Carlos Alberto Sardenberg
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Carlos Alberto Sardenberg

Jornalista

Informações da coluna

Carlos Alberto Sardenberg

Não é verdade que os alunos brasileiros foram mal nos testes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), realizado no ano passado. Estamos aqui diante um caso típico de como as médias enganam.

Na média geral, os 11 mil alunos brasileiros (15 anos de idade, na série correta) fizeram 410 pontos em leitura (52ª posição em 81 países), 403 em ciências (61ª) e 379 em matemática (65ª). Medíocre. Mas os 1.437 estudantes das escolas privadas saíram-se muito bem em leitura e ciências. Foram razoáveis para mais em matemática.

Foram muito mal os alunos das escolas públicas. Eis onde está o problema. E um enorme problema, pois, óbvio, a maioria dos estudantes está nas escolas dirigidas por governos estaduais e municipais. Na era da inteligência artificial, a condição essencial para a produtividade está justamente na boa formação escolar. E, se a escola pública falha, isso agrava a desigualdade no país.

Os números são impressionantes. Estudantes das escolas privadas fizeram 500 pontos em leitura (compreensão de texto, interpretação, conclusões). Isso os coloca na 11ª posição, acima da média dos países ricos da OCDE, e à frente de nações como Reino Unido, Finlândia, Alemanha e França. E bem na frente de todo mundo na América Latina. Os jovens das escolas públicas tiraram a nota 396 em leitura, na 58ª posição.

Em ciências, os estudantes das instituições privadas ficaram com 493 pontos, na 20ª posição — e ainda aqui acima dos países da OCDE, organização que reúne as nações mais desenvolvidas. Alunos das públicas marcaram apenas 388 pontos nessa prova. Ou 64º lugar, entre os 81 participantes.

Em matemática, houve o pior desempenho tanto dos estudantes das públicas quanto das particulares. Parece um problema cultural desta parte das Américas. Ainda assim, a diferença é enorme. Alunos das escolas públicas fizeram 366 pontos (em 69º lugar). Jovens das instituições privadas alcançaram 456 pontos (38ª posição), abaixo dos países da OCDE, mas bem à frente de todos os da América Latina.

Os gestores das escolas privadas têm aí um enorme desafio. Nem precisaria dizer, mas vá lá: no universo tecnológico de hoje, o raciocínio matemático é requisito. E os governos, nos três níveis, têm tudo por fazer. A governo, convém acrescentar Congresso, assembleias estaduais e câmaras de vereadores, que regulam a matéria.

As reações aqui foram ruins ou inexistentes. Muita gente, de todos os lados do espectro político, simplesmente ignorou o fato essencial: o problema está na escola pública. Quando houve respostas, foram fracas. O ministro da Educação, Camilo Santana, destacou o fato de as notas brasileiras terem caído pouco durante a pandemia. Certo. Mas já eram bem baixas. Na verdade, o desempenho dos brasileiros registra avanços muito pequenos desde o primeiro teste, ainda no segundo governo FH.

O ministro referiu-se também à reforma da reforma do ensino médio, promovida pelo governo Lula. Lastimável. Estão rediscutindo e refazendo currículos, quando a escola pública mostrou que não sabe ensinar há muitas décadas, não importa a base curricular.

Cuidado, porém. Não vamos cair na armadilha das médias. Há boas escolas públicas espalhadas pelo país, de modo que uma parte do caminho está aberta: que as ruins copiem os métodos e sistemas das boas, públicas ou privadas.

Cito Fernando Schüler, professor do Insper:

— O sistema público não é orientado para resultados, nem sensível a resultados. O centro do sistema não é o usuário ou o aprendizado dos alunos... O sistema como um todo carece de “responsabilização” dos agentes que lidam com a educação. Os professores não podem ser demitidos, e sua remuneração é insensível à performance; as escolas não são punidas ou premiadas se obtêm bons ou péssimos resultados.

Os governos estão, de novo, gastando tempo, energia e dinheiro na reforma da reforma das bases curriculares. De que adianta se a coisa fracassa nas salas de aula?

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