Por Chico Regueira, RJ2


Estudantes da Maré enfrentam dificuldades para ter aulas on line

Estudantes da Maré enfrentam dificuldades para ter aulas on line

Uma pesquisa realizada com jovens estudantes do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, apontou que 3 em cada 4 alunos não têm computador em casa para acompanhar o ensino remoto implementado durante a pandemia de Covid-19.

O RJ2 teve acesso com exclusividade ao resultado do levantamento, que mostra que estudantes moradores de favelas do Rio não têm condições de acompanhar o ensino a distância.

A pesquisa foi realizada pela organização Redes da Maré com o apoio do Fundo Malala. Foram ouvidas 1.009 meninas estudantes de 6 a 17 anos. Todas são moradoras de uma das 16 favelas que formam o conjunto da Maré.

De acordo com os moradores, o sinal que chega na comunidade é de má qualidade e as famílias têm dificuldades para arcar com os custos. A dona de casa Jussiara Rosendo afirmou que seus dois filhos tiveram que interromper os estudos.

“A minha filha não está estudando por causa desse negócio de coronavírus e ficou muito difícil. A internet toda hora cai, está horrível mesmo o acesso. Está muito fraco. Tem hora que você não consegue se conectar. Meu filho também parou”, disse Jussiara.

Estudo nas favelas foi realizado através de celular, diz pesquisadora

De acordo com Andreia Martins, pesquisadora do Redes da Maré, o acesso do ensino online foi feito, basicamente, através de telefones celulares.

“O acesso foi basicamente feito através de telefone celular. O que a princípio, a gente tem mais de 60% que tem acesso a celular, ao dispositivo, ao aparelho e aos serviços de internet. Mas isso não quer dizer que essas crianças teriam sucesso no processo de aprendizagem”, afirmou Martins.

Estudante não conseguiu acompanhar aulas durante pandemia

A estudante Rebeca Vitória do Nascimento acabou o nono ano do ensino fundamental na rede municipal. Em 2020, ela afirmou que não conseguiu acompanhar os estudos do ensino médio.

“Não consegui. Nos 2 primeiros meses do ano eu frequentei a escola e consegui aprender. Mas depois que começaram a ser remotas e eu tive um pouco de dificuldade”, afirmou a estudante.

“Com certeza [me considero prejudicada]. Porque vai afetar agora o segundo ano se realmente voltarem. Se as aulas voltarem, como eu vou voltar e aprender tudo aquilo que não aprendi ano passado? Eles vão atropelar o ensino. Eu não aprendi coisas que tinha que aprender ano passado”, completou Rebeca.

O pai de Rebeca, Josias Gabriel do Nascimento, afirmou que o ensino online criou um muro e aumentou a desigualdade entre os que têm condições de estudar com equipamentos adequados e os alunos que não têm as ferramentas adequadas.

“Eu me senti totalmente impotente ao ver minha filha sem estudar e continuo com essa sensação, com tristeza (...) Eu acho que eles quiseram tapar sol com a peneira. A maioria não pode ter online. Então, está ensinando online para quem não tem online? E uma discrepância”, disse Josias.

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