Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Priscilla Bacalhau
Descrição de chapéu Todas

A educação contra o discurso de ódio

Ignorar essas postagens não resolve o problema, apenas cria uma sensação superficial de paz

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

  • 11

Há alguns assuntos que dão vontade de fingir que não existem. O discurso de ódio é um deles.

Será que não podemos simplesmente ignorar os comentários nas redes sociais que promovem discriminação, hostilidade ou violência? Pelo bem de nossa saúde mental, muitas vezes deletamos comentários ou bloqueamos usuários que incitam o ódio com base em raça, etnia, religião, gênero, orientação sexual, nacionalidade, deficiência ou outras características pessoais.

O discurso de ódio não ocorre só em ambientes digitais, mas foi bastante disseminado por meio das redes sociais, tratadas como terra de ninguém. Embora manifestações explícitas de violência sejam mais fáceis de identificar, o discurso de ódio também se manifesta em estereótipos, piadas depreciativas e humilhações. Dez minutos de passeio pelo X bastam para encontrar exemplos claros.

Ignorar essas postagens não resolve o problema, apenas cria uma sensação superficial de paz. Na prática, o discurso de ódio, associado à propagação de fake news e teorias da conspiração, tem consequências graves e duradouras. Ele contribuiu para fenômenos como a ascensão da extrema direita, a negação científica durante a pandemia e o reforço de preconceitos, prejudicando ainda mais a inclusão social de grupos vulneráveis.

Nicolas Tucat/AFP

Crianças e adolescentes não estão imunes a isso —pelo contrário, são frequentemente protagonistas e alvos desses discursos. A exposição contínua ao ódio nas redes sociais aumenta o risco de que os jovens internalizem discursos discriminatórios e se tornem adultos intolerantes e violentos.

Além dos impactos psicológicos, uma consequência tangível e trágica do discurso de ódio é o crescimento de ataques violentos a escolas, muitas vezes cometidos por alunos ou ex-alunos. Em muitos casos, os atos são praticados por jovens influenciados por conteúdos extremistas na internet, onde a desumanização de certos grupos e a normalização da violência como resposta a problemas são frequentes.

Combater o discurso de ódio é essencial, e a educação tem um papel central nesse esforço. A função social da escola vai além da instrução acadêmica e da preparação para avaliações. A escola, em conjunto com famílias e comunidades, precisa formar cidadãos críticos e éticos, capazes de contribuir para a construção de uma sociedade justa e democrática.

Em 2023, a Unesco publicou relatório sistematizando abordagens educacionais para combater o discurso de ódio. As propostas são intersetoriais e envolvem um esforço coordenado. As estratégias incluem elaborar políticas com diretrizes claras para lidar com o discurso de ódio nas escolas e educação midiática no currículo, além de formação de professores. É essencial ensinar a distinguir fatos de fake news e ter uma postura crítica diante de conteúdos digitais e discursos nocivos.

Apesar de alguns avanços recentes e de boas práticas espalhadas pelo Brasil, ainda carecemos de uma política nacional coordenada que oriente as escolas no enfrentamento ao discurso de ódio e à violência.

Não podemos mais ignorar esse assunto. A educação é uma ferramenta poderosa para transformar realidades e construir uma sociedade mais justa, inclusiva e pacífica. A hora de agir é agora.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

  • 11

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Antonio Emanuel Melo dos Santos

15.nov.2024 às 10h50

Quando os invasores fo MST recebiam mortadela e pão do PT e paralelamente invadiam fazendas, matavam animais e depredavam propriedades ninguém falava em conter o discurso de ódio. Interessante? Descobriram agora que violar a lei é ruim?

José Cardoso

25.out.2024 às 11h29

Esse é o caminho certo, as escolas. O caminho errado é o seguido atualmente, com perseguição política, prisões arbitrárias e censura. Até porque o ódio é uma paixão humana ancestral, e imputá-la apenas à uma tendência política é ingênuo ou desonesto.