Participei, em 28 de janeiro, de um evento organizado por Marta Suplicy para discutir pautas relacionadas às mulheres, com vistas às eleições deste ano. Antes do encontro, cada uma de nós, portadoras de diferentes visões de mundo e atuantes em áreas igualmente distintas, preparou três pontos a serem explanados às demais e eventualmente incluídos numa carta aberta a ser enviada aos candidatos e divulgada à sociedade.
Foi uma reunião interessantíssima, dada a diversidade das participantes e das abordagens, mas também da possibilidade de uma escuta de qualidade do que é necessário para construir um país menos desigual.
Em alguns momentos, o ceticismo que vem me afetando caiu por terra e vi-me emocionada, simplesmente por ver que propostas concretas e factíveis tinham sido preparadas com cuidado, em áreas que não costumo acompanhar. Levei também as minhas três, ligadas à educação básica, e pude vê-las contempladas no documento. Aproveito a coluna para aqui compartilhá-las.
A primeira se refere a licenças parentais. Há tempos acompanho as descobertas mais recentes sobre o cérebro das crianças. Sem a criação de vínculos afetivos, especialmente nas famílias, a capacidade de aprender e de se desenvolver plenamente se vê profundamente afetada. Para tanto, sugeri que se ampliasse a licença maternidade para 6 meses, de forma a assegurar a amamentação exclusiva, e se retardasse a entrada em creches. Da mesma maneira, que se expandisse a licença paternidade para um mês, garantindo a criação de vínculo entre o pai e a criança e a partilha do cuidado na família.
Sugeri também que se criasse nas escolas um ambiente receptivo às adolescentes, com banheiros limpos, sabonetes e dispensários de absorventes higiênicos, para assegurar a sua permanência e dar-lhes higiene e conforto. Uma em cada quatro adolescentes no Brasil não possui um absorvente durante seu período e, assim, tende a não comparecer às aulas, vivendo o que se convencionou chamar de "pobreza menstrual".
A terceira proposta baseia-se no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4, aprovado em 2015 pela assembleia das Nações Unidas, que estabeleceu em sua meta 4.7 que houvesse uma educação para uma cultura de paz, sustentabilidade e igualdade de gêneros. Nesse sentido, é importante assegurar que meninas e meninos desenvolvam habilidades para a vida em sociedade, inclusive para uma convivência pacífica e inclusiva, de respeito aos direitos humanos e apreciadora da diversidade.
Há muito o que se fazer em educação, especialmente garantir a permanência e a aprendizagem de qualidade para todos, mas, sem essas medidas, a agenda não será inclusiva.
De suas três propostas penso que a mais importante seja a educar as crianças na escola para a igualdade de gêneros. Sem essa não teremos mudança. É trabalho para uma geração. Tenho dúvidas sobre se aumentar a presença física dos pais contribuiria para criar laços afetivos. Não foi o que o isolamento da pandemia comprovou, pelo contrário. O machismo está profundamente enraizado na nossa cultura e só uma intervenção educacional profunda e duradoura poderia mudar essa visão.