Ricardo Henriques
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Por Ricardo Henriques


O ensino médio é a etapa que sintetiza os maiores desafios da educação básica brasileira. Nossos estudantes carregam as fragilidades de aprendizado das etapas anteriores, vivenciam um cotidiano escolar que julgam desinteressante e se sentem pressionados pelas dificuldades de acesso ao ensino superior e de inserção no mercado laboral.

Pior, são relativamente poucos os jovens que o concluem e, entre eles, a maior parte alcança baixíssimos níveis de aprendizagem. Para superar esse quadro é necessário, entre outras dimensões, considerar os retornos econômicos à educação para desenhar políticas educacionais que garantam o direito à educação de qualidade para todos.

Até 2019, antes da pandemia, somente 65% dos jovens brasileiros concluíam a última etapa da educação básica antes de alcançarem 19 anos de idade. Entre os 25% mais pobres, a taxa caía para 51%. Assim, muitos deles carregam consigo atrasos em seu fluxo escolar (a conclusão esperada é aos 17 ou 18 anos), e outros acabam por desistir.

O cenário é mais desafiador ao olharmos a bagagem que os egressos da educação secundária carregam. Um relatório do Todos pela Educação mostrou que somente 29% dos concluintes do ensino médio no Brasil atingiram o aprendizado adequado em Língua Portuguesa em 2019 (sendo 23% na rede pública). Em Matemática, a proporção caía a 9% (na rede pública, 4%).

Além disso, as altas taxas de evasão geram perdas para toda a sociedade. Em 2020, Ricardo Paes de Barros estimou que cada jovem, ao não concluir a educação básica, custava ao país R$ 54 mil do Produto Interno Bruto (PIB).

As perdas totais ao PIB alcançavam R$ 214 bilhões e, segundo outro estudo do mesmo autor, poderiam se situar entre R$ 700 bilhões e R$ 1,5 trilhão ao longo da vida desses jovens, ao considerar as aprendizagens não realizadas e as defasagens causadas pela pandemia.

O aumento da escolaridade em todo o mundo deslocou os retornos econômicos da educação primária para a superior. Montenegro e Patrinos demonstraram essa mudança histórica em estudo para o Banco Mundial de 2014, no qual concluíram que, mundialmente, a taxa de retorno econômico situava-se em 17% para o ensino superior, contra 10% para a educação primária e apenas 6% para a secundária.

Isso poderia sugerir que concluir o ensino médio só é relevante se ele for entendido como uma etapa que leve ao ensino superior. Não é o caso. Embora o diferencial de rendimentos ao longo da vida no Brasil entre indivíduos que completaram o médio e os que concluíram apenas o fundamental ter caído 17 pontos percentuais entre 2005 e 2015, ele ainda era de 26% nesse último ano.

Ou seja, do ponto de vista da renda futura esperada, apesar de incentivos econômicos decrescentes, terminar o médio ainda gera um prêmio considerável. Não é maior do que o verificado na conclusão do Superior, mas segue relevante.

As estimativas sobre os retornos econômicos da educação são importantes tanto para indivíduos como para os formuladores de políticas públicas. Autoridades governamentais precisam levá-los em conta para priorizar investimentos educacionais, os indivíduos tendem a percebê-los mais a partir de sua vivência.

Para além da experiência vivida, informar os secundaristas sobre os retornos econômicos muda suas expectativas e aumenta as taxas de conclusão do ensino médio, bem como o ingresso no superior.

Essas foram as conclusões de experimento conduzido por Carolina Lopez, da Brown University, com alunos de escolas públicas da província argentina de Salta. O estudo publicado em 2022 mostra que o grupo de tratamento (que recebeu informações sobre retornos econômicos) teve taxas de conclusão no ensino médio 10% superiores ao grupo de controle (que não recebeu as informações).

Entre os mais pobres, o diferencial foi de 20%. Além disso, a matrícula no ensino superior foi 30% maior entre os egressos do médio no primeiro grupo.

Não existe possibilidade de inserção competitiva do Brasil na economia global, marcada cada vez mais pela agregação de valor a partir do conhecimento e da inovação, se nossos jovens sequer concluírem o ensino médio. É necessário um esforço coletivo urgente com vistas a assegurar que todos os jovens concluam todas as etapas da educação básica.

Afinal, mitigar essas perdas potenciais é contribuir para o desenvolvimento individual dos estudantes, para o crescimento econômico e para o desenvolvimento inclusivo e sustentável do país.

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