14 livros e atividades sobre acolhimento para as crianças - PORVIR
Ilustração do livro "Achados e Perdidos", de Oliver Jeffers/Reprodução

Inovações em Educação

14 livros e atividades sobre acolhimento para as crianças

Pensando em falar sobre afeto em sala de aula? Confira essa lista exclusiva feita pelas especialistas Juliana Pádua e Regiane Boainain, com sugestões de atividades para cada uma das obras

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 21 de fevereiro de 2022

Voltar às aulas presenciais depois de um longo tempo de distanciamento social tem grande significado. Reencontrar os amigos e professores, estreitar novamente os laços afetivos… tudo ganha ainda mais força e intensidade após o isolamento causado pela pandemia. Na pauta dos educadores, certamente estão ações que provocam na criança as sensações de segurança, afeto e aconchego.

A literatura oferece uma série de possibilidades para identificar sentimentos e experiências, além de apoiar o acolhimento no ambiente escolar. Com essa proposta, o Porvir convidou as especialistas em literatura infantil Juliana Pádua S. Medeiros e Regiane Magalhães Boainain para uma curadoria exclusiva de livros, acompanhada de propostas para levá-los à sala de aula. “Preparamos uma lista com 14 obras literárias que oportunizam ao aluno encontrar, nas situações vividas por diferentes personagens, sentimentos próprios do humano”, explica Juliana, que também é consultora pedagógica e formadora de professores.

“Longe de pensar a literatura como motivo para um determinado fim, o que pretendemos é colocá-la no centro da sala de aula para que os estudantes possam se ver diante de alguma experiência, familiar ou não, para experimentá-la, conversar sobre ela e, quiçá, reelaborar os sentimentos a partir da arte. Cabe lembrar que as propostas sugeridas podem ser adaptadas, levando em conta o público, o tempo e o objetivo da aula”, reforça.

Palavra que abarca muito significados, acolhimento expressa a capacidade de demonstrar carinho e respeito com o outro, evidenciando alguém que se importa e está disposto a ouvir e amparar para criar vínculos de amizade, explicam as pesquisadoras. Prepare-se para acolher – e ser acolhido – com as sugestões abaixo (clique na seta amarela para visualizar todas as imagens):

Flicts: Edição comemorativa de 50 anos
Ziraldo (2019, Melhoramentos)

Flicts, personagem que dá nome a este livro ilustrado, é uma cor muito diferente de todas as outras e, por isso, não se encaixa em nada. De tão isolada que acaba ficando, parte em busca de uma jornada de autoconhecimento. O que será que descobre? Este livro majestoso de autoria do Ziraldo é uma boa escolha para conversar a respeito de solidão.

Sugestão para a aula: Para desencadear uma roda de diálogo sobre esse assunto, é possível criar alguns cartões pretos com um círculo colorido em um dos lados. Dentre a variedade de cores, precisa haver um cartão, apenas um, que tenha o círculo no tom meio bege. O aluno, que tirá-lo em sua vez, a partir da dinâmica escolhida pelo mediador, é convidado a relatar o seu jeito Flicts de ser ou a expor um exemplo de como uma pessoa conhecida ou não pode estar “flictsando” por aí. Será que alguém se identifica com a personagem? A proposta é acolher a diversidade de modos de existir e pensar, destacando que todo mundo tem um lado único e isso precisa ser visto como algo bom e não ruim.


A professora encantadora 
Márcio Vassallo e Ana Terra (2010, Abacatte)

Maísa é uma professora que, além de tudo, também ensina “a diminuir medos no coração, dividir silêncio na frente de uma beleza e multiplicar poesia no pensamento”. Ela é incrivelmente encantadora, como mostram Márcio Vassallo e Ana Terra neste livro tão delicado. Na escola, quem aceita ganhar o abraço dela, recebe um poema de presente.

Sugestão para a aula: Em tempos com protocolos de convivência, higiene e distanciamento para minimizar os riscos de transmissão da Covid-19, é preciso reinventar as formas de expressar o afeto e a boniteza da vida. À moda de Maísa, que tal brincar de suspiros poéticos com os estudantes? Funciona assim: em um pedaço de papel, cada aluno escreve um trecho do poema ou da música que toca o coração, mas também pode ser algo totalmente autoral. Então, coloca-se em um pote todos os escritos. No início de cada aula, um papelzinho suspirante é retirado e lido em voz alta. A proposta visa compartilhar palavras que abraçam e acolhem.


Todas as pessoas contam
Kristin Roskifte (2020, Companhia das Letrinhas)

Neste divertido livro de Kristin Roskifte, ricamente ilustrado, a palavra “contam” vai ganhando várias camadas de sentido a cada virar de página, o que proporciona ao leitor ser transportado para um universo (não só de números) onde as pessoas vão se juntando, somando experiências, partilhando suas histórias… Todas as vidas ali importam e a beleza de tudo está em perceber suas diferenças e suas semelhanças, bem como a maneira que vão se misturando.

Sugestão para a aula: Após a leitura, propõe-se a rotina de pensamento “3-2-1 Ponte”. Conhece? É assim: os alunos registram 3 palavras que vêm à mente quando pensam na leitura realizada, 2 perguntas sobre a obra e 1 comparação entre o que foi lido e a experiência de vida. Feito isso, trocam entre si e refletem sobre as impressões, os questionamentos e as relações elaboradas pelo outro. Em seguida, retornam para os seus próprios registros, debruçando-se sobre eles. Será que algo mudou após a troca de papel com o colega? A proposta é desenvolver a consciência de que há uma diversidade imensa de modos de pensar, ser, expressar, sentir… E todos importam, porque todas as pessoas contam.


Um abraço passo a passo
Tino Freitas e Jana Glatt  (2016, Panda Books)

Quem não gosta de um abraço, não é? Ainda mais se for naquela pessoa que nos sustenta e nos acolhe. Neste livro escrito por Tino Freitas e ilustrado por Jana Glatt, o leitor acompanha o passo a passo de um bebê que está aprendendo a andar. Esse ato é, sem dúvidas, uma das maiores conquistas no início da vida de todo ser humano e, por isso, tem de ser celebrado. Se lançar ao desconhecido, ter a coragem de se levantar mesmo depois da queda, manter-se de pé… São coisas que não podemos esquecer o quanto são importantes.

Sugestão para a aula: No atual contexto, em que os abraços estão sendo comedidos para evitar a transmissão da Covid-19, é preciso reinventar o jeito de expressar aquela vontade toda de correr ao encontro de quem se gosta e se amparar em seus braços. Por isso, sugere-se, após a leitura, convidar os alunos a pensar em formas de expressar, nas mais diversas linguagens, o que sente para aquela pessoa que lhe acompanha com ternura em sua caminhada. Quem será? Como fazer isso? A proposta é ir buscando, passo a passo, maneiras de retornar a um “normal”.


O gato e o escuro
Mia Couto e Marilda Castanha (2008, Companhia das Letrinhas)

O que acontece com o Pintalgato, quando ele ultrapassa a linha do pôr de algum sol e se depara com o escuro? O escritor moçambicano Mia Couto e a ilustradora brasileira Marilda Castanha, por meio de um diálogo afinado entre palavra e imagem, convidam o leitor a descobrir. Esta belíssima obra, que coloca em jogo reflexões sobre tolerância, autoafirmação, diferença, medo e coragem, dispara um exercício sensível e crítico sobre as fronteiras que separam as pessoas e as travessias necessárias para se chegar no outro.

Sugestão para a aula: Com o intuito de trazer essas discussões para sala de aula, sugere-se criar uma fila com os estudantes de olhos fechados, dispostos lado a lado, respeitando a distância mínima necessária. Da forma que preferir, o professor demarca uma espécie de linha bem próxima onde estão os alunos, então, diz uma palavra. Quem se identificar com aquele sentimento, dá um passo à frente em silêncio. Isso é repetido algumas vezes até que todos abrem os olhos e observam a caminhada feita rumo ao desconhecido. A proposta objetiva reconhecer o que passa dentro de si e encorajar a não temer o que está pela frente, acolhendo também as escuridões que ali habitam. Sem contar, é claro, que vai se esbarrar com alguém sentindo a mesma coisa ao longo do caminho.


Abaré 
Graça Lima (2009, Paulus)

Neste gracioso livro-imagem, cujo título significa “amigo” em tupi-guarani, Graça Lima apresenta uma personagem indígena que se (a)ventura pelo rio, pela mata e pelo céu da sua aldeia e vai percebendo que algo a aproxima das diferentes espécies do ecossistema. E sabe o que é? A amizade!

Sugestão para a aula: Com base nessa obra, sugere-se um exercício reflexivo com os alunos sobre o que há ao redor de nós e faz parte da rede de amizade. O semáforo? O jardineiro? O sol? Como e por que cada um dos itens, que venha a ser citado, tem um papel importante na nossa vida? A proposta é que se alargue o olhar para além dos amigos próximos, observando em que medida o mundo pode ser (com a nossa ajuda) um espaço de convívio generoso.


Claro, Cleusa. Claro, Clovis
Raquel Matsushita (2017, Editora do Brasil)

A autora e ilustradora Raquel Matsushita traz a história de duas formas geométricas, ou melhor, dois amigos que se completam, perfeitamente, a ponto de não abrirem espaço para mais ninguém. Mas um dia, Clóvis falta à escola e Cleusa se vê sozinha. Estaria ela mesma sozinha? Haveria abertura para fazer uma nova amizade? Como será o dia seguinte quando Clóvis voltar à escola?

Sugestão para a aula: Que tal, após a leitura e a conversa sobre essa obra cativante, brincar de produzir imagens usando apenas recortes com formas geométricas? A proposta é a criança produzir narrativas visuais, inspiradas nessas personagens, expressando, assim, aquilo que às vezes as palavras não conseguem dizer. A atividade é um convite para experimentar novas amizades e outras linguagens.


O coração de plástico 
Lido Loschi e Anita Prades (2020, ÔZé)

Esta obra de Lido Loschi e Anita Prades traz as indagações de um grupo de crianças diante da cirurgia cardíaca da tia. O que acontece quando alguém troca o coração? As memórias afetivas e os sentimentos vão embora com a retirada do órgão? O que será que cabe dentro de nós? As respostas “pueris” a tais perguntas dão o tom poético a esse livro tão sensível.

Sugestão para a aula: Após a leitura com os alunos, é hora de conversar sobre os afetos que cabem no peito. Este momento pode ocorrer de maneira lúdica a partir do preenchimento de um “coração” (que tal um balão?) com memórias das crianças. A proposta é cuidar dos nossos sentimentos e dos outros.


Às vezes 
Claudia Rueda (2013, Pensarte)

“Às vezes cai uma tempestade e não te molha e outras, uma brisa te derruba”. Essa dualidade, que marca o humano, é o mote da bela obra de Claudia Rueda. Que tal uma conversa sobre os sentimentos antagônicos que nos tomam e não são específicos de um único ser, mas de todos?

Sugestão para a aula: Sugere-se entregar aos alunos uma folha com duas molduras de espelho, a exemplo do próprio livro, e pedir para que eles escrevam um par de frases, seguido de uma ilustração dos sentimentos opostos que já experimentaram. Não há necessidade de identificação. A proposta é que os estudantes possam expressar o que estão sentindo e depois compartilhar com a turma a partir de uma exposição das produções no mural da sala de aula. Ao olharem para dentro e depois para as produções dos colegas, os alunos têm a oportunidade de se enxergarem como sujeitos que, às vezes, estão assim, mas, às vezes, estão de outro jeito.


Olavo 
Odilon Moraes (2018, Jujuba)

O belíssimo livro ilustrado por Odilon Moraes traz a história de um menino triste que, certa vez, é surpreendido por algo que o arrebata. Aquela alegria desprevenida muda a ordem do dia e uma fresta de felicidade sorri no semblante tristonho de Olavo. Mas um desassossego o tira da plenitude de um instante feliz e o garoto se vê novamente tomado pela tristeza. Mas, do lado de lá, alguém repara e prepara outras alegrias para ele. O que será?

Sugestão para a aula: A obra possibilita uma boa conversa com os alunos sobre ser/estar triste e ser/estar feliz. Após refletir sobre isso, os alunos podem também escrever e/ou desenhar um presente, uma coisinha à toa, capaz de ofertar um instante feliz ao colega.


O menino azul 
Cecília Meireles (2010, Global)

Escrito por Cecília Meireles e ilustrado por Elma, esta é uma terna obra poética que apresenta o desejo do menino azul em ter um bichinho. Não um gato, nem um cachorro. Mas um burrinho, que saiba conversar, inventar histórias e passear pelo mundo! Ao fim do poema, o leitor se depara com uma espécie de convite à interação: “(QUEM SOUBER DE UM BURRINHO DESSES, / PODE ESCREVER / PARA A RUA DAS CASAS, / NÚMERO DAS PORTAS, / AO MENINO AZUL QUE NÃO SABE LER)”.

Sugestão para a aula: Com o intuito de entrar no jogo lúdico do livro, propõe-se que os alunos façam cartinhas em uma linguagem que a personagem consiga entender, avisando ao menino azul sobre a existência de um burrico que possa lhe ser companheiro. Como será esse burrinho? A proposta é exercitar a empatia, o cuidado e a gentileza com o outro.


Achados e perdidos 
Oliver Jeffers (2011, Salamandra)

Este livro de Oliver Jeffers conta a saga de um menino que tenta ajudar um pinguim tristonho a voltar para casa. O esforço do garotinho para lhe devolver a alegria de viver o faz chegar ao Pólo Sul. Contudo, quando ele, de fato, consegue deixar a ave aquática em segurança no seu habitat natural, percebe que o pinguim estava ainda mais triste. Mas por quê? Teria a criança, então, cometido algum erro? Será que a tristeza inicial era mesmo porque estava perdido? Por meio da leitura, é possível refletir sobre o quanto o tempo passado juntos fez nascer uma grande amizade e, portanto, já não era mais possível ficarem separados.

Sugestão para a aula: Com o objetivo de afinar os vínculos entre os alunos, propõe-se que as crianças participem de uma espécie de amigo secreto, em que cada uma escreve ou desenha contando um pouco sobre isso (o que gosta, como vive etc.), mas sem dizer quem é. Então, após a troca dos papeizinhos, o colega precisa adivinhar de quem se trata. A proposta é (re)conhecer o outro, oportunizando aproximações entre aqueles que estavam distantes.


Obrigado
André Neves (2020, Pulo do Gato)

Quando é que dizemos obrigado? Por que fazemos isso? André Neves, neste belíssimo livro de poemas ilustrados, cria uma obra–homenagem-agradecimento aos autores que fundam a nossa tradição poética: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, João Cabral, Hilda Hilst, Cora Coralina, Patativa do Assaré, Manoel de Barros, entre outros.

Sugestão para a aula: Acreditando que ler poesia com os alunos é também uma forma de acolher, propõe-se um momento despretensioso, sem aquele faça isso ou faça aquilo, para que seja experimentada a delicadeza das palavras e das imagens presentes na obra em questão. A proposta é não só promover o acesso a uma produção de altíssima qualidade literária, que dialoga com tantas outras, mas garantir situações leitoras de puro deleite, pois a literatura é um direito humano que jamais pode ser negligenciado, como bem lembra o crítico literário Antonio Candido.


Exercícios para a imaginação
Tiago de Melo Andrade (2020, Melhoramentos)

“A imaginação tem o condão de mudar o mundo e nos levar também a outros mais”. Por acreditar tanto na força que a imaginação tem na vida das pessoas, Tiago de Melo Andrade constrói um incrível livro-atividade que convida o leitor a se divertir com brinquedos imaginários, a fantasiar olhos e bocas nos objetos de casa, a rememorar momentos felizes, a lembrar das sensações que uma chuva provoca, a conhecer uma receita de borboletas… Todos esses exercícios criativos garantem a manutenção de um veio poético, que alimenta a natureza humana.

Sugestão para a aula: A proposta é que os alunos, a partir da leitura interativa, brinquem de imaginar, pois acolher é também deixar a criatividade livre para vivenciar todo o seu estado de infância.


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educação infantil, ensino fundamental, literatura

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