
RIO- Professor e diretor presidente da Aliança Nacional LGBTI, Tony Reis é taxativo: "Há um setor da sociedade que saiu do armário: os conservadores." O ativista afirma que, embora as leis tenham avançado no sentido de garantir direitos para a população LGBT, o preconceito continua fazendo vítimas, sobretudo, nas escolas.
O cenário é preocupante no que diz respeito ao preconceito de gênero e orientação sexual na escola? Há muitos casos de violência?
Os marcos normativos da legislação são os melhores possíveis, no âmbito nacional e internacional. Mas a realidade nua e crua das escolas é o contrário. Eu me lembro, como gay, que me sentia inseguro, apanhei muito. Passou tanto tempo e eu vejo que as coisas continuam iguais, e com o aval de muitos legisladores que querem proibir a discussão de gênero nas escolas com argumentos que beiram a ignorância. Dizem que vamos ensinar as pessoas a serem gays. Não queremos ensinar ninguém a ser gay, queremos cidadãos que respeitem a diversidade.
Você disse que no aspecto legal estamos caminhando. O que falta para que esses casos parem de ocorrer?
Os professores precisam ter educação inicial. Sou professor e nunca ouvi falar sobre discussão de gênero e orientação sexual na minha formação. Se um professor não se sentir seguro e sensibilizado, não vai tratar do assunto. Uma pesquisa mostrou que 70% dos professores não sabem como lidar com essa questão, então eles silenciam os alunos sobre ela. Falta também material didático-pedagógico.
Como transpor essas questões? Estamos em um momento que favorece retrocessos?
Temos que lutar com todas as forças e processar o Estado. Há um setor da sociedade que não quer igualdade entre as pessoas. Há um setor da sociedade que saiu do armário: os conservadores. Mas nós não vamos voltar para o armário. Precisamos dialogar. Precisamos de posições mais flexíveis para chegar a um denominador comum.
As escolas estão preparadas para lidar com o preconceito? Qual sua opinião sobre a retirada de termos como “orientação sexual” da Base Nacional Comum?
Há poucas e raras exceções. Tem que ser ousado para quebrar o paradigma que prega que é natural ser homofóbico, machista, e cultural ser racista. Hoje os grandes problemas na sala de aula são o machismo, o racismo e a homofobia. Espero que o CNE veja que temos um problema, que a comunidade LGBT está sendo expulsa das escolas e ela precisa estudar.