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Antônio Gois, colunista Foto:  

A conta da crise

Percentual dos alunos que abandonaram os estudos no ensino médio público do Rio cresceu de 4,5% para 8,5% entre 2015 e 2016

Na semana passada, o Inep (instituto do MEC responsável por estudos e avaliações educacionais) divulgou novos dados sobre o fluxo escolar de estudantes na educação básica. No meio dos números, uma notícia preocupante para o estado do Rio: de 2015 para 2016, o percentual de alunos que abandonaram o ensino médio na rede pública praticamente dobrou: foi de 4,5% para 8,5%.

O indicador de 2016 quebra uma tendência de quedas sucessivas desde 2008. Naquele ano, 17% dos alunos haviam abandonado o ensino médio na rede pública no estado, percentual que superava a média nacional de 14,3%. Desde então, tanto no Brasil quanto no Rio, essas taxas foram caindo, sendo que o ritmo de melhoria foi mais intenso no caso fluminense, a ponto de em 2015 a taxa do estado (de 4,5%) ter sido uma das menores do país, abaixo da média nacional de 7,8%.

A queda nos índices de abandono foi um dos fatores que levou o Rio a sair da vexaminosa posição de penúltimo lugar no ranking do Ideb em 2009 para o quinto lugar registrado em 2015 (apesar da melhoria, convém registrar que a média do estado foi de apenas 3,6, o que não deve ser motivo de comemoração). A desistência de alunos afeta o Ideb porque ele é um indicador que congrega taxas de aprovação com o aprendizado verificado em testes de português e matemática. Quanto mais alunos deixam de estudar ou são reprovados, consequentemente, menor será o percentual de aprovados. Se este indicador de abandono não for revertido agora em 2017 (ou, pior, se ele novamente aumentar), é muito provável que o estado volte a cair no ranking.

Obviamente, o que é preocupante neste caso não é a mera oscilação num índice oficial, mas o que isso representa. Numa rede com 450 mil estudantes, um percentual de 8,5% significa que quase 40 mil jovens abandonaram os estudos. Pela forma como o Inep calcula os dados, se esses estudantes que abandonaram a escola em 2016 não tiverem retomado os estudos neste ano, eles serão considerados evadidos do sistema, o que indica uma situação ainda mais grave.

A Secretaria de Estado de Educação disse que já no ano passado havia identificado o problema e orientado as escolas a fazer uma busca ativa dos alunos que abandonaram os estudos. Afirmou também que os dados de matrícula de 2017 indicam que o índice deve voltar a sua tendência de queda (a taxa de abandono só pode ser calculada ao final do ano letivo). Ainda segundo a secretaria, o motivo principal do aumento nesta taxa foram as greves e ocupações, que duraram mais de três meses no primeiro semestre do ano passado, levando muitos estudantes a desistirem de estudar naquele ano.

Longas greves e ocupações podem mesmo ter contribuído para o desengajamento de uma parcela dos jovens, mas isso obviamente não isenta o governo estadual de sua responsabilidade, ainda mais quando sabemos do notório quadro de descalabro nas contas públicas.

Entender as razões pelas quais alunos abandonaram as aulas no ano passado é importante, mas muito mais importante é agir para garantir que o número de jovens que abandonam os estudos volte a ficar cada vez mais próximo de zero.

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