Brasil Educação

‘A educação é estratégica para crescer a longo prazo’, diz economista

Para Wilson Risolia, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, setor educacional precisa ser valorizado ‘como minério, óleo, gás ou recursos humanos’
So Rio de Janeiro (RJ) 26/04/2019 - Entrevista com o presidente da Fundacao Roberto Marinho Wilson Risolia. Foto: Leo Martins / Agencia O Globo Foto: Leo Martins / Agência O Globo
So Rio de Janeiro (RJ) 26/04/2019 - Entrevista com o presidente da Fundacao Roberto Marinho Wilson Risolia. Foto: Leo Martins / Agencia O Globo Foto: Leo Martins / Agência O Globo

RIO- No Brasil, cerca de 28% dos estudantes do ensino médio estão atrasados em relação à série em que deveriam estar. O dado, do último Censo Escolar, divulgado em fevereiro, é um dos que comprovam que muitos têm ficado para trás na Educação.

Na tentativa de transformar essa realidade, a campanha “Nem 1 Pra Trás”, da Fundação Roberto Marinho (FRM), celebra o Dia Mundial da Educação, no domingo, com uma série de atividades para discutir as principais questões da área.

A iniciativa reúne mais de 75 parceiros, entre eles FGV Ebape/Ceipe, Fundação Bradesco, Fundação Volkswagen, Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura, Instituto Oi Futuro, Instituto Votorantim, Itaú Social, Movimento pela Base, Senai Nacional, SESI Nacional, Todos Pela Educação e Unicef.

O secretário-geral da FRM, Wilson Risolia, que já foi secretário estadual de Educação do Rio, conversou com O GLOBO sobre a necessidade de toda a sociedade enxergar a Educação como um instrumento estratégico e prioritário para o desenvolvimento da nação.

A Educação não tem sido encarada como prioridade pela sociedade?

Toda vez que sai o resultado do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) ou do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), esse assunto vem à baila, mas para no nosso meio. Raramente o tema invade o coletivo, chega a uma igreja, a um clube, a uma roda de bate-papo. Qual é o nosso sonho? É que, da mesma forma como a sociedade se indignou com a moeda instável no passado e hoje dá relevância a assuntos como a reforma da Previdência, todos falem de Educação. A Educação ainda não viralizou.

Quando se reconhece que é um tema estratégico para o crescimento de longo prazo, o assunto passa a fazer parte do nosso dia a dia. Uma família coreana valoriza muito a Educação porque sabe que a área é vista como estratégica para o crescimento da nação, e então é tratada como política de Estado. O que buscamos é que o assunto, com o tempo, ganhe essa dimensão.

Na sua opinião, qual deve ser a prioridade na área a partir de agora?

Preciso falar como uma agenda de Estado e não de governo. A Educação sempre será um assunto estratégico, como a reserva de minério, óleo, gás, recursos humanos. Temos um estoque de pessoas que já ficaram para trás. O aluno reprova vários anos e é gerado esse estoque com distorção idade-série. É preciso ter um método de ensino compatível com a necessidade dele. A estratégia ideal é que haja uma ação coordenada para quem ficou para trás e que garanta que novos estudantes não fiquem.

Nesse contexto, qual é a importância de avaliações como as do Sistema de Avaliação da Educação Básica?

A avaliação serve não só para dizer que há um problema, mas para dizer qual é o tamanho dele, e onde ele está. O equívoco que às vezes se comete é dar o mesmo remédio achando que todos são iguais. Se você erra a dose, não terá a cura. Não dá para ter plano estratégico se ele não estiver pautado em uma avaliação.

Como promover uma educação de qualidade e resolver todos esses problemas em um contexto de crise econômica?

A governança do sistema educacional precisa ser resolvida. Em um país como o nosso, onde o ensino fundamental está com o município, o médio, com o estado, e o superior, principalmente, com o governo federal, há uma corrida de bastão. Um passa o bastão para o outro, e se não houver comunhão e governança sobre o sistema, ele não funciona.

Além do governo, qual é o papel do setor privado e da sociedade civil na promoção da Educação?

A função que diversos atores têm é tomar consciência de que temos um problema e não aceitar deixar ninguém para trás. Só falar que a Educação é um direito não basta, temos que fazer mais do que isso. É preciso juntar todos esses atores para que se aproximem da escola pública. O que fazemos de maneira isolada, vamos fazer juntos, pois o impacto é maior e mostra o que é importante para quem é responsável pelas políticas públicas.

Todo mundo sabe o que tem que fazer, então vamos empurrar essa agenda e fazer acontecer. Isso é o macro. No micro, como fazemos com nossa escola. A Fundação Roberto Marinho milita nessa área há quatro décadas. Fizemos a escolha estratégica de oferecer soluções para resolver o problema de quem ficou e de quem está ficando para trás.

Serviço

O evento “Nem 1 Pra Trás” terá debates, contação de histórias e batalha de poesias.

Nathalia Grilo e o grupo Ayó , coletivo de tradição oral, abrirão o evento, com contação de histórias sobre a cultura africana.

Entre uma mesa e outra , o cordelista Severino Honorato também vai se apresentar, mostrando a cultura nordestina.

Para fechar , o grupo Jovens do Slam promoverá uma batalha de poesias.

Quando: Domingo, das 10h às 15h.

Quanto: Entrada gratuita.

Onde: Museu da República, na Rua do Catete, 153, Catete, Rio de Janeiro.

Programação completa