou contextuais (referente ao contexto que se vive). Diante disso, fica mais claro que o que vai determinar a saúde mental de alguém são inúmeros fatores de origem biopsicossocial”, disse.

“Em outras palavras, saúde mental não é algo que depende exclusivamente de nós mesmos, e embora possamos fazer muito por nós - como aprender mais sobre como funcionamos ou a lidar com nossas emoções -, existem vários fatores que podem influenciar nosso bem-estar”, completa.

Considerando essas premissas, Débora diz que a resposta para quais são os problemas que mais afetam os estudantes não é tão simples.

“Temos grandes problemas sociais que afetam nossos jovens e nossas subjetividades de modo geral, como: um contexto de pandemia somado à crise política e econômica do nosso país, a falta e o desmonte de políticas públicas de promoção à saúde mental, o desmonte do SUS, as violências, o racismo estrutural, o machismo, LBTQIA+fobia, a desigualdade social, e tantas outras questões sociais que atravessam nossa saúde mental e impedem a garantia de direitos fundamentais de todos, como saúde, educação, lazer segurança e dignidade”, conclui.

Como se preparar para as provas

Entre as melhores estratégias para manter a mente saudável e se preparar sem desespero, está a comunicação dos estudantes com as pessoas próximas, como explica a psicóloga.

“É importante conversarem sobre as preocupações e dificuldades com as famílias, amigos, professores e outras pessoas de confiança, buscando soluções e estratégias para os desafios, e se isso não for o suficiente buscar orientação e ajuda com profissionais qualificados pode ser uma alternativa”, finaliza.

Além disso, é necessário também enxergar a visão de quem os acompanha dentro do ambiente escolar. A pedagoga, Jaqueline Matos, acredita que a melhor maneira é tranquilizá-los. “É importante acompanhar os processos, respeitar as decisões e dialogar muito”, afirma.

A educadora também ressalta a importância de acalmar os estudantes que tiverem dificuldades em lidar com todas as consequências que a pandemia trouxe: "Precisamos mostrar para eles que qualquer fracasso tem outros atores envolvidos também, darmos condições de alimentação adequada, disciplina de sono e rotina e vigiarmos, o tempo todo, a saúde psicológica deles", explica.

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